CULTURA

Crônicas de um Brasil em transe

Por César Fraga / Publicado em 16 de dezembro de 2019
Vitor Necchi, professor, jornalista e escritor. laureado com os prêmio Minuano de Literatura e Ages - Livro do Ano, na categoria crônica com a obra 'Não existe mais dia seguinte'

Foto: Igor Sperotto

Vitor Necchi, professor, jornalista e escritor, laureado com os prêmios Minuano de Literatura e Ages – Livro do Ano, na categoria crônica com a obra ‘Não existe mais dia seguinte’

Foto: Igor Sperotto

“O texto do Vitor nos faz sentir as emoções que estão ora aparentes, ora escondidas entre as linhas e páginas da obra. Há domínio da técnica, e há uma experimentação sem medo. O autor, aliás, se joga ao público com os relatos mais profundos, em ato de extrema coragem. O resultado de tal entrega é um livro verdadeiro – não que carregue verdades sobre o mundo, mas sobre possibilidades de ser. Há aqui coerência, rigor, qualidade técnica e originalidade. Está claro que há suor, lágrimas, esperança e alegria também”. Foi com essa justificativa que o júri do Prêmio Minuano de Literatura, no começo de novembro, concedeu o troféu na categoria crônica, ao livro Não existe mais dia seguinte, do professor, jornalista e escritor Vitor Necchi. Livro, aliás, que já foi tema desta coluna por ocasião de seu lançamento, na edição de outubro de 2018. Trata-se do mais importante prêmio literário do estado, instituído pelo Instituto Estadual do Livro (IEL) em parceria com Instituto de Letras da Ufrgs. O livro também recebeu o Prêmio Ages – Livro do Ano, concedido pela Associação Gaúcha de Escritores, também na categoria crônica.

Para não se perder numa “onda de elogios e de vaidade”, quando fala do livro em eventos públicos ou entrevistas, Necchi faz questão de frisar que essas crônicas, de alguma maneira, prenunciaram muito do “horror que a gente está vivendo”– foram escritas entre 2002 e 2018. Há textos que referem à ascensão do discurso fascista, do episódio de censura ao Queer Museu, do clima de belicosidade e raiva que começou a pautar a política brasileira. “É necessária uma insurgência dos cronistas frente a esse horror todo. Vivemos num momento em que não consigo imaginar outra voz possível. O Verissimo disse num perfil que escrevi para o Extra Classe ‘que cronista tem de ter lado’, pois não existe isenção. Por isso, não consigo ver um outro posicionamento que não seja horror frente à degradação da vida política, da vida pública e a favor do papel do Estado no fomento da arte, como garantidor de direitos fundamentais, como os direitos humanos”, explica.

Vitor Necchi leciona no curso de Especialização em Escrita Criativa na Universidade Feevale; é doutorando em Letras (Ufrgs), mestre em Comunicação Social (PUCRS, 2004) e graduado em Jornalismo (Ufrgs, 1992). Atua como jornalista do governo do estado do Rio Grande do Sul. Foi professor do curso de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que coordenou de 2010 a 2012. Na Unisinos, foi idealizador e coordenador da graduação em Realização Audiovisual e professor do curso de Jornalismo e jornalista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

“Toda a minha trajetória de professor foi ligada à produção textual e ainda o é, tanto na universidade quanto nos cursos livres em que tenho me aventurado. Hoje, meu doutorado em Letras é no sentido de aprofundar o que eu busco da palavra. Na docência me dediquei ao texto jornalístico, e o jornalismo segue, apesar de insuficiente para o que eu quero da palavra. Nesse sentido, a literatura se apresenta como uma possibilidade”, conclui.

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