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Agressões marcam ato que pede volta da Ditadura Militar

Manifestantes reunidos em frente ao Comando Militar do Sul, no centro da capital gaúcha, neste domingo, 19, agrediram grupo de jovens contrários ao pedido de intervenção militar e volta do AI-5
Por Cristiano Goldschmidt / Publicado em 19 de abril de 2020

Foto: Reprodução Facebook

Foto: Reprodução Facebook

    Manifestantes bolsonaristas agrediram a socos e pontapés jovens que se posicionaram contra a ditadura militar

Na tarde deste domingo, 19, como tem acontecido com frequência nos últimos meses, um grupo de pessoas se reuniu em frente ao Comando Militar do Sul, no centro da capital gaúcha, para repetir os discursos do presidente Bolsonaro em defesa do fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF), a volta da Ditadura Militar e um novo AI-5.

A manifestação de hoje terminou em agressões físicas quando bolsonaristas partiram pra cima de um grupo de jovens que silenciosamente manifestava contrariedade ao pedido de intervenção militar e da volta do AI-5. Ana Luiza Bergmann, uma das jovens agredida, é moradora do Centro Histórico e se diz cansada das constantes manifestações do grupo que pede o fim da democracia.

Intervenção silenciosa

Na tarde deste domingo, acompanhada de amigos, Ana Luiza resolveu protestar contra o que considera um absurdo: a ditadura militar. “Resolvi fazer uma intervenção silenciosa e pacífica e as pessoas que moram comigo quiseram ir ali pra me acompanhar e pra ver quem eram essas pessoas. A gente combinou que não falaria nada, não agrediria, não diria nada que pudesse provocá-los”, conta.

Ana Luiza foi enrolada na bandeira do Brasil com uma máscara onde estava escrito Fora Bolsonaro. “Eu estava nua por baixo dessa bandeira, subi no muro da igreja enrolada na bandeira. Alguns deles já tinham me fotografado, me filmado, e tinha um jornalista que estava registrando também. Percebi que as agressões se intensificaram e imediatamente desci. Fomos nos retirando sem dizer nada, mas um dos caras jogou uma lata de coca cola contra o meu amigo, outro veio pra bater nele, foi quando minha amiga que é namorada dele foi defendê-lo e levou um soco, derrubaram ela no chão e vieram atrás da gente agredindo principalmente os dois, que estavam de vermelho. Tentaram arrancar minha bandeira e disseram que eu não tinha o direito de usá-la porque aquela bandeira era deles, que eu usasse uma bandeira vermelha. Me chamavam de vadia comunista. Comecei a correr e em seguida vieram meus amigos. Conseguimos sair e chegar em casa”, relata

Socos e pontapés

Marcia Velasques Campos agredida a socos

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Márcia Velasques Campos foi agredida a socos

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Márcia Velasques Campos, moradora do Centro Histórico que costuma passear por ali com seus cães diariamente, voltava da Praça Brigadeiro Sampaio com os pets quando presenciou as agressões que os jovens sofriam de um grupo de homens. Ao solicitar que cessassem as agressões, foi agredida com um soco no rosto. Márcia fez fotos do agressor e registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na 1ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.

Até o momento do fechamento desta reportagem, Márcia não respondeu às tentativas de contato, e sua publicação com a denúncia da agressão já havia atingido quase 10 mil compartilhamentos, com mais de 4 mil comentários e interações com denúncias que indicam o possível agressor, que já excluiu suas contas nas redes sociais.

Provocações verbais

Moradora da Andradas, uma consultora imobiliária que não quis se identificar porque teme represálias, disse à reportagem do Extra Classe que a agressividade do grupo já se mostrou em outras oportunidades, com provocações verbais aos que por ali transitam e não aderem aos seus chamados.

“Hoje assisti a tudo da janela do meu apartamento, mas em outra oportunidade voltava do restaurante com minha filha e fui chamada de comunista porque estava com um vestido vermelho e não atendi aos pedidos para me juntar a eles. Logo eu, que embora não seja bolsonarista, também nunca votei no PT”, relata. “Sempre fui brizolista”, comenta.

A aposentada Claudete Wolff, outra moradora da região, é enfática ao falar da manifestação deste domingo. “Sou contra a insensatez de quem pede um novo AI-5 e a volta do Regime Militar. Criei-me nessa área e estou chocada com o que vem acontecendo. Aqui nunca teve isso, sempre foi uma área muito respeitada e tranquila, porque tem a Brigada Militar, tem a sede da Marinha, tem o Comando Militar do Sul”.

Claudete também diz estar incomodada com a falta de um posicionamento e de uma atitude do Comando Militar do Sul, se eximindo da responsabilidade do que vem acontecendo no local. Primeiro, diz ela, porque é um movimento que desde o início tem mostrado características agressivas; segundo, porque estamos num momento de isolamento por causa do coronavírus, e é nítido o descumprimento das recomendações contra a aglomeração de pessoas.  “A gente está no meio da pandemia do coronavírus e não concordo com as atitudes do Bolsonaro. Não é qualquer pessoa que consegue chegar num hospital e ser atendido como ele é”, lamenta.

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