GERAL

Metade das classes D e E já perdeu mais de 50% de sua renda

Em dois meses da isolamento social no país, 24 milhões de brasileiros passaram a sobreviver com renda inferior a R$ 250,00. Outra parcela dessas classes sociais está sem renda alguma.
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 7 de maio de 2020
Maior parte da população não realizou o pagamento de alguma conta entre março e abril

Foto: Igor Sperotto

Maior parte da população não realizou o pagamento de alguma conta entre março e abril

Foto: Igor Sperotto

Desde o início do isolamento social imposto no país, 51% das classes D e E perderam metade ou mais da sua renda por causa do novo coronavírus no Brasil. É a conclusão de uma pesquisa realizada, entre os dias 20 e 21 de abril, pela Plano CDE, especializada em avaliações de impacto nas famílias que compõem as classes C,D e E. A pesquisa revela que 24% das famílias perderam toda a renda durante a pandemia.

As classes D e E representam 58 milhões de pessoas no Brasil e têm uma renda per capita de até R$ 500. Para o diretor-executivo da Plano CDE, Maurício Prado, a crise acentuou tanto as desigualdades de classe quanto às regionais.

Um exemplo basta e chama a atenção: para 3% dos brasileiros das classes mais privilegiadas, a pandemia acabou gerando aumento de ganhos. “Nas classes A e B, além das rendas serem muito melhores, elas são mais seguras”, reflete Prado.

Enquanto nas classes A e B não se apresentou alteração na renda para um terço dos entrevistados, entre os que se enquadram na classe C, 10% dos entrevistados disseram que ficaram sem rendimentos e 29% registraram reduções de metade ou mais nos ganhos. A Classe C contempla 100 milhões de brasileiros com rendas per capita que variam entre R$ 500 e R$ 2.000.

Já para 30% dos brasileiros que recebem acima de R$ 2.000 per capita, o trabalho apontou que os rendimentos caíram menos da metade.

A pesquisa ouviu mil pessoas em todas as classes sociais e regiões do país para mensurar os impactos econômicos do isolamento social, a medida mais eficaz de prevenção ao novo coronavírus. A margem de erro do levantamento é 3,1% e índice de confiança é de 95 pontos percentuais.

Reflexo da informalidade

A desigualdade também se evidencia em perdas mais significativas nas classes C, D e E e atinge muito mais o Norte e o Nordeste. É onde se detectam as rendas mais variáveis, reflexo da maior informalidade. Nesse conjunto, as classes D e E representam 28% da população do país. O Norte e o Nordeste congregam uma população de 67.140,044, conforme o último censo realizado pelo IBGE em 2010.

A baixa capacidade de poupança no país, segundo a Plano CDE, é o motivo que faz a maior parte da população – de todas as classes sociais – atrasar algum pagamento ou contrair dívidas diante da crise.

Enquanto 20% das classes A e B declararam ter poupança suficiente para enfrentar mais de quatro meses sem receber, mais de 70% das famílias de baixa renda não dispõem de reserva para um mês.

Assim, a maior parte da população não realizou o pagamento de alguma conta entre março e abril, de acordo com a pesquisa. Entre os integrantes das classes D e E, 47% afirmaram ter se endividado, 43% não pagaram água ou luz e 22% atrasaram seus alugueis.

Endividamento

O dado alarmante é que na classe C, 23% deixaram de pagar a fatura do cartão de crédito. “É preocupante por ser uma parcela vulnerável que está se endividando e com crédito caro”, diz Prado.

Nas classes A e B, 42% dos integrantes registraram para a Plano CDE não ter atrasado nenhum pagamento, muito menos ter necessitado de empréstimos no período. Um dado que mais uma vez expõe a desigualdade nacional.

No período da coleta de dados da pesquisa, a maioria das famílias mais necessitadas não havia recebido qualquer ajuda financeira até meados de abril. Os 52% dos brasileiros das classes D e E, público-alvo da ajuda emergencial de R$ 600 que devem ser pagos pelo governo, conforme decisão do Congresso Nacional, disseram não ter recebido nenhum tipo de apoio durante a pandemia até aquele momento. Os únicos foram os beneficiários do Bolsa Família.

Para o o diretor-executivo da Plano CDE, as famílias de classe C também se encontram em situação dramática porque não contemplam critérios de programas sociais, como o Bolsa Família. “Elas estão mais descobertas que as classes D e E. Não estão cadastradas pelo governo e se tentarem agora não serão aprovadas para a ajuda emergencial, pois estão numa faixa de renda acima do critério estabelecido”, conclui.

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