POLÍTICA

Beneficiários do Auxílio Brasil são alvo de campanha de assédio eleitoral

Inapta desde 2019, empresa que intermedia consignados espalha informações falsas e condiciona empréstimos a reeleição de Bolsonaro
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 25 de outubro de 2022

Foto: Roberto Parizotti / Fotos Públicas

Além dos empréstimos a juros abusivos de 3,45% ao mês praticados pela CEF, beneficiários do Auxílio Brasil são alvo de assédio eleitoral de agenciadora de consignados

Foto: Roberto Parizotti / Fotos Públicas

Uma empresa que se apresenta como parceira dos bancos Bradesco, Itaú, Safra, Pan, Banco BMG e C6 Bank, a Líder Consignado está espalhando em seu serviço de atendimento via WhatsApp que os empréstimos consignados para quem recebe o Auxílio Brasil “não voltam nunca mais” se o Partido dos Trabalhadores vencer o segundo turno das eleições presidenciais.

A denúncia feita pelo Valor Econômico foi confirmada após o jornal ter sido informado que agentes financeiros estariam vinculando a manutenção da linha de crédito criada por Jair Bolsonaro (PL) a uma derrota do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 30 de outubro.

O Valor publica em anexo a sua matéria um print da conversa da reportagem na qual simulou uma solicitação com o atendimento da Líder. A empresa se apresenta como correspondente bancária. Até então, nenhum caso concreto havia sido revelado.

“Devido à (sic) uma solicitação do PT feita ao MPF (Ministério Público Federal), foram suspensas todas as operações de empréstimos para Auxílio Brasil em todos os bancos, inclusive a CEF (Caixa Econômica Federal). O PT acha que quem recebe Auxílio Brasil não deve ter direito à (sic) empréstimos. Somente após o 2º turno das eleições é que saberemos se retornarão os empréstimos, dependendo de quem vença as eleições. Se for o PT, acho que os empréstimos não voltam nunca mais”, afirma uma mensagem automática disparada pela empresa no chat a quem pede informações sobre o empréstimo.

As instituições financeiras com as quais a Líder Consignado alega ter parceria negaram ter relacionamento com a empresa. A maioria delas, aliás, nem opera o consignado no Auxílio Brasil por entender que o “programa eleitoreiro” de Bolsonaro só agrava a situação de uma população que já está em estado de vulnerabilidade.

Correspondentes bancários trabalham como autônomas que fomentam negócios para bancos e financeiras. Eles recebem comissões quando fecham uma operação de crédito.

O Tribunal de Contas da União concedeu prazo de 24 horas para que a Caixa Econômica Federal (CEF) prestasse esclarecimentos sobre os procedimentos do programa após alertar sobre eventual uso eleitoreiro dessa política pública. Na segunda-feira, 24, a CEF congelou a liberação de crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil por 24 horas.

Empresa Inapta

Imagem: Reprodução

Assédio explícito: agenciadora de consignados junto a bancos espalha informações falsas a beneficiários do programa

Imagem: Reprodução

O endereço que a Líder Consignado informa em seu site é de um imóvel residencial localizado no bairro do Tatuapé, em São Paulo.

Na base de dados do Banco Central, não existe um correspondente identificado com esse nome.

Já o CNPJ informado pertence à Líder Promotora Financeira Ltda., que está com situação cadastral junto à Receita Federal como “inapta” desde 2019.

A empresa ainda informa em sua página que é associada à Associação Nacional dos Profissionais e Empresas Promotoras de Crédito e Correspondentes no País (Aneps).

A organização, porém, informa que não consta nenhuma empresa com os dados da Líder em sua base.

Uso de política pública na campanha

No início de outubro, o subprocurador do Ministério Público Federal junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, recomendou que o governo federal interrompesse a suspensão do empréstimo consignado pelo Auxílio Brasil, via CEF.

No dia 17, uma semana após o início da operação, o banco havia liberado R$ 1,8 bilhão a 700 mil beneficiários do programa social, cerca de R$ 2,6 mil por empréstimo, a juros de 3,45% ao mês.

Furtado argumentou que a Corte precisa avaliar os procedimentos adotados pelo banco para impedir a utilização do crédito com fim “meramente eleitoral”.

“Com a aproximação do segundo turno das eleições e com as dificuldades enfrentadas pelo presidente nas pesquisas de intenções de voto, tudo indica tratar-se de medida destinada a atender prioritariamente interesses políticos-eleitorais, que relegam o interesse público a segundo plano, com vistas à obtenção de benefícios pessoais em detrimento da população”.

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