OPINIÃO

Militares e o poder

Destaques da edição
Da Redação / Publicado em 15 de julho de 2021

Capa: Reprodução

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As relações dos militares com a sociedade civil em uma perspectiva histórica e o papel das Forças Armadas no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) são o amplo tema da entrevista do mês, com o professor Paulo Ribeiro Cunha, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp) e livre docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Marília). As Forças Armadas devem pedir desculpas à nação pelo período ditatorial e é necessário separar a instituição dos seus torturadores, propõe Cunha. “Quando isso acontecer, a memória será enterrada e o episódio vira história.”

Autor de Militares e militância: Uma relação dialeticamente conflituosa (Ed. Unesp, 484 p., 2021), recém-lançado em segunda edição, entre outros livros referenciais sobre militarismo e democracia, Cunha, que foi consultor da Comissão Nacional da Verdade para assuntos militares, defende que quadros das três armas participem da vida política do país, embora reconheça o estrago que representou para a sociedade, em um passado recente, o comando do Brasil nas mãos de generais durante os anos de chumbo.

Recentemente, sob a caneta do general Eduardo Pazuello, o país teve uma amostra de ineficiência com contornos de corrupção. “Não é um militar que vai resolver os problemas do país”, constata o entrevistado ao afirmar que a gestão de Pazuello no Ministério da Saúde “enterrou de vez aquela concepção de que os militares são ótimos gestores”. Para que não restem dúvidas sobre sua tese, Cunha esclarece: “Os militares têm o direito de participar da política e, aliás, historicamente sempre participaram. Porém, uma coisa é o direito de participar e outra é partidarizar a instituição, como Bolsonaro tem tentado fazer com membros das Forças Armadas”.

Crescimento para quem?

Uma tendência de melhora dos indicadores de crescimento econômico vem animando o mercado financeiro e a equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes. Porém, essa suposta reação oculta um PIB sem geração de empregos e preços cada vez mais fora de controle, aspectos que castigam com inflação as camadas que já gastam a maior parte da renda com alimentos. Trocando em miúdos, a economia cresce, mas os setores que geram empregos não participam da festa. Enquanto isso, a concentração de renda aumentou, e a condição econômica piorou para a maioria da população. Como dizia o general Médici nos anos 1970: “A economia vai bem, mas o povo vai mal”.

Direitos humanos

Marco histórico dos direitos humanos no país, o Programa Nacional de Direitos Humanos pode ser transfigurado pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que, sob o comando da ministra Damares Alves, está fazendo uma revisão das políticas de proteção de minorias contra violações de direitos básicos. Em sintonia com o desprezo dispensado pelo presidente Bolsonaro e seus filhos aos direitos humanos, a “revisão” encomendada à ministra dispensa a transparência, o diálogo ou consensos, exclui comunidades envolvidas e especialistas e sinaliza com o desmonte do status de política pública conquistado nas últimas décadas. Esses são os destaques desta edição – que em virtude da pandemia não foi impresso, mas publicado nas versões PDF, Flip e on-line.

Confira também: Arte Mais, Fraga, Verissimo, Weissheimer, Edgar Vasques, Rafael Corrêa, Rafael Sica, Santiago.

Boa leitura!

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