GERAL

Menina indígena Yanomami é estuprada e morta por garimpeiros

Crime foi denunciado na noite desta segunda-feira, 25, pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kwana, Júnior Hekurari Yanomami, por vídeo na internet
Por Cristina Ávila / Publicado em 26 de abril de 2022

Foto: Pedro França/Agência Senado

Na manhã desta segunda-feira, 25, representante do povo Yanomami (Associação Hutukara), Júnior Hekurari Yanomami denunciou, em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, invasões e violência de garimpeiros nas comunidades indígenas e clamou por ajuda aos senadores. A noite, em vídeo, anunciou o estupro e morte da menina de 12 anos e o desaparecimento de outro adolescente.

Foto: Pedro França/Agência Senado

Garimpeiros estupraram e mataram uma menina indígena Yanomami de 12 anos na região de Waikás, em Roraima. A denúncia foi feita na noite de segunda-feira, 25,  pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kwana, Júnior Hekurari Yanomami, por vídeo na internet. Poucas horas antes, ele usara a palavra “clamor” na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, pedindo providências para a retirada de “23 mil ou 24 mil garimpeiros que estão no território indígena”, na exploração de garimpos ilegais.

“Eles violentam mulheres, adolescentes e crianças. Já temos meninas de 13 e 14 anos grávidas de garimpeiros. Meninas de 15 anos já têm filhos de garimpeiros nascidos, com 1 ano de idade. Viemos clamar aos senhores”, exclamou Júnior Hekurari na audiência pela manhã no Senado.

E continuou: “Eles destruíram nossas florestas, nossos rios, que são fontes de nossa alimentação. Vivemos sozinhos na mata, ameaçados. As famílias não podem denunciar, e as lideranças estão reféns. O governo federal silencia. A Funai (Fundação Nacional do Índio) está distante, com garimpos há 10 km de distância de seu posto no território e helicópteros dos garimpeiros passando. O Ministério da Justiça em nenhum momento respondeu nossos relatórios com denúncias”.

Invasão e sequestro

A menina assassinada nessa segunda-feira foi sequestrada na comunidade indígena Arakaca, segundo Júnior. “Os garimpeiros invadiram a comunidade e levaram também um adolescente de 11 ou 12 anos de idade”, disse no vídeo que postou na internet na noite de ontem.

“Os garimpeiros violentaram ela e ocasionaram o óbito. O corpo está na comunidade. Também me informaram que o adolescente levado está desaparecido dentro do rio. Comunico para que Exército e Polícia Federal vá à comunidade e amanhã (hoje) também irei buscar o corpo da adolescente. Tô muito triste que esteja acontecendo isso com meu povo”, lamentou.

No Senado, o clamor de Júnior Hekurari foi feito em audiência presidida pelo senador Paulo Paim (PT/RS), que foi um dos autores do requerimento na CDH.

A proposta que resultou do evento foi a criação de um grupo de parlamentares, provavelmente misto com a Câmara de Deputados, “que se comprometa a ir à região em diligência para buscar entendimentos sobre a questão”. A audiência foi solicitada pelos próprios indígenas que procuraram Paim na semana passada e, em reunião virtual, relataram as atrocidades provocadas por garimpeiros ilegais.

Foram registradas 109 mortes em conflitos no campo em 2021, sendo 101 de vítimas Yanomami em Roraima

Esse número significa um crescimento de 1.110% de todos os óbitos em confrontos nas áreas rurais do país em relação a 2020.

A estatística faz parte do relatório de violência da Comissão Pastoral da Terra lançado em 18 de abril, que denunciou dois massacres em sete meses: um, no dia 20 de março, provocados por militares venezuelanos contra os Yanomami que vivem no país vizinho; outro, em agosto, que matou quatro pessoas Moxihatëtëa, povo isolado que vive no mesmo território na parte brasileira, em um garimpo ilegal denominado “Faixa Preta”.

Comentários