EDUCAÇÃO

A recriação da palavra escrita

Da Redação / Publicado em 23 de dezembro de 1999

Crianças do ensino fundamental lançam livro em que recontam, à sua maneira, as lendas folclóricas da cultura gaúcha

“Manhêêê!”, chamava euforicamente o garotinho. “Olha para cá, meu filho!”, insistia a mãe, tentando acertar o foco na máquina fotográfica. A cena, que parece corriqueira como arroz e feijão, na verdade bem que pode ser um marco na vida de 90 crianças. Elas recém estão na segunda série do ensino fundamental e já distribuíram autógrafos na última Feira do Livro de Porto Alegre, que terminou no primeiro fim de semana de novembro. A culpa dessa façanha intitulada Histórias e poesias sobre personagens folclóricos é das professoras do Colégio Sévigné Solange França, Cristiana Paz, Michélle Goffermann e de Airton Ortiz, da Editora Tchê!

Tudo começou porque, segundo as educadoras, nesta escola um dos objetivos da segunda série é trabalhar com diferentes autores da literatura infantil. Depois de várias leituras, convidaram o escritor Dilan Camargo para uma conversa e não deu outra: a meninada colocou na cabeça que queria fazer um livro. Para as professoras, esse incentivo bastou para que assumissem o desafio.

Ortiz afirma que foram duas idéias que convergiram. As professoras o procuraram e ele quis lançar o livro – que ainda seria escrito e ilustrado pelos alunos – na própria Feira. “Só podia ser interessante! Crianças de sete, oito anos rescrevendo a história do folclore? Só podia ser bonito”, festeja o editor. O processo de criação iniciou em setembro, ou seja, os autores tiveram apenas um mês para colocar no papel suas idéias. Eles aprenderam sobre todas as etapas de como se faz um livro: como se cria, as técnicas de editoração, respeito ao espaço delimitado etc.

Minutos antes da sessão de autógrafos, a nutricionista Vera Lúcia Gudaites, mãe de Gisele, sete anos, não cabia em si de emoção. “Há poucos dias ela estava na escolinha, agora está no segundo ano e fazendo parte de um grupo que vai lançar um livro!”, comentou, incrédula. Carolina Fernandes Pereira, psicóloga, é mãe de Hélio, oito anos. Ela conta como ele estava feliz e admirado com tudo. Primeiro estava na dúvida do que escreveria nos autógrafos e, depois do lançamento, só dormiu de madrugada, após ler os textos dos colegas. “Quando fui chamá-lo, pela manhã, estava dormindo com o livro na cama”, confidencia. Hélio diz que precisou de três dias para escrever a sua parte, apenas um para fazer o desenho e que não ficou nervoso. Estava, aliás, à vontade. Com certeza, a partir daquele dia, Ana Carolina, Emílio Mariana, Arthur, Evelyn, Felipe, Júlia, Tomaz, Renan, Isadora, Jonas, Verônica, Sophia… nunca mais vão olhar um livro com os mesmos olhos. Seja como leitor ou escritor.

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