OPINIÃO

Esportes

Por Luis Fernando Verissimo / Publicado em 21 de março de 2023

Ilustração: Edgar Vasques

Ilustração: Edgar Vasques

Quase todos os esportes tiveram sua origem em algum tipo de brincadeira de infância, mesmo que a “infância”, no caso, fosse da Humanidade. O futebol começou na pré-história, na primeira vez que um pré-brasileiro fez embaixada com o crânio de um inimigo.

Você pode identificar o provável começo de todas as modalidades olímpicas nas coisas que gosta de fazer quando garoto – como arremesso de pedras contra vidraça de vizinho e corrida de fundo para fugir do vizinho – ou então na História: o salto com vara, por exemplo, certamente começou no sítio a cidades fortificadas, depois de decidirem que atirar javalis, martelos e discos por cima do muro não estava dando resultado.

Os homens das cavernas praticavam uma forma primitiva de “rúgbi” – igual ao que é hoje, mas sem sunga – e nos tempos bíblicos, já existiam raquetes de tênis com as quais as pessoas se golpeavam alternadamente, até alguém ter a ideia da bola e da rede.

Num pátio de escola do Oriente, há milhares de anos, um aluno desarrumou o quimono de outro, o outro, em retaliação, desarrumou o quimono do primeiro e, quando viram, estavam os dois rolando pelo chão, sem largar os quimonos. Depois, acrescentaram a filosofia e chamaram de “jiu-jítsu”.

O polo a cavalo foi uma invenção dos mongóis, mas na época não usavam bola e era chamado “invadir o Ocidente”. O polo aquático começou em Portugal há muitos anos, mas só recentemente decidiram eliminar os cavalos, que sujavam muito as piscinas. O “críquete”, na sua origem, era um substituto para a sesta entre jovens aristocratas ingleses, uma forma de dormirem e se exercitarem ao mesmo tempo.

Se muitos esportes começaram como divertimentos infantis, é surpreendente que outros esportes não tenham se desenvolvido a partir de jogos de criança. Poderiam existir campeonatos internacionais de bola de gude, por exemplo, de cuspe a distância, entre adultos.

Por que não equipes de cuspe a distância desfilando orgulhosamente nas delegações olímpicas? É uma forma de competição que exige habilidade incomum e noções de física e balística, além de facilitar o exame antidoping imediato.

Se o ciclismo hoje movimenta multidões e fortunas e cria celebridades na Europa, por que não poderia acontecer o mesmo com bater figurinha?

E sempre achei que o mundo seria outro se a briga de travesseiro tivesse sido regulamentada e hoje fosse um esporte como o boxe, disputado por atletas em diversas categorias – almofadas, almofadões, travesseiros de penas ou de espuma, etc.

As brigas poderiam ser simples, de duplas ou entre equipes masculinas e/ou femininas e realizadas dentro de convenções internacionais, com regras padronizadas para evitar o sufocamento, ou travesseiros com peso escondido, ou fronhas fora das especificações oficiais. As multinacionais competiriam na fabricação de pijamas para competição e, claro, travesseiros profissionais.

E nunca entendi por que razão “Mamãe, posso ir?” não se transformou num esporte popular, já que é muito mais empolgante do que o beisebol.

Luis Fernando Verissimo colabora mensalmente com o Extra Classe desde 1996.

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