MOVIMENTO

Sem-terra foram executados enquanto jantavam

O crime pode ter motivações políticas e a polícia já sabe que se trata de execução, apesar de não haver histórico de conflitos na região
Da Redação / Publicado em 10 de dezembro de 2018
O velório de José Bernardo da Silva (conhecido como Orlando) aconteceu na capela do assentamento Zumbi dos Palmares, na cidade de Mari (PB)

Foto Christian Woa/Divulgação MST

O velório de José Bernardo da Silva (conhecido como Orlando) aconteceu na capela do assentamento Zumbi dos Palmares, na cidade de Mari (PB)

Foto Christian Woa/Divulgação MST

Dois militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram assassinados, na noite do último sábado, 8 de dezembro,  no interior do acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra-PB, cerca de 45km de João Pessoa. De acordo com testemunhas dão conta que os atiradores entraram encapuzados no acampamento e metralharam a área onde os agricultores estavam jantando.

As vítimas são Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva (conhecido como Orlando), ambos coordenadores do acampamento, o que indica que o crime possa ter motivação na disputa por terras. No acampamento Dom José Maria Pires vivem 450 famílias, hoje produzindo numa terra que foi encontrada abandonada, totalmente improdutiva e que havia se tornado apenas um bambuzal. O proprietário é o grupo Santa Tereza.

Orlando é irmão de Odilon da Silva, também assassinado há nove anos na Paraíba. Odilon era do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que emitiu nota se solidarizando com o MST. Outra organizações, a exemplo da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), já manifestam sua solidariedade e cobram justiça para mais este crime no campo brasileiro.

O MST, em nota, apela para que haja justiça com a punição dos culpados, assassinos de trabalhadores rurais. “Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detém o poder político e econômico traçar o nosso destino. Portanto, continuamos reafirmando a luta em defesa da terra como central para garantir dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade”, declara o Movimento.

A delegada Lídia Veloso, que acompanha o caso relatou que o crime está sendo tratado como execução, porque os atiradores mandaram as outras pessoas se afastarem e atiraram somente nas duas vítimas. As motivações do crime também seguem sendo investigadas e boatos de que teria sido uma briga de bar foram descartados.

Durante o velório de José Bernardo da Silva, no assentamento Zumbi dos Palmares, na cidade de Mari (PB), um dos militantes leu um poema em homenagem ao militante morto: “Se a guerra está declarada, nós temos um lado. Não serão as armas e a violência que irá parar a nossa luta. Seguimos o exemplo de Margarida Maria Alves: decidimos temer mais a fome do que a morte! Queremos e faremos justiça, ocuparemos a terra, plantaremos comida e daremos vida aos sonhos do companheiro. Alertamos: também sabemos atirar, a foice e o facão são ferramentas de trabalho mas não exitaremos em nos defender a terra repartida, se a morte for o preço da transformação desse país, não haverá munição capaz de nos parar. Nosso luto é verbo conjugado no presente, na primeira pessoa do plural: nós lutamos, nós lutaremos!”

O MST informou nesta segunda-feira, dia 10, que  desde a ocupação da área da fazenda Igarapu, não foi registrado nenhum tipo de conflito na região pela terra ou algum tipo de ameaça. A informação de nenhum conflito no local do acampamento Dom José Maria Pires também foi confirmado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em nota, o superintendente do Incra na Paraíba, Rinaldo Maranhão, informou que o órgão trabalhou reiteradamente na desapropriação da área invadida. “Em menos de um ano, a equipe técnica do Incra/PB formalizou o processo de desapropriação e seus agrônomos realizaram a análise preliminar do imóvel. Os procedimentos avançam observando-se as normas vigentes e o devido processo legal”. O Incra esclareceu que pelo fato da desapropriação não ter sido feita, a área onde funciona o acampamento Dom José Maria Pires é uma área particular, sem gestão do Incra.

 

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