SAÚDE

Cinco anos de Cultura Doadora

Publicado em 13 de setembro de 2017
Los 3 Plantados: Jimi Joe, King Jim e Bebeto Alves, transplantados em 2013, comemoraram com um espetáculo musical na Ecarta

Foto: Igor Sperotto

Los 3 Plantados: Jimi Joe, King Jim e Bebeto Alves, transplantados em 2013, comemoraram com um espetáculo musical na Ecarta

Foto: Igor Sperotto

O projeto Cultura Doadora, instituído em 2012 pela Fundação Ecarta, tem como objetivo contribuir na formação de uma cultura de solidariedade e de uma atitude proativa para a doação de órgãos e tecidos, bem como na qualificação da infraestrutura de atendimento à saúde no Rio Grande do Sul. A formação dessa cultura, na concepção do projeto, é tarefa da família, mas também da escola. Por isso, o Cultura Doadora é direcionado aos professores e às instituições educacionais.

Nesses cinco anos de atividades, o projeto já realizou mais de 40 eventos, proporcionando a mais de 7 mil pessoas o envolvimento com os temas relacionados aos transplantes e à doação de órgãos, na sua maioria professores e estudantes. Apesar de demandas por debate sobre o tema no ambiente educacional, as escolas, no geral, geraram certa frustração em termos de possibilidades de formação de uma cultura doadora. A avaliação é do professor Mar­cos Fuhr, coordenador do projeto.

O engajamento do professor Fuhr no Cultura Doadora foi motivado por uma experiência pessoal não exitosa. Quando a mãe dele faleceu de câncer, há 12 anos, a equipe de captação solicitou a doação de suas córneas, mas um familiar informou que nunca tinham discutido o tema e ele não insistiu. “Deveria ter tido uma atitude mais proativa.” O que faltou para ele na época, diz, foi o propulsor de um trabalho desenvolvido até os dias de hoje. “Nós instituí­mos o projeto na perspectiva de que pudesse contribuir na formação de uma consciência doadora de órgãos e tecidos a partir da adesão dos professores e dos agentes educadores, uma vez que a Fundação Ecarta tem muita proximidade com o meio educacional”, explica.

Para o dirigente, há uma grande resistência nas ins­tituições de ensino ao tema. “A impressão é que a es­cola privada, em especial, é resistente a qualquer coisa que possa ter polêmica, que cause estranheza, mani­festação de contrariedade dos pais, das famílias, dos tomadores do serviço educacional. Doação de órgãos e tecidos envolve morte, que é tabu na nossa cultura, com raras e honrosas exceções, não se fala. Ninguém tem preocupação em preparar as pessoas para a mor­te, apesar de ser a única coisa certa”, pondera.

Ao longo de cinco anos, houve algumas oportuni­dades de acesso aos professores e estudantes, o que sempre é precedido de muita insistência. “A pers­pectiva da continuidade da vida depende da morte de quem vai doar. Isto é uma dificuldade. Os educa­dores e as direções das escolas precisam repensar o seu papel nesse contexto”, alerta.

A proposta agora é perseverar no projeto, amplian­do a inserção do debate sobre doação de órgãos não só nas escolas, mas também na sociedade em geral. “Estamos buscando diferentes espaços de convivência para levar a mensagem da cultura doadora. Apesar da extrema dificuldade para ocupar esse espaço que seria prioridade, não desistimos da escola. Ao longo desses anos e frente a essas dificuldades, temos procurado ou­tros espaços, como associação de moradores, sindica­tos, que oportunizem palestras, painéis com profissio­nais de saúde, pessoas que são transplantadas”, revela.

Uma das marcas do projeto Cultura Doadora é, inclusive, a capacidade de sensibilizar pessoas para o sentido e a importância da doação de órgãos. “Que seja tema de conversa nas famílias, de modo que se comprometam com a autorização. Todos precisam entender que a possibilidade de se precisar de um órgão é muito maior do que de ser doador”, ressalta.

Como multiplicar a Cultura Doadora na escola

Alunos da escola Rainha do Brasil, incentivando a doação de cabelos

Foto: Igor Sperotto

Alunos da escola Rainha do Brasil, incentivando a doação de cabelos

Foto: Igor Sperotto

O site da Fundação Ecarta traz amplos subsídios para que os professores proponham múltiplas abordagens sobre doação de órgãos em salas de aula. Há sugestões de atividades e farto material pedagógico, com informações em linguagem acessível para pesquisa e discussão por faixas etárias.

Para os anos finais do ensino fundamental, o conteúdo propõe a organização de um jogo sobre o tema doação de órgãos e tecidos, utilizando os conhecimentos em Ciências sobre corpo humano para envolver estudantes, familiares e amigos.

Também é possível se inspirar na experiência de educandos e educadores da Escola de Educação Básica Rainha do Brasil, que criaram o projeto “Doe sangue, doe vida”.

Todos os conteúdos estão disponíveis para download.

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