OPINIÃO

Licença para matar

Publicado em 9 de maio de 2019

Imagem: Reprodução

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Um alerta da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA) – oferece um amplo panorama sobre a violência policial que explodiu no país nos últimos tempos, especialmente após a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência da República e Wilson Witzel ao governo do Rio de Janeiro – apenas para citar dois exemplos mais gritantes de autoridades do PSL que governam com o dedo no gatilho.

No Brasil, a polícia mata civis – jovens e negros, na sua maioria – como em nenhum outro país do mundo, a uma média de 17 pessoas por dia. Apenas no primeiro bimestre de 2019, foram registradas 305 mortes no Rio de Janeiro em consequência de intervenções de policiais civis e militares. A PM carioca é a que mais mata no país: nove pessoas por 100 mil habitantes. No Rio Grande do Sul, em 2018 foram 140 registros, cujas vítimas da letalidade policial nada tinham a ver com o mundo do crime. Enquanto esta edição estava sendo concluída, uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil resultou na morte de oito pessoas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, mesmo estado em que, durante o final de semana de 4 de maio, o governador Witzel subiu num helicóptero acompanhado de atiradores de elite em uma atabalhoada operação do Core para atirar a esmo sobre bairros de Angra dos Reis e acabaram alvejando uma barraca de evangélicos em retiro. Diferentemente do que costuma acontecer quando a polícia dispara contra a população civil, neste caso ninguém saiu ferido.

Desmonte – Enquanto o governo federal joga com a ameaça de cortes de verbas das universidades públicas e aprofunda a patrulha ideológica contra professores com a clara intenção de abrir caminho para os negócios privados na educação, aumentam os prejuízos para o ensino de qualidade. A menos de um ano para a vigência da Legislação federal que prevê a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino, 40% das escolas não dispõem desses espaços, seja no setor público ou privado, e muitas contam com os esforços dos próprios professores para a viabilização de um recurso tão fundamental para o processo de ensino e aprendizagem – como aborda matéria desta edição. Em economia, sem propostas para superar a crise e o desemprego em alta, o país amarga os piores indicadores das últimas décadas, enquanto a equipe econômica do governo segue firme com suas políticas de contenção.

Literatura – Na entrevista do mês, o escritor gaúcho Alcy Cheuiche fala sobre sua mais recente obra, O velho marinheiro – A história de vida do Almirante Tamandaré, e avalia a importância do romance histórico na sua carreira literária, que começou em 1967, com O gato e a revolução, livro apreendido pela ditadura militar. Esse gênero literário, diz o escritor, proporciona uma narrativa realística dos personagens sem perder de vista o compromisso com a História. É dessa forma que Cheuiche reconstitui fatos da vida de Tamandaré, patrono da Marinha, amigo de Dom Pedro II e da Princesa Isabel que, apesar de ter sufocado os principais levantes populares de sua época, era um abolicionista convicto.

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