ECONOMIA

A taxa de juros atrapalha função social do BNDES, diz Mercadante

O país que tem uma das menores inflações tem a maior taxa de juros, afirmou o presidente do BNDES ao criticar a atual Selic, definida pelo Banco Central
Da Redação / Publicado em 20 de junho de 2023
A taxa de juros atrapalha função social do BNDES, diz Mercadante

Mercadante criticou o atual patamar dos juros e apontou as mudanças no cenário econômico que permitiriam uma redução da taxa Selic

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em paralelo aos protestos dos sindicatos em todo o país e à reunião do o Comitê de Política Monetária (Copom), em Brasília, o  presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, que é economista, aproveitou a deixa para criticar a política monetária do Banco Central, atualmente comandado por Eduardo Campos Neto (que deve ficar até o final de 2024).

Nesta terça-feira, 20, no Rio de Janeiro, Mercadante afirmou que  o nível atual da taxa Selic, de 13,75%, tornou-se um obstáculo à função social do BNDES e ao crédito em geral. Segundo ele, isso resulta na retração do crédito às empresas e no aumento de inadimplência das pessoas físicas e jurídicas. Ele criticou a Selic e apontou as mudanças no cenário econômico que permitiriam uma redução dos juros.

“O ambiente macroeconômico melhorou muito. Parabenizo aqui o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet e o governo. Esse novo marco de responsabilidade fiscal ajudou a que a taxa de juros no mercado futuro de longo prazo cedesse, o câmbio veio para R$ 4,70 ontem (19 de junho), a inflação desabou e o preço dos atacados desacelerando, mas estamos com uma taxa de juros crescendo em termos reais. Enquanto a inflação está caindo, a taxa de juros continua em 13,75%. O país que tem uma das menores inflações tem a maior taxa de juros”, afirmou na abertura da série de painéis Nosso Passado, Presente e Futuro, em comemoração aos 71 anos do BNDES.

Irônico,  Mercadante disse: “Não vou fazer pressão hoje. Vou fazer como fiz na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp ). Vamos dar uma salva de palmas para o presidente do Banco Central na expectativa do que virá esta semana no Copom. Ainda que não tenha grandes expectativas, vamos bater palmas para ele. Quem sabe a gente consegue sensibilizar?”.

Na visão do presidente do BNDES, esse banco precisa sempre pensar o Brasil e se adaptar aos novos desafios, cenários e missões. Acrescentou que o governo eleito democraticamente tem pela frente uma missão duríssima, depois de enfrentar um difícil processo eleitoral, quando “os dados de uso da máquina pública chegaram em um nível sem nenhum precedente na história da democracia”.

Aloízio Mercadante lembrou que foi eleito deputado federal em 1990, ano em que o ex-presidente Jair Bolsonaro também chegava à Câmara. De lá para cá, segundo afirmou, viu a formação da defesa coerente e sistemática do golpe, da ditadura e da censura no país, terminando com a última campanha eleitoral, na qual até o fechamento do Supremo Tribunal Federal foi defendido, além do posicionamento de tanques do Exército na frente do Palácio do Planalto para exigir que a eleição fosse feita em voto impresso e ainda o encontro do ex-presidente com embaixadores de diversos países, para, conforme relatou, “tentar deslegitimar o processo eleitoral”.

O destaque a este momento, de acordo com ele, era para reforçar a ideia de que a reconstrução da democracia no Brasil é uma tarefa difícil.

“Não é qualquer coisa reconstruir a democracia brasileira, preservar o estado democrático de direito, recuperar o prestígio do Supremo Tribunal Federal como instituição e do Executivo como gestor do país. Não é uma tarefa simples enfrentar essa parlamentarização do orçamento brasileiro, que retira do Executivo uma capacidade de ações coordenadas e estruturantes e uma mudança de padrão na governabilidade”, argumentou.

Para ele, nesse processo de reconstrução é preciso discutir o papel de um banco público no Brasil, seguindo exemplos de investimentos a empresas oferecidos por instituições semelhantes em países como os Estados Unidos, que liberaram US$ 20 bilhões para uma empresa de microprocessadores e a Alemanha, onde o financiamento ao hidrogênio verde tem taxa zero de juros.

Mercadante acentuou que o Brasil tem a matriz energética mais limpa dos países que compõem o G20 [grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia], com uma grande expertise em etanol para liderar o processo de transformação e energia sustentável. “Nós precisamos abrir os horizontes do debate neste país. Precisamos refletir com um pouco mais de pragmatismo e pé no chão o que é que estamos enfrentando e qual a concorrência que temos”, sinalizou.

Para Mercadante, um dos desafios do BNDES é garantir investimentos no combate aos efeitos da crise climática. Ele alertou que, com a chegada prevista do El Niño [fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico], a seca vai se agravar no Brasil e pode haver um impacto na safra com novos extremos climáticos na região sul.

“Temos um gigantesco caminho a percorrer para o Brasil contribuir com o enfrentamento da crise climática. Somos o país com maior diversidade do planeta, com a maior reserva de mata estratégica que é a floresta amazônica, além dos outros biomas. Essa pauta veio para ficar no BNDES e ficará”, finalizou.

Com informações da Agência Brasil

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