O lobby da comida vazia

As contradições de um país que optou pelo modelo agrícola voltado para a produção e exportação, em detrimento da agricultura familiar que coloca comida saudável e a preço justo na mesa dos brasileiros, estão produzindo gerações de pessoas obesas, mal nutridas e adoecidas. Amparada por muita propaganda que induz principalmente os consumidores de baixa renda ao consumo quase inconsciente de alimentos vazios, fabricados à base de açúcares, conservantes e gorduras, a indústria de alimentos faz lobby para impedir a regulamentação da comida ultraprocessada. E se beneficia de isenções de impostos, que reduzem o custo de fabricação e fazem com que os produtos industrializados paguem até quatro vezes menos tributos que os alimentos orgânicos.

Diferentemente dos estímulos e privilégios governamentais concedidos ao agronegócio, a agricultura familiar vê minguar cada vez mais as políticas públicas de incentivo à produção e ao consumo de alimentos saudáveis.

Um exemplo é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o qual destinava produtos da agricultura familiar a comunidades vulneráveis e escolas públicas, e teve seu orçamento cortado de R$ 840 milhões em 2012 para R$ 60 milhões em 2020. Extinto e substituído pelo Alimenta Brasil, o programa recebeu apenas R$ 2 milhões em 2022.

O resultado já aparece na maioria das escolas de periferia país afora, onde a merenda escolar nutritiva e saudável vem sendo gradualmente substituída por biscoitos e preparados de sucos em pó devido à redução dos recursos destinados à merenda escolar. As desigualdades tributárias que impulsionam o consumo da comida que não alimenta e ainda precariza a saúde dos brasileiros são o destaque de capa desta edição.

Na entrevista do mês, o educador Hugo Ferreira, autor do livro A geração do quarto, faz um alerta a pais e professores: o isolamento e a fixação por morte que acomete grande parte das crianças e adolescentes são um pedido de socorro dos jovens. Ainda, os resultados e as projeções do primeiro turno das eleições no Brasil. No Chile, a rejeição ao texto da nova Constituição adia o fim do legado da ditadura militar.

Confira também nesta edição: Luis Fernando Verissimo, Marcos Rolim, Marco Weissheimer, Fraga, Edgar Vasques e Rafael Corrêa.

Boa leitura!