EDUCAÇÃO

As direções das escolas querem a Hora-Atividade

Cecília Farias Bujes / Publicado em 1 de julho de 2001

A Hora-Atividade, trabalho desenvolvido pelo professor, tem sido, no último período, o assunto mais falado nas escolas, especialmente, na sala de professores. Não raro às segundas-feiras, quando os professores relatam a quantidade de horas que passaram no final de semana planejando, corrigindo trabalhos, anotando observações para os alunos, registrando a avaliação e preparando novas atividades para a semana. Todo esse trabalho é esperado pelas direções das escolas, que pretendem que o acompanhamento da aprendizagem pelos alunos seja o mais próximo possível. Então, as direções querem a Hora-Atividade.

A Lei 9394/96 – LDBEN- dando maior autonomia às escolas, permitiu alterações na carga horária dos componentes curriculares e, em alguns casos, a eliminação de alguns, o acréscimo de outros. A implementação dos planos de estudo tem sido uma novidade e, para atender às alterações que surgem, os professores precisam planejar novamente o seu trabalho. Além disso, muitas vezes os coordenadores pedagógicos “oferecem” bibliografia para que os professores leiam em casa, a fim de participarem de debates nas reuniões pedagógicas. Mais uma tarefa do professor que se sente comprometido com a sua atividade e quer atender às expectativas da escola. As direções, então, querem a Hora-Atividade.

O professor precisa deixar os problemas em casa, mas leva os da escola para casa. Para não ser considerado “inapto”, procura resolver todos os incidentes de disciplina em sala de aula. Quando a situação fica realmente insustentável, encaminha o aluno para o serviço de orientação que, normalmente, faz o atendimento no horário em que eles estão em aula . Porém, a solução para os problemas acaba contando com a participação ativa do professor, já que é ele quem, de fato, convive com os alunos. Precisa, então, o professor pensar, buscar subsídios para enfrentar situações para as quais, muitas vezes, jamais foi preparado. As direções querem, então, a Hora-Atividade.

Todo o acompanhamento do aluno, no que diz respeito à avaliação, é registrado sistematicamente pelo professor. Ao final de um bimestre ou trimestre, ele preenche as listagens com os conceitos e faltas dos alunos para serem entregues à secretaria. Novamente um trabalho que é feito extraclasse, o que nos leva a entender que as direções querem a Hora-Atividade.

E o professor? Concorda com tudo isto. Sente-se responsável por todo o processo ensino-aprendizagem e todas as atividades que a ele são inerentes. Desenvolve um trabalho qualificado, implementa projetos especiais, oferece ao aluno aquela aula diferenciada, tudo planejado com interesse e dedicação. E não o faz somente porque é uma exigência da escola, mas porque sente-se envolvido com o projeto de educação que pode transformar a sociedade.

Mas esse persistente trabalho precisa ser remunerado. Se as direções sabem que ele existe e têm interesse em que seja qualificado e se é uma realidade imposta pela especificidade da função, a Hora-Atividade precisa concretamente ser reconhecida e paga pela escola. Essa antiga e tão renovada luta precisa deixar de ser uma bandeira somente dos professores. As direções precisam se engajar, deixando de investir tanto em prédios, fachadas, ginásios de esportes e começar a investir no professor.

E os pais dos alunos que, muitas vezes, privilegiam o pagamento da mensalidade escolar em detrimento de outros gastos? Precisam também participar desse projeto, pois, com certeza, esperam que o professor do seu filho seja o mais preparado possível .

Precisamos, pois, professores, direções e pais viabilizar a remuneração da Hora-Atividade, sob pena de o professor viver exclusivamente para o trabalho e deixar de viver experiências pessoais que, com certeza, fazem diferença, experiências que o torne verdadeiramente cidadão. Ou ouviremos mais freqüentemente histórias como a do professor que era convidado pelo filho a participar do campeonato de pipas. “Mas como, se o final de semana é o tempo que tenho para preparar a semana de aulas, corrigir, planejar?”. O convite veio de novo no outro ano e no outro, ainda no outro e a resposta era a mesma. Até que um dia, num momento de (in)consciência resolveu: “Hoje eu vou!”. Chamou o filho, mas ele já havia saído. Afinal, era incomum “meninos” soltarem pipas na faculdade!

* Professora, diretora do Sinpro/RS

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