MOVIMENTO

Mulheres ocuparam a capital gaúcha no 8 de março

Dia Internacional da Mulher em Porto Alegre reuniu feministas e movimentos sociais e populares nas manifestações, atos, caminhada e ações de solidariedade
Da Redação / Publicado em 9 de março de 2022

Movimento na capital gaúcha chamou a atenção para as pautas das mulheres: contra a violência, por direitos e protagonismo

Foto: Carolina Lima / CUT-RS

O 8 de Março – oficializado pela Organização das Nações Unidas nos anos 1970 como o Dia Internacional das Mulheres – foi marcado por manifestações, ações de solidariedade, atos e uma grande caminhada no centro de Porto Alegre. O movimento foi organizado em conjunto pelas centrais sindicais e movimentos feministas, sociais e populares.

Criado em 1921 e reconhecido somente após uma manifestação de mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho em 8 de março de 1917, o 8M na capital gaúcha foi celebrado sob o tema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome” e contou com a participação de milhares de mulheres.

A data foi também celebrada no interior do estado, com atos em Bagé, Caxias do Sul, Rio Grande, Pelotas, Santa Maria e São Leopoldo, dentre outras cidades.

A secretária-geral da CUT-RS, Vitalina Gonçalves, foi uma das coordenadoras da programação na capital. Ela denunciou a continuidade da violência de gênero, citando que “96 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2021”. Segundo a dirigente, “os governos negacionistas do prefeito Sebastião Melo (MDB), do governador Eduardo Leite (PSDB), que sucateia e acabou com o Conselho Estadual das Mulheres, o do presidente Jair Bolsonaro (PL), que incentiva todos os dias que nossas vidas sejam ceifadas e nossos corpos tombem”.

Agricultoras

No início da manhã, mais de 200 agricultores familiares e camponesas ocuparam o pátio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, no bairro Menino Deus. Elas cobraram dos governos estadual e federal medidas concretas contra os impactos da estiagem no estado.

Diante da pressão, uma comitiva de 10 mulheres será recebida, na manhã desta quarta-feira, 9, pela secretária da Agricultura, Silvana Covatti. À tarde, as mulheres do MST doaram cerca de quatro toneladas de alimentos para cozinhas comunitárias de Porto Alegre.

Solidariedade

Ainda pela manhã teve um café reforçado com bolo para as mulheres que trabalham em cinco galpões de reciclagem, na periferia de Porto Alegre, fortalecendo a solidariedade e o projeto CUT com Comunidade, organizado após o começo da pandemia pela central com a parceria de vários sindicatos e o apoio da Cresol.

“Ouvimos histórias dessas guerreiras e trabalhadoras, que tiram o sustento de seus filhos através da reciclagem. Queremos dignidade e valorização para essas mulheres no trabalho”, afirmou a secretária de Formação da CUT-RS, Maria Helena Oliveira.

Elza Soares

A Tenda Elza Soares, instalada no Largo Glênio Peres em homenagem à cantora recentemente falecida, foi palco de rodas de conversas, testemunhos de mulheres e apresentações culturais.

Entre os temas discutidos, estavam o “Combate à fome e à miséria com trabalho digno no campo e na cidade”, “Defesa da democracia, controle social e participação popular na defesa das políticas públicas” e “Combate à violência de gênero, política, racismo estrutural, LGBTfobia e feminicídio”.

Resistência

Para a deputada federal Maria do Rosário (PT), “num governo do ódio e da destruição, o que nós temos é um ataque à nossa participação política. O 8 de março tem que significar que nós tomamos as ruas. Hoje estou junto com as mulheres de luta da minha Porto Alegre, na mobilização pela justiça social e pela democracia”.

“O 8 de março de 2022 vai ficar registrado como um dia de resistência contra o fascismo, o bolsonarismo e todas as formas de ataque à vida que vêm acontecendo no Brasil ao longo dos últimos anos. Estamos aqui resistindo e, ao mesmo tempo, querendo com todas as nossas forças que esse governo Bolsonaro acabe”, enfatizou a parlamentar.

A rapper Negra Jaque apresentou “Maria Madalena”, música composta em homenagem à mãe, vítima de câncer. “A minha mãe foi a minha primeira referência de feminismo. Desde pequenininha, ela me ensinou: ‘Jaque, estude, trabalhe, para não limpar a bunda de brancos’. Minha mãe sempre foi a minha estrutura. Perder ela para uma doença tão comum entre mulheres pobres, mulheres pretas, que é o câncer, é muito dolorido”, desabafou.

Para a artista, o 8 de março é um dia de reunião com a sociedade. “É um dia que a gente diz para a sociedade que a gente ainda luta, que ainda estamos vivas e que a gente faz isso todos os dias. As mulheres que estão na luta, que são feministas e que estão nos movimentos populares, fazem isso todos os dias desde a hora em que elas acordam”, explicou.

