JUSTIÇA

Dallagnol e Pozzobon: estratégias para ganhar dinheiro com a fama da Lava Jato

Em nova denúncia do jornal The Intercept e Folha de São Paulo, veiculada neste domingo, 14, os procuradores detalham a possibilidade de criar empresa utilizando suas respectivas esposas como laranjas.
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 14 de julho de 2019

Foto: MPF/Divulgação

Trecho mais delicado das conversas, extraídas do aplicativo Telegram, aponta que a ideia de Dallagnol e Pozzobon passava pela utilização de suas respectivas esposas como laranjas, para evitar questionamentos

Foto: MPF/Divulgação

O site de jornalismo The Intercept e o jornal Folha de São Paulo publicaram neste domingo, 14, mais uma etapa da série de reportagens, iniciadas em 9 de junho, com informações de conversas entre os procuradores da Lava Jato. Desta vez, o procurador Deltan Dallagnol discute seriamente com o também procurador Roberson Pozzobon a possibilidade de criar uma empresa e estratégias para arrecadar com palestras e cursos nas áreas jurídicas,  compliance e até motivacionais, no estilo auto-ajuda. Trecho mais delicado das conversas, extraídas do aplicativo Telegram, aponta que a ideia de Dallagnol e Pozzobon passava pela utilização de suas respectivas esposas como laranjas, para evitar questionamentos.

A lei proíbe que membros da magistratura e do Ministério Público gerenciem empresas, mas permite que sejam sócios ou acionistas de companhias. Apesar disso, os objetivos de não figurarem no quadro social da possível empresa, segundo a matéria assinada pelos jornalistas Flavio Ferreira, da Folha de São Paulo, e Amanda Audi e Leandro Demori, do The Intercept Brasil, seria evitar o levantamento de suspeitas.

“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, falou Deltan no grupo que criou com o outro integrante da força-tarefa.

Em março desse ano, sob fortes questionamentos da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares, Dallagnol amargou a suspensão das tratativas que estava fazendo com a Petrobrás para constituição de uma fundação anticorrupção. A iniciativa contava com a parceria do Departamento de Justiça americano e previa a reversão de 80% dos valores da multa paga pela estatal nos Estados Unidos para serem utilizados em iniciativas contra a corrupção por uma organização privada que deveria ser criada pelos membros da força tarefa Lava Jato de Curitiba.

Quantidade de palestras já chamava a atenção

Nos diálogos ainda revelados, Deltan se queixa das críticas que estaria recebendo de colegas por estar realizando uma série de palestras brasil afora. Segundo ele, as viagens deveriam ser encaradas como uma compensação, diante da perda financeira que estava tendo devido a sua dedicação à coordenação da força tarefa. Argumentou Dallagnon a um grupo de procuradores: “eu fazia itinerâncias e agora faria substituições. Enfim, acho bem justo e se reclamar quero discutir isso porque acho errado reclamar disso.

A intensidade de viagens de Dallagnol para realizar palestras pelo Brasil acabou sendo repercutida na imprensa e fez com que os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) pedissem a abertura de um procedimento disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público, que acabou sendo arquivado. O órgão entendeu na ocasião que as palestras se caracterizariam como atividade docente, o que é permitido por lei.

“As novas revelações sobre o comportamento de Dallagnol são “estarrecedoras”, afirmou o deputado Paulo Pimenta ao jornal Extra Classe. O deputado disse que várias pessoas ainda na manhã desse domingo lhe procuraram. “Quase todas me disseram que ficaram com o estômago embrulhado quando leram as trocas de mensagens entre o procurador Dallagnol, outros procuradores, seus familiares”.

Segundo Pimenta, a bancada do PT, diante dos novos fatos, vai voltar a cobrar das instâncias de fiscalização do MP que investigações sejam feitas sobre a probidade dos envolvidos no escândalo da Vaza Jato. “As pessoas que me procuraram já perceberam que a Lava Jato é um negócio, um grande negócio; que Dallagnol conversa, inclusive, com Sergio Moro e tudo gira em torno de como ganhar dinheiro com a Lava Jato. Como aproveitar a visibilidade, o networking do momento para palestras remuneradas”, fala indignado. O deputado ainda fulmina: “Eles são tão descarados que falam com outros procuradores e sugerem maneiras de ganhar dinheiro com as Unimeds, fazem contas da lucratividade do negócio, fazem projeções.

No entanto, para Pimenta, “o mais perverso é a prisão do Lula. A Lava Jato se tornou notória por prender Lula e manter Lula preso é a garantia da lucratividade. Agora mesmo o Moro, o Zucolotto e o procurador Carlos Fernando montaram uma empresa de palestras”, lembra.

Zucolotto citado pelo deputado Paulo Pimenta é Carlos Zucolotto Júnior, amigo pessoal de Sergio Moro, que dividiu escritório com a esposa do atual ministro de Jair Bolsonaro e é acusado pelo advogado Tacla Duran de ter se oferecido para mediar seu processo de delação premiada nas investigações que estavam sendo promovidas pelo Ministério Público Federal de Curitiba. Com cidadania espanhola, Duran se radicou na Espanha e, em sua defesa, tem apontado o que denuncia uma indústria de delações criada no Paraná para beneficiar um seleto grupo de advogados.

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