EDUCAÇÃO

Universidades comunitárias demitem na pandemia

Em algumas instituições gaúchas, os desligamentos ocorrem em meio às negociações de acordos coletivos para o período. Ulbra, Unisinos, Feevale e Unisc somam aproximadamente 300 dispensas de professores
Por Gilson Camargo / Publicado em 7 de agosto de 2020

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

As demissões de professores nos finais dos períodos letivos, uma prática recorrente na maior parte das instituições de ensino privado do estado desde antes da pandemia, aumentaram no final do primeiro semestre de 2020.

O período de exceção devido à crise sanitária, que impõe uma maior superação à categoria, é marcado pelos cortes de postos de trabalho e evidencia uma grave crise no setor.

Em algumas instituições, os desligamentos ocorrem em meio às negociações de Acordos Coletivos por instituição para o período. A Ulbra, Unisinos, Feevale e Unisc somam 276 dispensas. O Centro Universitário Cenecista (Unicnec), de Osório, desligou 19 dos seus 80 professores.

A crise financeira é uma realidade do setor privado de ensino que se agravou com a pandemia. As instituições já vinham num movimento de readaptação diante da queda no número de matrículas, inadimplência e migração de alunos para as instituições públicas. As restrições impostas pelo isolamento devido à Covid-19 agravaram o cenário e impuseram um apagão na educação do estado.

A estimativa do coordenador do coletivo de Instituições Comunitárias de Educação Superior (Ices) é de redução no número de créditos por aluno no segundo semestre. Oto Moerschbaecher não acredita que as instituições tenham uma grande perda de alunos, mas não afasta uma tendência de redução dos contratos de cinco para uma disciplina por semestre, em média. Ele sublinha que a maioria dos alunos das comunitárias é de profissionais liberais diretamente atingidos pela pandemia.

Uma pesquisa realizada pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) de 29 de junho a 3 de julho, com 163 escolas, sobre as consequências da pandemia, mostra que a inadimplência nas escolas particulares em maio foi de 19,6%, um aumento médio de 24,4% em relação ao ano passado.

Para o diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS), Marcos Fuhr, o mês de julho, marcado por um grande número de demissões nas maiores instituições, reflete a insegurança do setor em relação à redução de matrículas. “O Sindicato se empenhou em negociar Acordos Coletivos com várias instituições, inclusive com reduções salariais, na expectativa de reduzir o número de demitidos”, explica o dirigente.

FEEVALE – Depois de firmar Acordo Coletivo, aprovado em Assembleia de professores no dia 14 de julho, para a flexibilização da carga horária e manutenção dos empregos, a Feevale demitiu 22 professores.

UNISC – Estão agendadas para agosto 35 rescisões de docentes do ensino superior e da escola de educação básica

Ulbra vai dispensar 172 docentes e aposta em EaD

Uma das maiores universidades do estado e também a que enfrenta a maior crise institucional da sua história, a Ulbra vai demitir 172 professores em agosto. O passivo trabalhista da Aelbra, mantenedora da Ulbra, é de R$ 500 milhões e as dívidas tributárias chegam a R$ 5,8 bilhões. A Recuperação Judicial aprovada em dezembro garante condições especiais para a reestruturação financeira e a manutenção das atividades da Universidade e das escolas de educação básica. Em alguns casos, a crise financeira que atingiu em cheio o setor é agravada por problemas institucionais das universidades e suas mantenedoras anteriores à crise sanitária. “O caso da Ulbra tem a marca dessas duas circunstâncias”, confirma Fuhr.

A mantenedora informou que não irá se manifestar sobre as demissões “em respeito aos colaboradores desligados”. Já o vice-presidente jurídico da Aelbra, Rogério Malgarin, apontou “queda significativa de matrículas de alunos de 2019 para 2020, agravada pela pandemia para o segundo semestre de 2020”. Segundo ele, a Ulbra está fazendo uma readequação curricular das disciplinas, “ou seja, vamos adequar o curso com 40% de disciplinas em EaD”.

Unisinos: demissão em meio às negociações

Universidades comunitárias demitem na pandemia

Foto: Unisinos/Divulgação

Unininos, campus de São Leopoldo

Foto: Unisinos/Divulgação

As negociações com vistas a flexibilizações contratuais não impediram o corte de 38 docentes pela Unisinos. A redução significativa do quadro docente em meio às tratativas causou apreensão à Associação dos Docentes (Adunisinos) e ao Sindicato. “Lamentamos que a Unisinos tenha demorado em estabelecer negociações que pudessem evitar ou reduzir o número de demissões”, destaca Marcos Fuhr.

A Reitoria afirmou, em nota, que as demissões fazem parte de uma readequação face à crise financeira. “A diminuição do número de matrículas de estudantes no ensino superior, iniciada em 2015, foi agravada em 2020 pela pandemia de Covid-19”, diz o comunicado. Entre os 48 demitidos até agora, está a vice-presidente da Adunisinos.

Em carta aberta à comunidade, a entidade lamenta a “adoção de uma política institucional de precarização da empregabilidade, no auge da situação sociossanitária dramática” e manifesta “inconformidade e indignação pela demissão da vice-presidente”, a professora Sinara Santos Robin, que integrava a Comissão de Negociação Adunisinos/Sinpro/RS e Unisinos.

“O fato é gravíssimo, pois significa não somente a quebra da histórica relação de confiança mútua, mas da relação republicana entre a Universidade e a Associação dos Professores”. A Adunisinos afirmou ainda que a Universidade “se associa à política do imediatismo, às práticas e à ética do neoliberalismo, empobrecedor de vidas, de diversidades, de afetos e de pertencimentos”; pondera que “não é demitindo profissionais que se resolverão questões estruturais e conjunturais” e informa que decidiu se retirar do processo de negociação em curso.

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