MOVIMENTO

Movimento de greve atinge mais de 24 cidades gaúchas

Por Flávio Ilha / Publicado em 30 de junho de 2017

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Mesmo com forte repressão policial e decisões desfavoráveis na Justiça, a Greve Nacional convocada pelas centrais sindicais com apoio de sindicatos e associações classistas de todo o Estado, conseguiu demonstrar a indignação dos trabalhadores com as mudanças nas leis trabalhistas e na Previdência que estão tramitando no Congresso.

Pelo menos 24 cidades registraram protestos e movimentos em todo o Rio Grande do Sul, segundo balanço da CUT. Dentre elas, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Bento Gonçalves, Sarandi, São Leopoldo, Santa Maria, Alegrete, Rio Grande e Caxias do Sul. Em algumas localidades, como Rio Grande e Canoas, houve interrupção total dos serviços. Em Rio Grande, porém a mobilização foi repreendida pela Brigada Militar. Rodovias federais e estaduais foram bloqueadas em todas as regiões. A repressão ao movimento foi a tônica desta sexta-feira, 30.

Já no começo da manhã, por volta de 5h30, um pelotão da Brigada Militar atacou um grupo com cerca de 300 grevistas que iniciava um protesto em frente ao campus central da Universidade Federal (Ufrgs), no acesso ao túnel da Conceição, em Porto Alegre. Foram disparadas bombas de gás contra os manifestantes, que precisaram se refugiar no território da Universidade para fugir da perseguição dos policiais. Não houve relato de feridos.

Ainda na noite de quinta-feira, 29, duas decisões judiciais impuseram derrotas ao movimento sindical que luta pela manutenção dos direitos trabalhistas e previdenciários. O juiz plantonista Felipe Keunecke de Oliveira acolheu pedido das empresas de ônibus e proibiu a realização de piquetes em frente às garagens, impondo multa de R$ 20 mil à CTB, PSOL, CUT e Sindimetrô por veículo impedido de sair.

Mesmo assim, as garagens de sete das 11 empresas de ônibus que operam em Porto Alegre amanheceram bloqueadas por piquetes – que foram reprimidos pela Brigada Militar com bombas de gás e cassetetes. No meio da manhã, o transporte público voltou a circular de forma parcial. Um grupo de 20 grevistas foi detido e revistado em frente à garagem da Carris. Três pessoas foram presas – uma delas permanecia detida até o meio da tarde, sob a acusação de portar explosivos.

Em outra decisão, a desembargadora Laura Louzada Jacottet determinou, a pedido da prefeitura de Porto Alegre, que fossem mantidos 100% dos serviços de urgência e emergência e 70% dos serviços essenciais na capital sob pena de multa de R$ 50 mil ao Sindicato dos Municipários (Simpa).

Dados da Secretaria Municipal de Educação (Smed), no entanto, apontaram que metade das 98 escolas mantidas pela prefeitura em Porto Alegre não abriram ou funcionaram apenas de forma parcial. Das 200 escolas estaduais da capital, mais da metade também não funcionou segundo a Secretaria de Educação. Os postos de saúde tiveram funcionamento praticamente normal.

O presidente da CUT no Estado, Claudir Nespolo, acusou a Brigada Militar de tumultuar um dia de mobilização pacífico. “Foi a Brigada quem criou transtornos à população ao criminalizar manifestações legítimas. A ação foi truculenta e desnecessária, já que qualquer trabalhador tem direito de aderir ou não a uma greve”, disse.

Nespolo também criticou as decisões judiciais que, segundo ele, serviram para “blindar” os interesses dos grandes empresários. “A Justiça, neste dia de mobilização nacional, mostrou que continua seletiva e preocupada em defender interesses econômicos”, afirmou.

Mesmo assim, o balanço foi positivo. As agências bancárias da região central de Porto Alegre não abriram – apenas os serviços on-line funcionaram, mas havia poucos clientes. O comércio de rua abriu as portas, mas também esbarrou na falta de movimento. Por volta de 11h, a rua da Praia, mais importante via do comércio no Centro, tinha poucos pedestres e consumidores.

O Trensurb também começou a operar com atrasos a partir das 6h30, em intervalos de 15 minutos. As cancelas foram liberadas para os usuários, em mais uma tentativa de esvaziar o movimento grevista.

O presidente da CTB, Guiomar Vidor, reconheceu que o movimento teve menos impacto que a greve geral de maio mas avaliou a ação como “oportuna e eficaz”. Segundo Vidor, os trabalhadores devem manter a mobilização, com novas convocações grevistas, porque o Senado pretende votar a reforma trabalhista em plenário já na próxima terça-feira.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 18 trechos de rodovias federais tiveram o trânsito de veículos interrompido no Rio Grande do Sul. A BR 386, que dá acesso à capital, foi interrompida em Nova Santa Rita. Outras seis rodovias estaduais também foram bloqueadas ao longo da sexta-feira.

Em Porto Alegre, o dia de mobilização foi encerrado com um ato político no Largo Glênio Peres, que reuniu cerca de 5 mil pessoas. Os manifestantes marcharam até o Palácio Piratini para tentar uma audiência com o governador José Ivo Sartori (PMDB), como forma de manifestar “indignação” com as agressões da Brigada Militar e a repressão violenta aos grevistas.

Comentários