MOVIMENTO

Protestos na agenda desta sexta, Dia dos Trabalhadores

1º de maio será de atividades virtuais em defesa do trabalhador, direitos trabalhistas e distribuição de alimentos para as comunidades mais carentes, em um cenário dificultado pela pandemia de coronavírus
Por Cristiano Goldschmidt / Publicado em 30 de abril de 2020
Manifestação em Porto Alegre no Dia dos Trabalhadores contra a reforma da Previdência

Foto: Igor Sperotto

Mobilização nas ruas pelo Dia do Trabalhador neste ano dá lugar Pas manifestações pela pela internet – sites e redes sociais das centrais sindicais, sindicatos e movimentos sociais, em função da pandemia de coronavírus

Foto: Igor Sperotto

Centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais e lideranças políticas preparam uma série de atividades e protestos para esta sexta-feira, 1º de maio, Dia do Trabalhador, que ocorre em meio a grave pandemia de coronavírus. A agenda será realizada, em sua maior parte, de forma virtual, em defesa do isolamento social para reduzir a contaminação pelo vírus.

“O foco da luta hoje é pelo resgate e fortalecimento do SUS, pela garantia da renda mínima para as pessoas mais vulneráveis, pela garantia de salário e por postos de trabalho”, destaca o professor Amarildo Cenci, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/RS). “Uma luta por políticas públicas que possam garantir o isolamento social. Nós não acreditamos na reabertura controlada e moderada. Somos um país que tem enormes bolsões de pobreza, e quando a covid-19 atingir esses públicos, teremos uma quantidade significativa de mortos, até porque ainda há uma subnotificação do sistema de controle, não há testagem, não há insumos para os exames”.

Para Amarildo, este 1º de maio também será uma oportunidade para que as entidades possam denunciar os empresários que, neste momento de crise, demitem seus funcionários. “Há muitas empresas que se beneficiaram com dinheiro do BNDES, com incentivos fiscais de políticas públicas, e que é inadmissível que estes mesmos empresários, neste momento de dificuldades, não tenham nenhum compromisso com seus trabalhadores, com sua cidade, com o seu Estado e com o seu país”, afirma.

Segurança no trabalho e distribuição de alimentos

Amarildo Cenci

Foto: Igor Sperotto

Amarildo Cenci: Trabalhador precisa ter segurança garantida

Foto: Igor Sperotto

O presidente da CUT/RS destaca a importância de reforçar a luta por maior segurança no trabalho, já que uma parcela significativa da sociedade, mesmo com a covid-19, precisa sair para trabalhar. Para ele, é obrigação das entidades sindicais denunciarem os empregadores, os prefeitos e o governador quando estes agem de forma irresponsável.

“Os trabalhadores da saúde, da produção de alimentos, os agricultores familiares, o pessoal dos serviços essenciais, da limpeza e da conservação das cidades, das portarias, os motoristas: todos precisam ter sua segurança garantida. Nós queremos a maior proteção possível para estes trabalhadores. Que a gente crie protocolos de segurança, de distanciamento, de cuidados para a não contaminação, porque o sistema de saúde não vai comportar a pandemia se ela continuar a se espalhar”, defende a CUT/RS.

A distribuição de alimentos, materiais de higiene e máscaras para trabalhadores e comunidades mais carentes também será acentuada nesta data, segundo Amarildo Cenci. Ele conta que, de forma paralela às ações em defesa do trabalho e dos direitos trabalhistas, a CUT tem se empenhado, em parceria com diversas entidades gaúchas, na entrega de cestas básicas e máscaras, entre outros itens, para pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Para esta quinta-feira, 30, e sexta-feira, 1º de maio, serão entregues toneladas de alimentos em diversas regiões do estado.

Atividades ecumênicas, culturais e políticas

Os eventos comemorativos serão virtuais. No Rio Grande do Sul, as transmissões vão ser geradas pela rede soberania e transmitidas ao mesmo tempo pela CUT/RS e Rede Soberania, das 9h30 às 11h30. A programação nacional começa, às 11h30 e vai ser gerada pela CUT e transmitida pelo canal da TVT no youtube.

