JUSTIÇA

Dallagnol será investigado pelo Conselho Nacional do MP

Conselheiros protocolaram pedido de apuração da conduta do procurador e de outros membros do MPF que participaram das conversas vazadas pelo Intercept
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de junho de 2019
Troca de mensagens mostra que Dallagnol e outros procuradores tentaram impedir entrevista de Lula à Folha: eles deixam claro que temem vitória eleitoral do candidato do PT, Fernando Haddad

Foto: MPF/ Divulgação

Troca de mensagens mostra que Dallagnol e outros procuradores tentaram impedir entrevista de Lula à Folha: eles deixam claro que temem vitória eleitoral do candidato do PT, Fernando Haddad

Foto: MPF/ Divulgação

Quatro conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) formalizaram nesta segunda-feira, 10, pedido formal de investigação das condutas do procurador Deltan Dallagnol e de outros integrantes do Ministério Público Federal envolvidos com o ex-juiz federal Sergio Moro no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. Antes do escândalo, Dallagnol era cotado no MPF como o mais forte candidato à sucessão de Raquel Dodge na Procuradoria Geral da República (PGR).

“Em primeiro lugar, precisamos verificar se o conteúdo (das mensagens divulgadas) é verdadeiro. Caso isso se confirme, o CNMP não pode deixar de examinar o assunto”, disse o conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello, ouvido pelo jornal Folha S. Paulo.

Quatro conselheiros assinaram pedido de investigação da conduta do procurador

Imagem: Reprodução

Quatro conselheiros assinaram pedido de investigação da conduta do procurador

Imagem: Reprodução

Nas gravações divulgadas no último domingo, 9, pelos portais The Intercept e The Intercept Brasil, Dallagnol aparece trocando informações com Moro, quando o atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro era o responsável pela Lava Jato em Curitiba. A interação, que envolve outros membros do MPF, configura-se em cooperação entre a parte acusatória e a parte julgadora, o que é vedado pela Constituição Brasileira. Tanto Moro quanto o MPF vêm dando declarações minimizando as acusações e negando que haja ilicitude nas conversas gravadas. No entanto, nenhum dos dois desmentiu o conteúdo. O episódio mais explícito de que houve um conluio entre procuradores e juiz é a tentativa de impedir uma entrevista do ex-presidente Lula antes das eleições de 3 de outubro.

Nas conversas divulgadas pelo Intercept, Dallagnol e outros procuradores aparecem buscando soluções para impedir a entrevista de Lula à jornalista Mônica Bergamo, da Folha e deixam claro que temem uma vitória eleitoral do candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, nas eleições de 2018.

A petição de abertura de investigação sobre o conteúdo do material divulgado com exclusividade pelo Intercept é assinada por Bandeira de Mello, Gustavo Rocha, Ercik Venâncio Lima do Nascimento e Leonardo Accioly da Silva. A corregedoria do CNMP ainda não se manifestou.

CRÍTICAS AO STF – Dallagnol já responde a um processo administrativo instaurado no dia 23 de abril para apurar manifestações do procurador sobre a decisão do STF de transferir processos de Curitiba para Brasília, durante entrevista à CBN em agosto de 2018. Ao comentar sobre a decisão da Segunda Turma do STF de transferir termos da colaboração premiada da Odebrecht da Justiça Federal no Paraná para a Justiça Federal e eleitoral no Distrito Federal, o procurador afirmou que ministros do STF agiam como “panelinha” e que a decisão de transferir os autos de comarca passava uma “mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”. “Os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que tiram tudo de Curitiba e mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os habeas corpus, que estão sempre se tornando uma panelinha assim… que mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”, queixou-se Dallagnol, de acordo com a transcrição da reclamação disciplinar apresentada contra ele no CNMP pela Corregedoria. Em 2 de abril, o Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) arquivou o inquérito administrativo aberto contra o procurador sobre o mesmo episódio.

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