CULTURA

A era do livro

César Fraga / Publicado em 17 de agosto de 2002

No próximo dia 10 de agosto às 8h30min, o escritor e jornalista Flávio Aguiar (USP), autor de Anita (Ed.Boitempo), ganhador do prêmio Jabuti de melhor romance de 2000, realizará a palestra A era do Livro: Ascensão ou declínio?na sala 209 da Usina do Gasômetro. A promoção é da SMC/Prefeitura Municipal de Porto Alegre com apoio do Sinpro/RS. O objetivo do evento é discutir políticas culturais para o livro e literatura, bem como o intercâmbio de informações entre os participantes : escritores, professores, estudantes, editores, bibliotecários, enfim todos que, de uma forma ou de outra, vivenciam a literatura no seu dia-a-dia. Veja o que o palestrante adiantou ao EC sobre o tema de sua palestra.

EC – O que o senhor compreende como Era do Livro?
Flávio Aguiar
– De um modo rápido, posso dizer que me refiro à época inaugurada a partir das Grandes Revoluções do Século XVIII e também do século XIX. É a época em que se afirmam os ideais da modernidade e em que a consciência do súdito começa a ceder espaço para a consciência do cidadão. A leitura deixa de ser um privilégio (e uma exceção, em termos estatísticos) e passa a ser encarada como um direito do cidadão. Engendra-se a imagem do leitor moderno, de marca liberal: um leitor individual, mesmo que modesto em termos de posse, caseiro, que lê em horas de recolhimento e reflexão. O símbolo maior desta “pertença” cultural à modernidade é a biblioteca privada, mesmo que pequena. Esta, para mim, é a era do livro.

EC – Ela está acabando ou evoluindo para uma outra coisa?
Flávio Aguiar
– Penso que não está acabando, nem em declínio, como querem algumas afirmações sensacionalistas, do tipo, “é o fim do livro e do jornal”. Mas está se transformando, e nem sempre vejo com bons olhos o sentido destas transformações. Há um impulso muito forte por parte de setores mediáticos e virtuais no sentido de substituir a consciência do cidadão pela consciência do consumidor, e nesse contexto a cultura passa a ser encarada como uma espécie de “banco de dados” neutro, à disposição do usuário. As imagens e os símbolos perdem a sua dimensão histórica, ou a têm atenuada. O acesso e a velocidade das leituras aumentam enormemente, mas decai ou declina seu potencial crítico e de reflexão individualizada. Crescem assustadoramente o individualismo e a massificação, que andam de mãos dadas. Neste contexto a era do livro, enquanto ideal de cidadania, pode sim declinar.

EC – Que tipo de políticas poderiam reverter o Brasil em um país leitor?
Flávio Aguiar
– Penso que o mais importante é, em primeiro lugar, potenciar a leitura como apreensão crítica, reflexiva e prazerosa do mundo. O mais difícil, às vezes, é levar as pessoas a pensar que pensar pode dar prazer, tantas são as agruras e amarguras crescentes neste mundo pós-moderno e neoliberal. Não adianta só pensar em aumentar o índice de livros lidos por pessoa por ano, por exemplo, embora este seja um indicador importante. Acho que o mais importante é fazer as pessoas compreenderem que aprofundar a leitura, pensar através dela, ter prazer com ela é uma forma de aumentar a auto-estima individual e coletiva.

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