A programação iniciará com atividades ecumênicas, que contarão com a participação de lideranças cristãs formadas por bispos e pastores, além de representantes das religiões de matriz africana. “Na sequência, teremos atividades culturais e intervenções dos movimentos sociais e sindicais. Já em nível nacional, teremos a manifestação das grandes lideranças políticas do Brasil, com falas do ex-presidente Lula, de Guilherme Boulos (PSol) e das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)”, explica Amarildo Cenci.

Também acontecerão pronunciamentos de líderes das centrais sindicais e de diversos artistas, como o de Chico Buarque, que programou um depoimento em defesa da democracia e em solidariedade ao atual momento do Brasil. Todas as atividades serão transmitidas pelos meios de comunicação alternativos e pelas redes sociais das entidades organizadoras.

Mobilização contra a pandemia

Cecília Farias, da direção do Sinpro/RS

Foto: AssCom/Sinpro-RS

Cecília Farias, da direção do Sinpro/RS

Foto: AssCom/Sinpro-RS

Cecília Farias, diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), lembra que todos os anos, dentro das festividades do 1º de maio, o Sindicato promove atividades de rua para chamar a atenção dos professores e da população sobre o valor do trabalho na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Neste ano, devido à pandemia da Covid-19, o Sindicato participará de um esforço junto a outras entidades na doação de cestas básicas para comunidades carentes.

“Além das cestas doadas pelo Sinpro/RS, lançamos a campanha Professores Solidários, que busca a colaboração dos professores das instituições de ensino privadas para a aquisição de mais cestas básicas e produtos de higiene, através de doações pelo site Vakinha On-Line. Esta iniciativa tem o objetivo de fortalecer e dar continuidade a esta ação”.

Ao falar sobre os problemas trazidos pela pandemia no que diz respeito ao processo de ensino aprendizagem, Cecília comenta que o sindicato está buscando mecanismos para superá-los, além de intervir para que as instituições tenham cuidado na cobrança excessiva de tarefas aos professores, o que pode resultar na precarização da saúde do trabalhador da educação.

Para o deputado estadual Edegar Pretto (PT/RS), além da possível sobrecarga com o aumento das demandas decorrentes da covid-19, a educação e os trabalhadores em educação já estavam entre os mais precarizados com o desmonte das conquistas antes garantidas pela constituição de 1988.

“Cortes de verbas, arrocho salarial, falta de condições mínimas de trabalho são o cotidiano daqueles que lutam para formar as novas gerações de brasileiros. Nenhum país no mundo se desenvolveu sem investimentos maciços em educação, ciência, tecnologia e valorização dos profissionais dessas áreas”, comenta Pretto.

Resistência durante a crise sanitária

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Deputada federal Fernanda Melchiona (PSol)

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A deputada federal Fernanda Melchionna (PSol) destaca que o país atravessa uma de suas piores crises econômicas, que não começou com a pandemia, mas que com ela se aprofundou. “Os patrões e seus aliados políticos tentam repassar os custos dessa crise para a classe trabalhadora, retirando seus direitos, seus empregos e salários”, observa.

Melchionna diz ainda: “Precisamos lutar contra a carteira verde amarela, que é uma nova reforma trabalhista, lutar contra os privilégios para os banqueiros e o pagamento da Dívida Pública. E lutar também contra a tentativa permanente de ataque aos servidores públicos. Precisamos postular uma saída conjunta para essa crise que tende a piorar, e a saída passa por taxar os bilionários e suas grandes fortunas, uma saída que tenha como sujeito social as mulheres, os trabalhadores, a juventude, negros e negras, LGBTIs. Enfim, a maioria do nosso povo”.

O deputado Edegar Pretto assegura que os trabalhadores são os mais afetados pelo desemprego, pela destruição da soberania nacional, pela pandemia que é ignorada em sua gravidade pelo governo e pelo desmonte do estado enquanto salvaguarda do bem estar social. “Infelizmente vivemos hoje, como em outros momentos tristes de nossa história, uma forte ofensiva contra os direitos econômicos, políticos e sociais, e contra as conquistas históricas da classe trabalhadora em todo o mundo. O que reforça o significado deste dia como um dia de luta”.

Segundo o deputado Pretto, para os trabalhadores em geral, a política de Bolsonaro e de sua equipe tem contribuído para o aumento da desigualdade, da pobreza e da precarização, com a uberização do trabalho. Diante dessa situação, ele defende um Estado que garanta direitos sociais e uma renda mínima para a economia funcionar e alavancar um desenvolvimento mais inclusivo para todos.

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