EDUCAÇÃO

Divergências vão do dissídio à política cultural

Publicado em 20 de julho de 1998

As divergências entre as duas chapas que concorrem à direção do Sinpro/RS se manifestam sob vários aspectos, entre os quais destaca-se a forma de condução do dissídio da categoria e a política cultural da entidade.

A chapa de oposição critica as discussões de dissídio antecipadas nos últimos anos pela direção do Sinpro/RS. Segundo Rejane de Oliveira, as negociações salariais que ocorrem nos finais de ano, ao invés da data-base, em março, não mobilizam a categoria. “O professor está preocupado com sua permanência na escola, com a entrega de notas. Em março é outra situação. O professor já está no seu local de trabalho, não corre o risco da demissão”.

Para ela, a atual direção fez a opção de compensar a categoria pela falta de avanços nos acordos coletivos, nas condições de trabalho, e de mobilização política da categoria. “Tentam compensar isso com serviços terceirizados. Mas a categoria acaba pagando por esses serviços. A contribuiçao de dissídio tem um valor bastante alto (N.R. Percentual do salário estabelecido todos os anos em assembléia geral de categoria a ser descontado de todos os professores, pela negociação das datas-base. Juridicamente é chamada Contribuição Assis-tencial). Nós entendemos que o sindicato tem que sobreviver somente com as mensalidades de seus filiados”.

O professor Marcos Fuhr (Anchieta e IMEC), membro da diretoria do Sinpro/RS e candidato à reeleição, lembra que no primeiro ano da atual gestão do sindicato foi iniciado o processo de redução gradativa da contribuição assistencial. “Em 95, o desconto era de 8% ao ano, hoje está em 5,5%”. Conforme Marcos, a chapa 1 pretende dar continuidade a essa política e fazer com que a mensalidade social dentro desse processo se torne a principal fonte de sustentação da entidade. “Por isso estamos investindo muito na sindicalização”, explica, anunciando que a estratégia é compensar a queda da receita advinda da contribuição assistencial com a ampliação do quadro social. “Queremos que o professor sustente o sindicato de forma espontânea e consciente, mas acabar com a contribuição assistencial sem essa redução gradativa, seria uma aventura que comprometeria a ação da entidade”, acrescenta Fuhr.

Quanto à questão das negociações antecipadas de dissídio, Marcos afirma que, desde a mudança da legislação que rege as mensalidades, a maioria dos sindicatos de professores e funcionários do ensino privado adotaram a via da negociação antecipada. “Como as escolas devem definir suas anuidades até as matrículas, que se dão antes de iniciar nossa data-base, vimos que o momento mais favorável para a categoria era exatamente o período em que elas começavam a fazer suas projeções”, argumenta. O diretor ressalta que essa posição, no entanto, é reavaliada todos os anos pela diretoria e aprovada em assembléia da categoria.

Sobre a acusação de falta de avanços nos acordos coletivos, Marcos diz que os reajustes salariais negociados pelo Sinpro/RS sempre foram superiores à inflação. “Isso apesar da conjuntura adversa ao movimento sindical, que a professora Rejane, como diretora da CUT, deve conhecer bem”, provoca. Enécio destaca ainda a “conquista” das cláusulas sociais que estabelecem o adicional por aprimoramento acadêmico e a participação financeira das escolas no custeio de planos de saúde dos professores.

CULTURA – Para os integrantes da chapa de situação o Sinpro/RS cresceu muito nos últimos três anos. Citam como exemplo os 4.500 professores que se associaram à entidade no período. “Esse dado é importante, principalmente se levarmos em consideração que há um refluxo no movimento sindical, com os índices de sindicalização baixando no mundo inteiro”, comenta Marcos Fuhr. Ele acredita que esse desempenho se dá pelo fato do Sinpro/RS, “além de manter sua marca de combatividade”, ter incorporado outras formas de ação, prestando bons serviços a seus associados e apoiando iniciativas que espelham a categoria. “O Sinpro hoje está fortemente identificado com a área da cultura, tanto apoiando espetáculos que beneficiam os sócios, quanto no plano do debate, da discussão democrática sobre diversos temas”, expõe.

Ricardo Fortes diz que a oposição não é contra atividades culturais, mas questiona grandes eventos, tipo Paulinho da Viola e Montserrat Caballet. Para ele, evento é uma coisa e política cultural é outra. “Os mega eventos, em geral, são em Porto Alegre. Temos que nos preocupar com o interior”, critica. Fala ainda que o dinheiro investido nessas promoções, que afirma não ser pouco, poderia ser melhor usado. “No estímulo da própria categoria, onde tem bastante artistas plásticos, músicos, atores ou até mesmo em artistas locais que tentam montar um espetáculo e não têm grana”, sugere.

Contrariando a afirmação de Ricardo, Marcos Fuhr observa que o concerto da soprano Montserrat Caballet foi na cidade de Pelotas e que “não custou mais do que o envio de uma mala-direta aos associados”. Informa, ainda, que o relatório apresentado pela produção do evento contabilizou mais de 500 ingressos adquiridos através do Cartão do Associado, que deu 20% de desconto para sócios do Sinpro/RS. Enécio da Silva recorda a pré-estréia do filme Lua de Outubro, gratuito para sócios em Livramento, Novo Hamburgo e Pelotas em 1997, além das recentes apresentações dos shows de Nei Lisboa em Pelotas, Rio Grande, Lajeado e Passo fundo e de Nelson Coelho de Castro, Totonho Vileroy, Bebeto Alves e Gelson Oliveira (Juntos Acústico) em Santa Maria, Santa Cruz e São Leopoldo.

Os integrantes da chapa 1 sustentam que a atual direção do sindicato tem por filosofia potencializar ao máximo os recursos da entidade, procurando parcerias. Explicam que a apresentação de Paulinho da Viola foi pensada para marcar o aniversário do Sinpro/RS, como aconteceu em 93, nos 55 anos da entidade. Para eles, a opinião de Ricardo Fortes é uma contradição. Lembram que ele e Rejane, hoje oposição, integravam a diretoria que promoveu o concerto com Arthur Moreira Lima e a Ospa na Redenção.

A professora Liria Dutra acrescenta que o show de Paulinho da Viola foi realizado com o apoio da prefeitura de Porto Alegre e da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do RS (Fetee-sul), o que diluiu os custos da produção. “Nós nos orgulhamos de ser uma entidade que ousa, que diversifica, não só que reivindica, como os sindicatos tradicionais”, diz Liria, que, na sua análise, sugere viver o movimento sindical um período difícil, porque investe só no enfrentamento convencional. “O show de Paulinho da Viola teve uma enorme repercussão no Estado e o retorno para a imagem do sindicato só fortalece a luta dos professores, porque dá visibilidade à entidade”, argumenta. Ela aponta ainda o jornal Extra Classe como um expoente da ação que deu nova feição ao sindicato.

HORA-ATIVIDADE – A chapa 1 se propõe a dar continuidade à luta pela hora-atividade iniciada pela atual diretoria do sindicato. Enécio identifica o “sufoco” vivido pelo professor como um dos grande problemas na escola. “A sobrecarga de trabalho pela preparação de provas e correção de trabalhos faz com que não tenhamos final de semana. O professor tem que ter um espaço oferecido pela escola para corrigir trabalhos e provas. Não é justo trabalhar em tempo livre e não ser remunerado por isso”, desabafa. A esse respeito, os integrantes da chapa de oposição têm posição firmada, querendo fazer o sindicato garantir no mínimo 30% da carga horária destinada as atividades extraclasse.

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