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A nova versão do parasita

Por Moisés Mendes / Publicado em 11 de fevereiro de 2020

Foto: Ministério de Minas e Energia

Foto: Ministério de Minas e Energia

Paulo Guedes recorreu mais uma vez ao truque manjado do bolsonarismo. Dizer no dia seguinte ou alguns dias depois que não quis dizer o que havia dito. E assim vão dizendo o que desejam transmitir como impressão desqualificadora sobre os servidores públicos.

Numa sexta-feira, dia 7, Paulo Guedes disse em palestra na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, e ganhou manchete de todos os jornais:

“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, além de ter estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara (o servidor) virou um parasita”.

Três dias depois, em palestra na Federação das Indústrias do Rio, Guedes afirmou e ganhou cantinhos nos sites:

“Se o Estado existe para si próprio, então é como um parasita, o Estado perdulário, maior que o hospedeiro, a sociedade”.

O parasita já não era mais o servidor, mas o Estado. E a sociedade virou o hospedeiro. Três dias antes, o hospedeiro era o Estado, e o parasita era o servidor público. Mas Guedes conseguiu o que queria: ofender e depreciar o funcionalismo.

É o truque de Bolsonaro e dos filhos dele. Dizem que foram mal interpretados, que não era bem assim, mas o que eles queriam dizer está dito. O que importa para Guedes é que ele chamou os servidores de parasitas e deve ter se divertido com isso.

A retificação, com o pedido de desculpas, é parte do teatro. Foi assim com a história do AI-5, quando chegou a ameaçar com a volta da ditadura e depois acabou recuando.

Guedes defendeu a repressão, pediu desculpas, mas o recado estava dado como advertência. Cuidem-se ou chamaremos os militares de volta.

O bolsonarismo vive de ameaças. Em novembro de 2018, logo depois de eleito, deixando claro que não sabia do que falava, Bolsonaro avisou que Paulo Guedes preparava o calote da dívida interna.

Quem tivesse aplicações em títulos públicos, principalmente os que buscam proteção para fundos de previdência, seriam chamados para renegociar contratos. A dívida teria ficado impagável.

Era um blefe cometido pela ignorância de Bolsonaro, sob indução de Paulo Guedes. O que seria improvável em qualquer lugar, acontecia no Brasil: um subalterno mandava o presidente testar reações com a proposta de uma loucura. O próprio Guedes desmentiu o chefe.

Agora, depois da agressão aos servidores, veio o pedido de desculpas sem nenhuma consistência, como se estivesse falando para um grupo de imbecis:

“Eu me expressei muito mal, e peço desculpas não só a meus queridos familiares e amigos, mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem descuidadamente eu possa ter ofendido”.

Há mil manifestações de indignação contra Guedes e alguns avisos de que ele será processado. Não dará em nada. Daria se o processo fosse da direita contra alguém da esquerda.

A direita não teme ameaças. A indignação é quase uma formalidade, sem maiores resultados práticos e existe para que os ofendidos cumpram uma obrigação.

A única arma contra o fascismo é a que os chilenos usam desde outubro. Não há saída sem a ocupação das ruas, algo que o brasileiro não sabe mais como fazer. Por isso Guedes e Bolsonaro se divertem com a indignação inconsequente.

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