POLÍTICA

Bolsonaro defende a volta à normalidade e é duramente criticado

Em rede nacional na noite desta terça-feira, 24, o presidente questiona fechamento das escolas e atribuiu à imprensa o que ele atribui de "histeria" social em função da pandemia de coronavírus
Por Flavio Ilha / Publicado em 24 de março de 2020

Foto: Reprodução Youtube

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A reação não podia ser pior, dada à baixíssima qualidade do conteúdo. Menos de uma hora depois de um pronunciamento em rede nacional do presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o vice-presidente, Antônio Anastasia, assinaram conjuntamente uma dura nota contra o discurso, que atacou as medidas de contenção ao novo coronavírus e, mais uma vez, minimizou os riscos da pandemia.

“Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19. Posição que está na contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria Organização Mundial da Saúde”, disseram os parlamentares.

Os senadores dizem reafirmar que não é o momento de atacar a imprensa e outros gestores públicos. “O país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. A nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade”, afirmam.

Foi apenas uma reação, a mais institucional, entre uma enxurrada de opiniões negativas diante de um discurso atribuído, entre outros adjetivos, a um “genocida”, a “um homem perturbado”, a um “carniceiro”. A última declaração foi do jornalista e blogueiro Ricardo Noblat, em uma rede social: “Quem falou há pouco ao país? Um presidente da República? Ou um carniceiro?”, escreveu.

Gripezinha

Não é para menos. O discurso de Bolsonaro foi considerado um desastre. Ele voltou a comparar a pandemia com uma “gripezinha”, questionou a suspensão das aulas para crianças e adolescentes e classificou as medidas de contenção como “terra arrasada” e “confinamento em massa”. Além disso, atacou a imprensa e acusou os jornalistas de estarem espalhando um clima de terror no país.

O ministro do Supremo Tribunal Fedearl (STF) Gilmar Mendes, também em uma rede social, afirmou que a pandemia exige solidariedade e corresponsabilidade. “A experiência internacional e as orientação da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez”, escreveu, sem se referir diretamente ao discurso do presidente.

O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues, disse que o presidente passou de todos os limites. “Não há precedentes no país de algo tão abjeto”, escreveu em uma rede social. Segundo o parlamentar, Bolsonaro “entrega o povo brasileiro ao caos”.

“Bolsonaro se torna responsável pelas mortes que acontecerem por conta do coronavírus com seu pronunciamento criminoso na noite desta terça-feira. Mentiu aos cidadãos, chamou a doença de gripezinha, atacou a imprensa e governadores. Não foi um discurso de estadista, mas de um genocida”, escreveu o também blogueiro Leonardo Sakamoto.

Durante o pronunciamento, houve panelaços em quase todas as capitais do país. A Covid-19 já registrou oficialmente 46 mortes no país e mais de 2.200 casos confirmados. Mas como a testagem dos pacientes tem se limitado apenas aos casos mais graves, especialistas acreditam que o número de infectados é muito maior.

João Amoedo, candidato à presidência pelo Novo manifestou no twitter “O pronunciamento do presidente é inaceitável. Temos um quadro muito grave e incerto pela frente. Ele deveria vir a publico amanhã, apresentar um plano, mostrar a gravidade da situação, demostrar equilíbrio e bom senso. Ou renunciar ao cargo”.

O presidente da Câmara foi mais lento na manifestação ao discurso de Bolsonaro. “Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública. O momento exige que o governo federal reconheça o esforço de todos – governadores, prefeitos e profissionais de saúde – e adote medidas objetivas de apoio emergencial para conter o vírus e aos empresários e empregados prejudicados pelo isolamento social”, escreveu no twitter. “Cabe aos brasileiros seguir as normas determinadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde em respeito aos idosos e a todos que estão em grupo de risco”, defendeu.

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