POLÍTICA

Bancada ruralista do Rio Grande do Sul quer permanecer na Câmara

De comum, entre eles, está o trabalho por condenar e destilar preconceito aos movimentos sociais, índios, homossexuais e quilombolas
Por Igor Carvalho* / Publicado em 2 de outubro de 2018

Foto: Agência Câmara/Agência Brasil

Luiz Carlos Heinze (esq. para a dir) concorre ao Senado; Ana Amélia Lemos é vice do candidato a presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin; Jerônimo Goergen e Alceu Moreira concorrem à reeleição para a Câmara Federal

Foto: Agência Câmara/Agência Brasil

Dos 15 deputados federais gaúchos que integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), 14 tentarão a reeleição e um, Luiz Carlos Heinze (PP), buscará o Senado. Apenas Nelson Marchezan Júnior (PSDB) não disputa porque ocupa, atualmente, a Prefeitura de Porto Alegre. De comum, entre eles, está o trabalho por condenar e destilar preconceito aos movimentos sociais, enquanto tentam legislar para os seus próprios interesses.

Em 2013, um discurso de Heinze (PP) correu as redes sociais, quando definiu quilombolas, índios, gays e lésbicas como “tudo que não presta” e incentivou que os fazendeiros se armassem contra os movimentos sociais.

Luiz Carlos Heinze | Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados

Patrimônio de Luiz Carlos Heinze teve aumento de 419% de 2006 a 2018

Luiz Carlos Heinze | Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados

Enquanto ataca, Heinze procura legislar para seus próprios interesses. Fundador da Associação dos Arrozeiros de São Borja, o deputado federal quer alterar a regra que obriga a impressão do símbolo dos transgênicos nos produtos e já tentou isentar o arroz do pagamento de Programação de Integração Social (PIS) e de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Confins), enquanto aumentava a taxa para os importadores. Neste período como parlamentar, seu patrimônio vem crescendo. Em 2006, Heinze declarou possuir R$ 1,6 milhões em bens para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2018, o ruralista registrou R$ 8,3 milhões, aumento de 419%.

Companheiro de bancada de Heinze, Alceu Moreira (MDB) chamou, também em 2013, indígenas e camponeses de “vigaristas” e incentivou uma milícia contra eles. “Usem todo tipo de rede, todo mundo tem telefone, liguem um pro outro imediatamente, reúnam as verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário.” Fortemente ligado ao presidente Michel Temer, o emedebista iria receber, em 2014, R$ 100 mil do próprio Temer, mas o presidente foi multado porque já havia ultrapassado os 10% do seu patrimônio que podia ser gasto com campanhas. Assim, Alceu Moreira ganhou, oficialmente, metade: R$ 50 mil. No entanto, em maio de 2017, o deputado foi acusado de receber R$ 200 mil “em dinheiro vivo”, segundo delação do diretor da JBS, Ricardo Saud. Assim, como Heinz, a patrimônio de Moreira vem crescendo. Entre 2006 e 2018, o patrimônio de Moreira saltou 432%, saindo de R$ 488 mil para R$ 2,6 milhões, segundo declaração ao TSE.

Alceu Moreira | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Alceu Moreira incentivou uma milícia contra indígenas e camponeses

Alceu Moreira | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Outro empenhado adversário dos movimentos sociais entre os ruralistas gaúchos é o deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS). Até junho de 2016, ele havia apresentado 29 projetos de decreto legislativo suspendendo 826,6 mil hectares de áreas rurais para a reforma agrária e regularização de territórios indígenas e quilombolas. É também autor de um projeto que classifica o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) como grupos terroristas. Assim como Alceu Moreira, Goergen foi citado pelo diretor da JBS, Ricardo Saud, em depoimento à Polícia Federal e teria recebido R$ 100 mil em propina em setembro de 2014.

Jerônimo Goergen | Foto: Zeca Ribeiro/Agencia Câmara

Autor de projeto que classifica o MST e o MTST como grupos terroristas

Jerônimo Goergen | Foto: Zeca Ribeiro/Agencia Câmara

Autor de projeto que classifica o MST e o MTST como grupos terroristasQuando entrou para a política, em 2006, Goergen declarou ter em seu nome um carro popular e uma casa, somando R$ 211 mil de posses. Neste ano, observa-se um crescimento de 516% em seu patrimônio, que chegou a R$ 1,3 milhão em bens.

O empenho dos ruralistas gaúchos tem garantido resultados. Afinal, a vice-presidente escolhida pelo candidato Geraldo Alckmin (PSDB-SP) é uma das principais representantes do grupo, a senadora Ana Amélia. Trabalhando pelo agronegócio, a senadora é a defensora, entre outros setores, dos produtores de tabaco do Estado.

Veja na tabela quem são os outros candidatos gaúchos que fazem parte da bancada ruralista e tem assento na FPA:

Fonte: De olho nos rualistas

Fonte: De olho nos rualistas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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*De Olho nos Ruralistas em parceria com o Jornal Extra Classe

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