JUSTIÇA

Corregedoria vai investigar palestras de Dallagnol

Procurador-chefe da Lava Jato articulou plano de negócios para lucrar com a fama e rede de contatos obtidos à frente da força-tarefa
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 16 de julho de 2019
Nas mensagens Dallagnol pede a Moro recursos da 13ª Vara para produção de um audiovisual: “Vc acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiculado na globo?”

Foto: MPF/ Divulgação

Nas mensagens Dallagnol pede a Moro recursos da 13ª Vara para produção de um audiovisual: “Vc acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiculado na globo?”

Foto: MPF/ Divulgação

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) acatou nesta terça-feira, 16, representação feita pelo Partido dos Trabalhadores que pede investigação sobre as conversas travadas entre os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba,  e Roberson Pozzobon, que foram tornadas pública em reportagem da série #VazaJato pelo jornal Folha de São Paulo em parceria com a agência de jornalismo investigativo The Intercept, que detém os arquivos secretos da Lava Jato.

Citando as mensagens que foram publicadas no domingo, 14, no jornal paulista e no The Intercept, o despacho do corregedor do CNMP, Orlando Rochadel Moreira, determina a instauração de reclamação disciplinar e dá prazo de dez dias para que os dois membros da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba se manifestem sobre o assunto.

A reportagem consorciada entre a Folha e The Intercept revela que Dallagnol e Pozzobon cogitaram a criação de uma empresa em nome de suas esposas para gerenciar um plano de negócios que envolvia palestras e eventos para, nas palavras do próprio coordenador da Lava Jato em Curitiba lucrar com a fama e “networking” decorrentes das investigações de casos de corrupção.

Há dois anos, diante da extensa agenda de Dallagnol, que se deslocava por todo o Brasil para participar de eventos como palestrante, os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) formalizaram pedido semelhante de investigação e viram o processo ser arquivado sob alegação de que as atividades do coordenador da força-tarefa da Lava Jato se enquadravam como atividades docentes, o que é permitido por lei.

Para o PT, as conversas entre Dallagnol e Pozzobon agora reveladas mostram que “o único objetivo era faturar – e muito – às custas da Lava Jato, embolsando a vultosas quantias”.

MENSAGENS

No dia 16 de janeiro de 2016, Deltan envia uma mensagem a Moro com um pedido realmente inusitado. Segue o diálogo, conforme o original:

13:32:56 Deltan – Vc acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiculado na globo?? A produtora está cobrando apenas custos de terceiros, o que daria uns 38 mil. Se achar ruim em algum aspecto, há alternativas que estamos avaliando, como crowdfunding e cotização entre as pessoas envolvidas na campanha.

13:32:56: Deltan – Segue o roteiro e o orçamento, caso queria [buscou escrever “queira”] olhar. O roteiro sofrerá alguma alteração ainda

13:32:56: Deltan – Avalie de modo absolutamente livre e se achar que pode de qq modo arranhar a imagem da LJ de alguma forma, nem nós queremos

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