SAÚDE

OMS responde a Bolsonaro: as UTIs estão lotadas

Dirigente rebate declarações irresponsáveis do presidente brasileiro, que minimizou a gravidade da pandemia e criticou isolamento social. Pandemia já provocou mais de 20 mil mortes em todo o mundo
Por Gilson Camargo / Publicado em 25 de março de 2020
“Já estamos dizendo há meses: esse vírus é o inimigo público número um. É um vírus perigoso”, alertou Tedros Ghebreyesus

Foto: OMS/ Reprodução

“Já estamos dizendo há meses: esse vírus é o inimigo público número um. É um vírus perigoso”, alertou Tedros Ghebreyesus

Foto: OMS/ Reprodução

Questionado por jornalistas brasileiros, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, respondeu em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira às declarações de Jair Bolsonaro negando a gravidade da pandemia de coronavírus que já causou a morte de mais de 20 mil pessoas em todo o mundo e 48 no Brasil. Em cadeia de rádio e tevê na noite de terça-feira, o presidente brasileiro voltou a qualificar a pandemia de “gripezinha” e “histeria” e defendeu o fim do confinamento recomendado pela entidade para reduzir a velocidade do contágio. “Em muitos países, as UTIs estão lotadas e essa é uma doença muito séria”, reagiu Tedros.

O diretor-geral da OMS ressaltou que a responsabilidade de conter a pandemia de coronavírus é principalmente das lideranças políticas dos países. “Temos que fazer tudo para controlar esse vírus. É uma responsabilidade de todos, especialmente das lideranças políticas. As comunidades precisam se mobilizar para fazer a coisa certa e controlar essa pandemia”, alertou. “Já estamos dizendo há meses: esse vírus é o inimigo público número um. É um vírus perigoso”. O diretor executivo da OMS, Michael Ryan, afirmou que a prioridade é salvar vidas. “Nós também entendemos a situação terrível que os países enfrentam para proteger as economias e os sistemas sociais, mas temos que focar primeiro em parar essa doença e em salvar vidas”.

A OMS alertou sobre o risco do relaxamento de medidas restritivas contra o novo coronavírus cedo demais. Em muitos países, se tomaram “medidas sem precedentes com custos econômicos e sociais significativos”, o que dá pelo menos tempo para conter a expansão da pandemia. “A última coisa de que qualquer país precisa agora é reabrir escolas e negócios e ser forçado a fechá-los novamente por causa de um ressurgimento do vírus”, destaca Tedros. O dirigente salienta que “medidas agressivas para encontrar, isolar, testar e tratar casos são a maneira melhor e mais rápida” para abolir as restrições.

A Organização tem recomendado ainda o aumento da força de trabalho em saúde e saúde pública e a criação de “um sistema que permita encontrar todos os casos suspeitos”, bem como a preparação de instalações capazes de acolher doentes e conter o contágio de forma eficaz. Ghebreyesus reiterou ainda a recomendação para o aumento da produção e realização de testes da doença e para a criação de “um plano claro e um processo para colocar em quarentena” pessoas que tenham tido contato com o novo coronavírus.

DENÚNCIA – Em uma carta enviada ao diretor da OMS, a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados reiterou a denúncia feita no dia 15 contra Bolsonaro a entidades internacionais. No documento encaminhado também ao Relator Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o direito a saúde, Dainius Puras, os parlamentares pedem ajuda internacional para cobrar respostas do governo brasileiro e que a atitude do presidente seja desautorizada publicamente. Entre outros deputados, o texto é assinado por Fernanda Melchionna, Luiza Erundina, Glauber Braga, David Miranda, Ivan Valente e Marcelo Freixo.

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