GERAL

Supostos hackers davam golpes bancários pela internet

Contradições da Operação da PF expõem ministro da Justiça: “em um país sério, o investigado seria você”, ironiza editor do site The Intercept
Por Gilson Camargo / Publicado em 24 de julho de 2019
Leandro Demori, editor do The Intercept, a Moro: “Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta"

Foto: Alice Vergueiro/Abraji/ Divulgação

Leandro Demori, editor do The Intercept, a Moro: “Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta”

Foto: Alice Vergueiro/Abraji/ Divulgação

O jornalista Leandro Demori, editor do site The Intercept Brasil, rebateu as afirmações do ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, de que os supostos “hackers”, acusados de violar o celular do ministro, seriam responsáveis pelo conteúdo que vem sendo revelado pela série de reportagens #Vaza Jato, publicada desde o início de junho pelo portal de jornalismo investigativo e que tornou públicas as interferências de Moro quando ele era juiz da Operação Lava Jato.

Por meio da reprodução de mensagens de texto e áudios do aplicativo Telegram, as reportagens têm mostrado de maneira cada vez mais contundente as relações comprometedoras que o então juiz mantinha com o coordenador da Lava Jato no MPF, Deltan Dallagnol, com outros procuradores da força-tarefa.

Após a prisão de quatro pessoas acusadas de invasão de celulares de autoridades, em uma operação da Polícia Federal na terça-feira, 23, Moro afirmou nesta quarta-feira em sua conta no Twitter que os presos seriam “a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”.

Na mesma rede social, o editor do site, Leandro Demori, respondeu ao ministro: “Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende, vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, devolveu o jornalista.

Imagem: Twitter/ Reprodução

Imagem: Twitter/ Reprodução

ALERTA – Nos últimos dias, os editores do site The Intercept Brasil vinham alertando para uma reação de Moro, cada vez mais exposto pela divulgação das mensagens que demonstram a ingerência do ex-juiz sobre as investigações do MPF. “Essa semana é um divisor de águas na #VazaJato. Uma parte truculenta e sem escrúpulos das forças de ordem está tramando uma farsa e uma agressão contra a liberdade de imprensa no Brasil. Que o STF esteja atento”, anotou Demori em uma rede social no dia 15 de julho, mesma data em que o site alertava em seu editorial: “Apesar da abundância de provas da autenticidade do material, publicadas pelos diferentes veículos, diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto ‘hacker’, que supostamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a “confessar” ter enviado o material ao Intercept e que esse material teria sido adulterado”.

Os quatro suspeitos foram presos em caráter temporário nas cidades de Araraquara, capital nacional da laranja, e em São Paulo e Ribeirão Preto, no desfecho da Operação Spoofing, da Polícia Federal. “Só pra lembrar: nem tentem descredibilizar o arquivo. Não lutem contra os fatos, todos empilhados aqui”, com link para matéria com “as provas de que os chats são autênticos”, ironizou o editor após o anúncio das prisões.

Perfil de estelionatários

Em coletiva nesta quarta-feira, 24, o coordenador geral de Inteligência da PF, João Vianey Xavier Filho, afirmou que as investigações vêm sendo feitas desde abril e que “aparentemente, mil números telefônicos diferentes foram alvo desse mesmo modus operandi dessa quadrilha”. A PF apurou ainda que o grupo era especializado em fraudes bancárias por meio da internet. Na casa de um deles foram apreendidos cerca de R$ 100 mil em dinheiro. “O perfil dessas pessoas é de estelionato bancário eletrônico. Eles estão, em vários graus diferentes de envolvimento, de alguma forma ou de outra, vinculados a fraudes bancárias eletrônicas, praticadas mediante internet banking, mediante engenharia social com contato de possíveis vítimas e fraudes em cartões de crédito e débito”, disse Filho.

Entre os presos, um apoiador de Bolsonaro, outro de Lula

O DJ Gustavo Henrique Elias, preso em Araraquara como suspeito de hackear celular de Moro, é apoiador de Bolsonaro

Foto: Youtube/ Reprodução

O DJ Gustavo Henrique Elias, preso em Araraquara como suspeito de hackear celular de Moro, é apoiador de Bolsonaro

Foto: Youtube/ Reprodução

Menos de 24 horas depois das prisões, com a revelação pela imprensa das identidades dos presos inicialmente mantida em sigilo por determinação do ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, a Operação Spoofing começou a suscitar suspeitas.

Jornalistas da Revista Fórum apuraram que um dos supostos hackers de Araraquara “era apoiador fervoroso de Jair Bolsonaro, o que torna o caso no mínimo estranho, já que o hackeamento do celular de um ministro atingiria o governo que o suposto hacker apoia”.

A Fórum informou que entrevistas com moradores e uma análise das redes sociais de amigos e conhecidos de um dos presos, Gustavo Henrique Elias dos Santos, o DJ Guto Dubra, demonstram que sua posição política era conhecida na cidade. “Só coisas xingando Lula, Dilma, pedindo porte de arma”, disse um conhecido do DJ, referindo-se às postagens de Santos. A fonte qualificou o amigo como “muito bolsominion”.

Outro dos suspeitos presos, Walter Delgatti, o Vermelho, seria simpatizante do PT e crítico de Bolsonaro e, depois de 8 anos longe das redes sociais, voltou a usar as redes sociais com uma postagem pedindo a liberdade do ex-presidente Lula. Segundo a Polícia Federal, Vermelho e DJ Guto seriam integrantes de uma “organização criminosa” e atuavam em conjunto com outros dois presos na operação. “É estranho um cara desse, que só postava coisa de esquerda no Twitter, ser comparsa de um bolsominion”, questiona outra fonte ouvida pela revista.

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