OPINIÃO

Educar para não desistir

Por Alfredo Barros * / Publicado em 10 de junho de 2012

Quem nunca viveu isso alguma vez na vida. Estamos diante de uma situação nova, um desafio, e… travamos. Por que isso acontece? É como as armadilhas do filme Indiana Jones, quando o herói pisa no quarto que guarda o tesouro sagrado. As engrenagens se mexem, a terra treme e tudo vem abaixo. A sensação é de surpresa e aflição. Lembra quando você esqueceu a chave na ignição do carro e o trancou pelo lado de fora? É parecido com isso. Ondas de calafrio, uma química perversa se espalha pelo sangue, um coquetel de toxinas que envenena e entorpece.

A tragédia é que esse travamento é absolutamente normal e faz parte do processo de raciocínio e desenvolvimento das articulações neuronais. O cérebro percebe que lhe falta “musculatura” e se protege de uma estafa desnecessária, dando início a uma reforma no “hardware”. Quando a família cresce e precisamos de mais espaço, acontece a mesma coisa. Acrescentar um quarto ou um puxadinho significa tolerar um período de obras debaixo do nariz. Um tempo em que aquela parte da casa ficará inabitável.

Se levantamos mais peso do que um músculo permite, podemos ter problemas de rompimento de ligamentos ou distensões musculares. Para isso há um treinamento, uma curva de aprendizado que precisa ser seguida na velocidade que nossa estrutura permite. Então, não caia no erro de achar que seu hardware veio com defeito. Não. Não tem nada a ver com isso. Um carro não anda sem gasolina, um músculo não vem pronto para levantar 100 quilos. Não adianta exigir que um aluno resolva o teorema de Pitágoras na primeira série. Isso causaria lesões em sua autoestima que poderiam comprometer o processo normal de desenvolvimento intelectual, gerando sentimentos nocivos, raciocínios equivocados, equações cujos resultados são a impotência e improdutividade. Muitos adultos viveram esse sentimento na infância, e hoje disparam suas armadilhas bem antes de entrar no quarto sagrado, na arena dos desafios. Passam a procrastinar e desistir. Transformam-se em indivíduos frustrados e infelizes.

Por isso, caro professor, cuide bem da semente que está plantando. Mas cuide ainda mais do solo que a recebe, para que ele permaneça cada vez mais fértil e saudável, pronto para as reformas que a vida há de impor no caminho rumo aos tesouros da sabedoria.

*Montador cinematográfico, professor de Produção de Imagem no curso de
Publicidade da ESPM e da disciplina Montagem Cinematográfica III na Escola
Sul-americana de Cinema e TV do Paraná (CINETVPR)

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