MOVIMENTO

Faltam abrigos para idosos

Estudo inédito do Ipea mostra que a maior expectativa de vida da população brasileira associada à redução dos núcleos familiares aumenta a demanda por instituições cuidadoras
Publicado em 30 de junho de 2011
Ana Amélia Camarano, coordenadora da pesquisa do Ipea

Foto: João Viana/Ascom Ipea/divulgação

Ana Amélia Camarano, coordenadora da pesquisa do Ipea

Foto: João Viana/Ascom Ipea/divulgação

A primeira pesquisa nacional sobre as instituições para idosos existentes no país, publicada no final de maio pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que 71% dos municípios brasileiros não dispõem de instituições para idosos, 65% das casas são instituições filantrópicas, 28,2% são privadas e apenas 6,6% são mantidas pelo poder público.

Com mais de 20 milhões de idosos, o Brasil tem 218 asilos públicos. As instituições públicas e privadas abrigam 83 mil idosos, a maioria mulheres. O governo federal mantém apenas uma instituição para os idosos, o Abrigo Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que atende 298 pessoas.

Denominado Condições de funcionamento e infraestrutura das instituições de longa permanência para idosos no Brasil, o estudo foi apresentado pela coordenadora de População e Cidadania da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Ana Amélia Camarano. “Muita gente vê o asilo como uma segregação. A segregação independe do asilo ou da família, mas da condição em que se encontra o idoso”, ressalta.

Dois terços das instituições brasileiras para idosos estão concentradas na região Sudeste, sendo que o estado de São Paulo tem 34,3% do total. Em média, cada instituição gasta R$ 717,91 por residente. O gasto mínimo per capita é de R$ 92,62, observado em uma instituição em Alagoas, e o máximo de R$ 9.230,77, declarado por um asilo paulista. O custo, esclarece o Ipea, depende da natureza jurídica da instituição e da oferta de serviços.

Segregação: país tem 20 milhões de idosos, mas dispõe de 218 asilos públicos

Foto: Igor Sperotto

Segregação: país tem 20 milhões de
idosos, mas dispõe de 218 asilos
públicos

Foto: Igor Sperotto

Segundo Ana Amélia, o que motivou a pesquisa foi o aumento da demanda por esse tipo de serviço na população brasileira, que está envelhecendo. Além disso, a família brasileira está mudando, a mulher está entrando no mercado de trabalho cada vez mais cedo, há ainda um enfraquecimento dos laços e uma redução no número de filhos. “A demanda pela utilização dos serviços dessas instituições tende a aumentar, embora menos de 1% da população idosa utilize esse serviço”, constata.

A pesquisadora ressalta que persiste o preconceito da maioria das famílias em relação aos asilos e que a melhoria nos serviços demanda investimentos nessas instituições. “Quando um idoso precisa ir para um abrigo e não há vagas nos filantrópicos ou públicos, ele fica por tempo indeterminado num hospital público. O custo para manter um idoso no asilo é de R$ 750 por mês, enquanto no hospital é de R$ 1,4 mil”, compara.

Ana Amélia apresentou ainda uma série de alternativas para esses idosos terem um tratamento adequado, como uma rede de cuidados provida pelo próprio Estado, apoio à família e ao cuidador e até mesmo uma quebra no preconceito sobre as instituições, aumentando a fiscalização e interferência do Estado no seu cotidiano.

Os dados do Comunicado fazem parte do livro Infraestrutura Social e Urbana no Brasil: subsídios para uma agenda de pesquisa e formulação de políticas públicas, e também foram apresentados durante o XIV Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur) realizado no Rio de Janeiro, de 23 a 27 de maio. A íntegra da pesquisa está disponível para download no site do Ipea: www.ipea.gov.br

Mobilidade

As metrópoles brasileiras tendem a entrar em colapso nos próximos anos devido ao caos no trânsito se não houver uma redução no número de automóveis particulares nas ruas. É o que mostra a pesquisa A mobilidade urbana no Brasil apresentada pelo técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho. Dividido em três eixos, o estudo constata a tendência do crescimento do transporte individual (automóvel), que traz diversas consequências no sentido de inviabilizar a vida nas metrópoles, como problemas de congestionamento e poluição; trata das políticas federais que vêm afetando o padrão de mobilidade nos centros urbanos brasileiros e discute cenários futuros e os grandes desafios para a melhoria das condições de mobilidade urbana.

 

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