EDUCAÇÃO

Eleições na Urcamp: oposição questiona o voto eletrônico

Processo eleitoral iniciado no último dia 15 de agosto culminará com a votação no dia 1º de setembro em meio à polêmica
Por César Fraga / Publicado em 25 de agosto de 2022

Eleições na Urcamp oposição questiona o voto eletrônico

Foto: Urcamp/Divulgação

Foto: Urcamp/Divulgação

O Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp) vive em seus quatro campi e uma escola (Alegrete, Bagé, Dom Pedrito, São Gabriel e Santana do Livramento) um clima disputado de eleições para a Reitoria.

Duas chapas concorrem na votação que ocorrerá no próximo dia 1º de setembro e que encerrará as eleições da Urcamp. Votam em torno de 200 professores, 200 funcionários e 2.800 estudantes, totalizando em torno de 3.200 eleitores. Há uma pequena discrepância nas quantidades informadas pelas chapas e a Comissão eleitoral não se manifestou oficialmente

A campanha eleitoral vai até domingo, 28, encerrando às 23 horas.

De um lado, a oposição à atual gestão, que é a Chapa 1, encabeçada pelos professores Antônio Evanhoé Ferreira de Souza Sobrinho (reitor) e Guilherme Cassão Marques Bragança (vice-reitor). De outro, a Chapa 2 liderada por Lia Maria Herzer Quintana (reitora) e Derli João Siqueira (vice-reitor). Lia Quintana tenta a reeleição para seu quarto mandato à frente da Universidade.

Além do debate de ideias nas eleições em torno da disputa pelos cargos, existe também uma polêmica envolvendo o formato da votação. Segundo o edital que convoca as eleições o pleito será realizado em plataforma on-line. A oposição (Chapa 1) questiona o modelo de voto eletrônico proposto pela comissão eleitoral.

Voto em papel e auditável nas eleições

De acordo com o candidato a vice-reitor, Guilherme Cassão, o voto eletrônico desenvolvido pelo próprio setor de TI da universidade sobre uma plataforma on-line de votação já existente, violaria o artigo 52 do estatuto da Instituição. Segundo alega, a norma prevê “urnas” e “fiscalização” o que o modelo proposto pela comissão eleitoral não garante.

Outro ponto destacado pelo candidato é que o voto deveria ser secreto, conforme o estatuto, e neste formato os eleitores (professores, funcionários e estudantes) precisariam se identificar com senha e número de matrícula para votar na plataforma.

“Nós entramos com dois pedidos de esclarecimentos e providências junto à comissão eleitoral, mas não obtivemos retorno de nenhuma. Caso não sejamos atendidos em tempo teremos de tomar medidas judiciais”, alega Antônio.

“Para nós não está claro como este sistema poderá ser fiscalizado e de que forma será garantida a lisura do processo. Afinal, trata-se de uma ferramenta de eleição híbrida, desenvolvida por um departamento da universidade que está sob o comando de uma reitoria que busca a reeleição”, questiona o candidato.

Propostas da oposição

Cassão disse à reportagem que principal proposta da Chapa 1 é trabalhar sobre três pilares. “Sustentabilidade, transparência e valorização acadêmica. E, com três dimensões básicas: reorganização estrutural e acadêmica, transparência com sustentabilidade financeira e valorização da comunidade acadêmica (professores, alunos e colaboradores)”, explica.

Sobre os principais problemas da Universidade ele destaca as questões trabalhistas. “O passivo é grande”. Há também uma dificuldade grande de comunicação institucional. O que está dentro da instituição não está sendo revelado, inclusive coisas maravilhosas que acontecem poderiam ser melhor divulgadas.  “Também nos chegam muitos relatos de medidas autoritárias que ferem a autonomia acadêmica. Queremos um ambiente em que o professor volte a sorrir”, conclui.

Chapa 2 contesta as alegações

A candidata ao seu quarto mandato, a atual reitora Lia Quintana afirma: “não existe jogo ganho, nem jogo jogado. O pleito eleitoral só termina com a apuração dos votos. A minha expectativa é uma eleição ao nível da Instituição que integramos. Somos uma instituição de Ensino Superior que precisa ditar posturas e dar bom exemplo. A partir disso, esperamos que o pleito na Urcamp transcorra da melhor forma ética possível”.

Lia destaca a Urcamp como uma instituição democrática em que votam professores, funcionários e estudantes.

Ela também cita que o perfil da Urcamp não é mercantil, mas voltado para a humanização da educação. Ela cita, sem nominar, uma instituição privada de ensino superior com um milhão de alunos e apenas 500 professores. “A Urcamp tem mais de 2.500 alunos para 180 professores. Isso significa que nossa proposta é formar pessoas com professores em detrimento de outras formas de formar pessoas. Neste sentido, a Urcamp é uma instituição que tem passado, presente e futuro”, defende.

Equalização dos passivos

Ela recorda que em 2009 uma consultoria contábil disse que se não fossem feitas mudanças e adequações, a Urcamp ficaria insolvente. “Isso ocorreu um ano antes de eu assumir a reitoria no meu primeiro mandato. Nossa proposta tem sido sanar problemas históricos da Urcamp, que já vinham de outras gestões. Há acordos sobre passivos trabalhistas que precisam ser cumpridos e novas negociações deverão ser feitas. Nossa proposta é de continuidade deste processo e acredito que uma renovação pode ser perigosa”, afirma.

Ela relata que se somar passivo trabalhista, verbas rescisórias e FGTS a dívida fica em torno de R$ 40 milhões. Este valor praticamente equivale à receita líquida anual da Urcamp durante um ano, que gira em torno de R$ 50 milhões. “Esta dívida está equacionada, porém desidratada, por conta da redução do número de matrículas e de alunos, que gera a principal receita a qual os pagamentos estão atrelados”, informa.

Reitora defende o voto eletrônico nas eleições

Lia pede para não comentar sobre o formato da eleição on-line. Lia alega que não pode falar sobre o funcionamento da eleição por ser candidata. A reitora se limita a comentar o estatuto.

“O que posso comentar sobre a suscitação a respeito do estatuto é que após dois anos de pandemia as rotinas on-line se tornaram mais comuns. Até pouco tempo atrás não existia assinatura eletrônica, contrato eletrônico, reunião por meeting. Portanto, tem certas coisas que estão sendo reivindicadas sem motivo. O que posso dizer é que a comissão eleitoral é experiente e é praticamente a mesma dos últimos pleitos e certamente está empenhada na lisura do processo. Foi esta mesma comissão, exceto um membro, que organizou a eleição em que me elegi pela primeira vez”, argumenta.

Sobre a polêmica do voto on-line. “Eu pergunto, você acha que defender voto em papel e auditável, no momento em que estamos vivendo no Brasil representa mais democracia? A Urcamp terá um processo eleitoral íntegro, auditável e por meio eletrônico. Temos de tomar muito cuidado certas posturas e posições sobre este tema. Imagina neste momento de polarização largar um áudio na frente da instituição dizendo que só acreditam no voto em papel e auditável. Não sei no que pode dar isso”, questiona a candidata.

Comissão eleitoral

A reportagem do Extra Classe entrou em contato com a comissão eleitoral, via e-mail, para obter maiores esclarecimentos sobre o processo eleitoral e alegações Chapa 1. Porém até a publicação desta matéria nenhum dos integrantes se manifestou.  Fazem parte da comissão eleitoral: Lourdes Helena Martins da Silva – como Presidente; Tania Maria Garcia de Castilhos e Fernando Fagonde.

Comentários