CULTURA

Visitando o Sr. Autran

Jimi Joe / Publicado em 4 de abril de 2001

Paulo Autran passou pelo Rio Grande do Sul em março numa memorável temporada da peça Visitando o Sr. Green, texto do norte-americano Jeff Baron com direção de Elias Andreatto. Dividindo o palco com Cassio Scapin, Autran trouxe Sr. Green para uma temporada de um final de semana em Porto Alegre, no Theatro São Pedro. A peça acabou ficando três finais de semana em cartaz com lotação esgotada e cumpriu diversas datas no interior em cidades como Pelotas e Santa Maria. Em Porto Alegre, Autran, o autêntico Sr. Teatro, concedeu alguns minutos de atenção ao Extra Classe um pouco antes de entrar em cena para interpretar mais uma vez o texto do autor nova-iorquino. Conseguimos captar algumas impressões do ator:
A escolha dos autores: “Tenho montado várias coisas de autores brasileiros. Quando escolho um peça não me preocupo com a nacionalidade do seu autor. Se a peça é boa, eu levo independentemente do autor ser brasileiro, francês ou americano. Antes de Sr. Green fiz peças de Mauro Rasi e Maria Adelaide Amaral, dois autores contemporâneos brasileiros.”
A relação TV/teatro: “Acho que continua a mesma coisa (em relação aos anos 60). Os melhores atores de televisão, todos eles são de teatro, todos. Com exceção daquela menina, Glória… Glória Pires, essa nunca fez teatro e é uma boa atriz de televisão. Os outros todos fazem teatro, fizeram escola de teatro. Então a maioria é de teatro, os bons são de teatro.”
O teatro hoje: “Cada vez que você faz um bom espetáculo, em geral o público acorre. Outra coisa: quando eu comecei a fazer teatro, uma peça de sucesso ficava no máximo dois meses em cartaz. Atualmente fica 14, 15 anos como é o caso de Trair e Coçar É Só Começar ou Mistério de Irma Vap. O meu Quadrante estou fazendo há 12 anos e continuo fazendo entre uma peça e outra. O público continua aumentando cada vez mais.”
Teatro e repressão: “A censura é uma coisa terrível. Quando eu fazia Brasil & Companhia, me telefonou a bilheteira do teatro dizendo que a Polícia Federal havia fechado a bilheteria. Eu fui à Censura e a chefe da Censura estava com o texto na mão procurando algo desesperadamente e riscou um poema de Ferreira Gullar que tinha um verso assim: “Êta Brasil velho de guerra!”. Eu disse: “você riscou isso por quê?” Ela respondeu: “Não sei, não sei… Velho de guerra… Talvez eles achem que isso é ofensivo para o Brasil”. Era um verdadeiro absurdo. Acho que censura, enquanto tivermos um governo democrático, não vai voltar.”
As salas de espetáculo: “Nós temos alguns teatros bons. Este aqui, o São Pedro, é maravilhoso. Estive em Santa Maria e o Teatro 13 de Maio também é muito bem cuidado. O teatro da Bahia, o Teatro Castro Alves, está muito bem tratado. Agora, em geral, os teatros oficiais, o governo restaura, gasta uma fortuna e depois não dá um tostão pra trocar uma lâmpada. Então a partir da inauguração, o teatro começa a decair e ninguém faz nada.”
A relação com Gerald Thomas: “O Gerald me convida sempre para trabalhar com ele. Quando fiz Tartufo, em 1985, ele me viu e disse que queria trabalhar comigo. Desde então, cada vez que ele me vê, diz: “Vamos fazer uma peça juntos”. Agora ele tornou a me convidar em São Paulo. Só que me convidou para fazer Édipo Rei. Daí eu perguntei: “Mas Gerald, quem vai fazer minha mãe? A Henriqueta Brieba já morreu há muito tempo.” Daí ele diz: “Não, não precisa. Teatro é convenção”, aquelas idéias dele. É um grande diretor.”

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