EDUCAÇÃO

Mobilização adia remoção de professores dos Núcleos de Educação de Jovens e Adultos

Professores e estudantes denunciam esvaziamento dos Neejas em Porto Alegre pela Secretaria de Educação, que determinou a transferência dos docentes para escolas regulares
Por Marcia Anitta / Publicado em 4 de março de 2022

Foto: Igor Sperotto

Mobilização alerta que o número cada vez menor de professores gera um déficit maior no atendimento de qualidade de ensino

Foto: Igor Sperotto

Após intensa mobilização nos últimos dias, alunos e professores dos cinco Núcleos de Educação de Jovens e Adultos (Neejas) que atuam em Porto Alegre conseguiram suspender, pelo menos temporariamente, ação do governo estadual para remoção de docentes que atuam nestas áreas para escolas regulares.

Em meados de fevereiro, os cinco núcleos da capital – Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Darcy Vargas, Vicente Scherer e Menino Deus – receberam um ofício da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (1ª CRE), da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), determinando que os diretores liberassem imediatamente professores para serem remanejados em escolas regulares.

Os que permanecessem seriam requisitados apenas para aplicar provas, não dar aulas. No Darcy Vargas, por exemplo, a ideia era retirar dois dos sete professores, praticamente inviabilizando o atendimento já considerado precário. No Paulo Freire são 16 professores. “Menos que isto seria desestruturar completamente o trabalho”, observa um dos professores do Núcleo, Silvio Alexandre Mello de Oliveira.

Foto: Igor Sperotto

“É importante que não faltem professores nas escolas regulares, mas não é tirando dos Neejas que vão resolver um problema”, aponta o professor Sílvio Oliveria, do Núcleo Paulo Freire

Foto: Igor Sperotto

Alunos e professores dos Neejas organizaram mobilizações envolvendo parlamentares e sindicatos, como o Cpers-Sindicato, e os Neejas foram tema de audiência pública na Assembleia Legislativa. Após manifestação em frente à Seduc, o grupo foi recebido pela equipe de Recursos Humanos da pasta.

Os cinco núcleos de Porto Alegre estão resistindo a uma política de educação da Seduc, para todo o estado, de deixar com os Neejas apenas aplicação de provas para jovens e adultos que perderam a oportunidade de estudar em tempo regular.

“Não abrimos mão de dar aulas antes das provas. Não existe uma cobrança para assistir às aulas, mas os próprios alunos querem, para tirar suas dúvidas, entender o conteúdo e aí sim, preparados, fazerem a prova”, diz o professor.

Ele argumenta que esse é o processo de ensino/aprendizagem considerado como mínimo de qualidade para oferecer a jovens e adultos que, por algum motivo, abandonaram a escola e procuram concluir seus estudos.

“Deveríamos estar discutindo um projeto superior a este que é oferecido, mas não é isso o que acontece. É importante que não faltem professores nas escolas regulares, mas não é tirando dos Neejas que vão resolver um problema. Professor em sala é obrigação do Estado, mas não deste jeito”, completa Silvio. Ele reitera que é necessário que os alunos concluam seu ensino fundamental e médio com qualidade.

Em defesa dos Núcleos

Foto: Igor Sperotto

Neejas de Porto Alegre como o Paulo Freire (foto) resistem à política da Seduc de reservar aos Núcleos apenas a aplicação de provas

Foto: Igor Sperotto

Um documento elaborado por professores dos Neejas destaca que a desvinculação desses profissionais faz com que não seja mais possível atender à demanda de mais de 2 mil alunos que procuram anualmente por esse tipo de educação. O número cada vez menor de professores gera um déficit maior no atendimento de qualidade de ensino.

Embora a comunidade dos Neejas de Porto Alegre tenha conseguido suspender a determinação da 1ª CRE/Seduc – que, em reunião com deputados, se comprometeu a abrir negociação – não há garantia de reversão. Mas mostra que esta é uma comunidade unida na defesa de educação digna e de qualidade para jovens e adultos acima de 18 anos que não puderam concluir seus estudos na idade adequada.

O jornal Extra Classe encaminhou pedido de informações à Seduc, por meio de sua assessoria de comunicação, que solicitou os questionamentos por e-mail, mas não houve retorno.

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