MOVIMENTO

A perversão neoliberal

Da Redação / Publicado em 23 de novembro de 1999

Pesquisador da Unicamp diz que Estados Unidos mantêm países periféricos como reféns de sua política econômica

Nem adianta bater na madeira porque, infelizmente, crise é a palavra da hora. Ou melhor, é só um modo de dizer porque o sinônimo para a crise que está aí é mesmo perversão. Assim ocorreu na chamada crise asiática que transtornou o mundo em 1997. Em outubro, o pesquisador associado do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp), Amaury Porto de Oliveira, esteve em Porto Alegre para participar do Fórum da Solidariedade. E disse, ironizando, que não se pode mistifinológica americana. “O próprio sistema produtivo da União Soviética é uma simples cópia canhestra do fordismo. Então, esta oposição acabou”, comenta. Oliveira argumenta que foi nesse contexto que a crise financeira de 1997 surgiu, sem paridade estratégica. “Basta ver que, por exemplo, os Estados Unidos, sendo os maiores devedores mundiais, dispõem, no entanto, da moeda chave de todo o sistema financeiro”, compara, analisando que, por isso, se permitem emitir obrigações do Tesouro americano que os outros países compram para um dia poderem bater à porta dos americanos e pedir dólares de volta. Ele diz que só o Japão tem aproximadamente US$ 200 bilhões em obrigações com os car uma situação em que milhões de pessoas perderam os empregos. “A primeira das mistificações é exatamente falar em crise asiática, colocar determinada carga sobre uma região do mundo quando, na realidade, temos uma crise do sistema”, diz.

O pesquisador lembrou que os Estados Unidos saíram como vencedores absolutos da Segunda Guerra Mundial, enquanto outros, tanto os aliados quanto os inimigos, materialmente liquidados. “Desde então, nós vivemos sob a pátria americana”, analisa. Oposição só houve mesmo pela União Soviética, com alguns aliados, mas não foi “oposição crível”, segundo Oliveira. Ele acha que a União Soviética nunca teve como enfrentar a evolução tecamericanos e, entre a China e Hong Kong, mais US$ 100 bilhões. “Se um dia vão usar isso, bater à porta dos americanos e provocar um crack mundial, eu não sei. Mas eles terão de pensar, porque as conseqüências serão terríveis para o mundo todo. Em todo caso, é uma arma que o Japão e China estão guardando”. É nessa situação de jogo hegemônico que os Estados Unidos se transformam em um verdadeiro buraco negro, para onde convergem poupança e produtos mundiais. “Não há produtor no Brasil, na Conchinchina ou na Austrália que não sonhe em criar espaço para ele no mercado americano. E isso, mais o jogo das obrigações, cria um acervo, um excesso finan ceiro no mundo que está sobretudo controlado pelos fundos de pensão americanos”, arrisca.

Oliveira acredita que esse excesso de liquidez sem aplicação é que se transforma nos fluxos financeiros fronteiriços que ninguém detém porque circulam 24 horas por dia, se multiplicando, correndo de praça em praça. E nesse jogo de especulações há controladores, cerca de 20 ou 30 instituições financeiras, que podem, em um piscar de olhos por uma razão qualquer como uma declaração desastrada de alguém ou um acontecimento descarregar uma carga mortífera sobre o sistema financeiro de qualquer país. “Isso foi um pouco o que aconteceu na crise chamada asiática”, aposta.

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