EDUCAÇÃO

Dizer sim à profissão professor

Por Amarildo Cenci* / Publicado em 12 de novembro de 2015

O sistema que hegemoniza as mentes do nosso tempo, apregoa o livre mercado e as soluções através do esforço e mérito individual. Assim, invariavelmente a crença é que cada pessoa busque resolver suas questões, sua carreira e seus direitos de maneira individualista. Esse mesmo sistema prometeu um período de maior tempo livre, liberdade, qualidade de vida e espírito colaborativo; e que o mundo virtual seria instrumento dessas mudanças. Mas, ao contrário, o que tem ocorrido é a intensificação do trabalho, a extensão de tarefas para além da carga de trabalho contratada e iniciativas de retirada de direitos, como a do Projeto de Lei 4.330 ou PLC 30, que estende a terceirização a toda atividade laboral, inclusive a dos professores. Um processo que tem ampliado a vulnerabilidade do trabalhador frente ao empregador e imposto a necessária atuação de organizações consistentes e compromissadas com a redução das assimetrias que aprofundam as desigualdades e injustiças.

Poderia-se dizer que a forma de trabalho de professores – individualizado na sala de aula, dividido por componentes curriculares, a sua própria formação e a sua ascensão profissional se dá de forma isolada. O próprio processo de educação superior no Brasil ainda privilegia o trabalho individual, mesmo na área da pesquisa. Nesse cenário, como explicar que uma categoria que vive esse tempo e que está sujeita à exacerbação da individualidade faça adesão tão expressiva ao Sinpro/RS, através da sindicalização? Ante uma proposta que prega cotidianamente soluções individuais, o Sinpro/RS tem resistido e defendido soluções construídas coletivamente, tanto nas questões mais gerais através das Convenções Coletivas quanto nas específicas, via acordos em que os interesses dos representados se colocam acima dos individuais.

Estar presente no ambiente de trabalho no início das atividades ou no intervalo, ter políticas assistenciais qualificadas – exemplo do plano de saúde que atende atualmente em torno de 7 mil vidas, oferecer apoio jurídico trabalhista e previdenciário, fiscalizar permanentemente para o que os direitos dos professores sejam respeitados, manter um jornal da qualidade, o Extra Classe, instituir um plano de previdência complementar, ter política para professores em situação de violência são algumas iniciativas e práticas que colocam o Sinpro/RS entre os mais organizados e atuantes sindicatos existentes no Rio Grande do Sul e no Brasil.

O Sinpro/RS tem lado e compromisso. Luta incansavelmente em defesa dos professores e sua empregabilidade, melhores salários e condições de trabalho e por maior qualidade na educação articuladamente com lutas que tratam do meio ambiente, justiça tributária – desoneração do salário no Imposto de Renda, maior distribuição de renda, uma sociedade mais justa e consequentemente menos violenta e mais solidária.

Esse projeto sindical que propõe resistir ao modelo de “cada um por si”, desacomodado e inovador em sua prática tem sido reconhecido como necessário e acolhido pelos professores privados gaúchos. Uma prova contundente é o índice de associação que tem se mantido acima de 50%. No Brasil, os índices não ultrapassam os 20%. Somente nos últimos dois anos em torno de 3,5 mil professores se sindicalizaram, sendo neste ano 2.371 (dado atualizado em 28 de outubro).

Esse ato de se sindicalizar do professor é a afirmação de sua compreensão do quanto um projeto coletivo é essencial para a maior resistência contra os ataques que pretendem reduzir direitos e para a luta por melhoria nas condições de trabalho, salário e melhor qualidade de vida.

*Diretor do Sinpro/RS, professor do Colégio Marista Conceição e da Universidade de Passo Fundo.

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