Violência

No final do dia, o movimento depositou cruzes na escadaria do Paço Municipal em memória das vítimas de feminicídio

Foto: Carolina Lima / CUT-RS

A violência na política dominou os depoimentos da última troca de conversas, que contou com a participação da deputada estadual Sofia Cavedon (PT), das vereadoras Laura Sito (PT), Palmira Fontoura (PT), Daiana Santos (PCdoB), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Natasha Ferreira (PSol). Também falou a vereadora Maria Eunice (PT), de Canoas.

Sofia destacou que “desde pequeninas, as meninas são conformadas para determinado grupo de profissões e áreas de atuação. Ali começa a violência política contra as mulheres, sendo negados os espaços de desenvolvimento intelectual. Por isso, somos apenas 10% dos parlamentos”. Ela frisou que “é preciso interromper essa reprodução da desigualdade”.

Bruna reforçou que a data marca a luta pela dignidade das mulheres. Segundo ela, é um 8 de março que antecede a derrota de Bolsonaro. “É um dia que marca essa batalha central contra esse projeto que escolheu nos matar. Eu tenho enfrentado na Câmara Municipal a violência política de gênero de forma constante, inclusive, eu entrei com uma medida judicial contra um vereador bolsonarista. Nós não vamos compactuar com esse projeto violento que tira a chance da gente se desenvolver e de pautar o que é fundamental para a nossa existência, para a nossa vida.”

Direito à água

Houve também protestos contra o prefeito Sebastião Melo (MDB) diante da falta d’água em vários bairros da capital, sob a palavra de ordem “Água é direito, não é mercadoria”. Durante o ato, mulheres moradoras do Morro da Cruz fizeram relatos sobre a falta de abastecimento. Desde o começo do ano, a região que tem cerca de 100 mil habitantes enfrenta cortes no abastecimento.

“Estamos com um ônibus cheio de mulheres. A gente veio lutar pelos nossos direitos, principalmente pela questão da falta d’água. Tem famílias há mais de 60 dias sem água no Morro da Cruz”, relatou Ângela Comunal, moradora do bairro há 30 anos.

Em uma ação do Levante Popular da Juventude, os manifestantes despejaram água suja no Largo para denunciar a péssima qualidade da água que chega nas torneiras das periferias.

“A luta por água hoje é mundial. O agronegócio está tirando uma das coisas mais importantes para se viver. Essa é uma das lutas centrais das mulheres”, afirmou representante da Marcha Mundial das Mulheres, Maria do Carmo.

#EleNão

A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, Ana Cruz, enfatizou: “não queremos mais esses retrocessos que estão acabando com as nossas vidas”. As mulheres, pautou, “estão morrendo por falta de políticas públicas e nós vamos mostrar nas urnas quem a gente quer que nos defenda, nos proteja e tenha políticas públicas para as mulheres”.

“Estamos na rua para reafirmar a luta das mulheres. Nesse ano temos o grande desafio de derrotar Bolsonaro, fazendo com que a potência da luta do #EleNão, maior protesto feminista da nossa história, seja direcionada para o enfrentamento ao autoritarismo”, anunciou a deputada federal Fernanda Melchiona (PSol).

A caminhada iniciada em frente à Prefeitura fez uma parada na Esquina Democrática, onde se manifestaram várias representações de movimentos feministas e populares. Também estiveram presentes a deputada estadual Luciana Genro (PSol) e o deputado estadual Edegar Pretto (PT).

Os protestos contra Bolsonaro foram constantes, com citações ao movimento “Ele Não”, criado durante a campanha eleitoral de 2018. “Bolsonaro nunca mais” era repetido em quase todos os discursos.

Machismo, racismo, desemprego e violência contra as mulheres foram denunciados pelas mulheres, que pediram mais saúde e educação.

Houve seguidas referências à vereadora carioca Marielle Franco (PSol), cujo assassinato completa quatro anos no próximo dia 14 e até hoje não se sabe quem mandou matá-la. A guerra na Ucrânia também foi lembrada, com faixas de protesto.

A vereadora suplente Aline Kerber (PSol), que assumiu mandato na Câmara, usou o microfone para defender uma escola democrática, plural e laica. Ex-presidente do Associação Mães e Pais pela Democracia, ela denunciou a agressão sofrida nos últimos dias, quando outro vereador expôs a imagem de seu filho de apenas 2 anos. “Não vão nos calar!”

Por volta das 19h30, as mulheres retomaram a caminhada até a Cidade Baixa. Desta vez, porém, a marcha não terminou no Largo Zumbi dos Palmares, onde estava sendo realizada uma feira de alimentos da agricultura familiar, mas sim no Largo dos Açorianos, que fica quase em frente, ao som da bateria da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina.

Com informações da CUT-RS.

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