MOVIMENTO

Elite das universidades paulistas pede impeachment de Bolsonaro

Médicos, advogados e engenheiros oriundos das mais tradicionais instituições de ensino superior paulistas responsabilizam a conduta do presidente pelo colapso do país em várias frentes
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 25 de janeiro de 2021
Manifestação de alunos da USP contra cortes de verbas na educação, em 2019

Foto: Cecília Bastos/ Jornal da USP/ Arquivo

Manifestação de alunos da USP contra cortes de verbas na educação, em 2019

Foto: Cecília Bastos/ Jornal da USP/ Arquivo

Cresce em São Paulo movimento de ex-alunos de faculdades de ponta que estão pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. São médicos, advogados e engenheiros das mais tradicionais instituições de ensino superior que estão se mobilizando para se somar aos panelaços e carreatas promovidas iniciadas nesse final de semana em todo o país.

Em comum a essa elite de profissionais graduados, a responsabilização de Bolsonaro pela falta de políticas de combate à pandemia. Eles são unânimes ao considerar desastrosa a conduta do presidente em várias frentes – indiferença à pandemia que já causou a morte de mais de 217 mil pessoas, cortes nos investimentos em tecnologia, degradação do meio ambiente, desprezo pela ciência.

Manifestos de médicos

1968: Passeata de estudantes em São Paulo contra os acordos MEC-Usaid

Foto: Memorial da Democracia

1968: Passeata de estudantes em São Paulo contra os acordos MEC-Usaid

Foto: Memorial da Democracia

Na última quarta-feira, 20, estudantes oriundos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a “Casa de Arnaldo”, encaminharam carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

No documento, os médicos formados pela USP classificaram o enfrentamento da Covid-19 pelo governo federal como uma “condução inepta, irresponsável e criminosa”.

Ao todo, até o envio, 700 profissionais assinaram o manifesto que foi intitulado Descaso com a vida. Em nota, a Associação dos Antigos Alunos da instituição (Aaafmusp) informou que não é idealizadora da Carta do Impeachment que circula nas redes sociais.

“Em defesa da saúde e da vida de nosso povo, entendemos que é preciso exigir do presidente da Câmara dos Deputados a imediata abertura do processo de impedimento do Sr. Jair Messias Bolsonaro, dentro das normas legais e constitucionais por crime de responsabilidade e prevaricação. É preciso dar um basta ao descaso deste governo. Basta! Em defesa do SUS! Em defesa da vida! Pela imediata abertura do processo de impeachment!”, diz a carta.

Já médicos que estudaram na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) iniciaram um abaixo-assinado que contabilizou até esse fim de semana mais de 400 assinaturas. A petição acusa diretamente o presidente por crime de responsabilidade.

Advogados e engenheiros

Assembleia de alunos da USP durante a greve geral de 2011

Foto: USP Memória/ Divulgação

Assembleia de alunos da USP durante a greve geral de 2011

Foto: USP Memória/ Divulgação

A tradicional Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, não ficou de fora. Manifesto de advogados graduados nos bancos por onde passaram presidentes da República, governadores, ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal (STF) arregimentou mais de 1.450 assinaturas. Entre os que assinaram a petição estão nomes como Dora Cavalcanti, Igor Tamasauskas, Pierpaolo Bottini, Aloísio Lacerda Medeiros e os professores Sebastião Tojal e Helena Lobo.

“Precisamos repetir para entendermos a gravidade da situação: nosso Ministério da Saúde, contrariando a ciência, o bom senso, o dever de nos prover de proteção, foi repreendido publicamente por faltar à verdade com um país assolado com mais de 200 mil oficialmente mortos por Covid. Mentiu para agradar o líder de uma turba de genocidas que acabaram alçados a dirigentes do nosso país numa das piores trapaças da história”, dizem em trecho do manifesto.

O ritmo é mais acelerado entre engenheiros formados pela Escola Politécnica da USP. Em menos de cinco horas, os organizadores conseguiram mil adesões para o manifesto que condena cortes nos investimentos em tecnologia, a degradação do meio ambiente. Os engenheiros que se intitulam “politécnicos” afirma que a pandemia da covid-19 escancarou o desprezo à ciência e ao papel do Estado como gestor de crises.

Eles defendem ainda recursos financeiros para auxiliar a população mais pobre, pedem isolamento social e a ampla vacinação contra o coronavírus. O documento tem a expectativa de reunir 5 mil assinaturas e relaciona uma somatória de crimes de responsabilidades cometidas por Bolsonaro.

Para os formados pela Politécnica, as medidas necessárias para tirar o país da crise que eles apontam não serão possíveis enquanto um presidente da República age no sentido oposto.

Comentários