OPINIÃO

Sopapo Griô, fita de 1000 grau: antenas e raízes em 2020

Por Richard Serraria / Publicado em 31 de maio de 2020
Grupo Alabê Ôni: Richard Serraria é o segundo, da esquerda para a direita, sentado sobre o tambor

Foto: Joel Vargas/Divulgação

Grupo Alabê Ôni: Richard Serraria é o segundo, da esquerda para a direita, sentado sobre o tambor

Foto: Joel Vargas/Divulgação

Diante da pandemia de Covid-19, associada à necropolítica federal, me ponho a pensar ainda mais sobre a dicotomia “antenas e raízes”, hipertecnologia e produtividade conscientes nesses dias digitais.  O lugar, todavia, em que olho para isso é a “bibliotesala” da minha casa, agora convertida em espaço-mundo. Ali habita um tambor grande de 1m e 60cm de altura, couro animal contador de histórias do RS, Sopapo Griô, artefato político atestando a presença negra excluída do folclore “oficialesco” da região. Um olho no sopapo e outro na internet já que o cenário global em diferentes âmbitos, sabemos, foi profundamente modificado e a área educacional não ficou de fora de tais mudanças drásticas.

Olhar no meu caso é pensar no desafio de como ler, construir e partilhar aprendizagens performativas da PachamamÁfrica em tempos cibernéticos: Pedagogia do Sopapo e o conceito de TAMBORALITURA. O paradigma literário eurocêntrico calcado na escrita e o paradigma africano da oralidade. Pensamento central: a necessidade da incorporação de poéticas negras provenientes da África assim como dos povos originários junto ao panorama da literatura brasileira. Olhar para Lélia Gonzalez e a AMEFRICANIDADE, indígenas e negros e os aportes linguísticos daí provenientes. Desenhando poesia amefricanindígena então: você já ouvir falar de orikis, poética ancestral da Nigéria, verdadeiras flores da fala? Já ouviu falar de oralitura e crioulidade no Caribe? Griotismo Literário na Costa do Marfim? Portunhol selvagem, uma literatura fronteiriça nascida da mescla de guarani, português e espanhol?  Poesia de Angola e Moçambique, povos com presença da língua e cultura banto, herança viva no Brasil? Ah, e sobre Poesia Negro Brasileira (livro, rap, slam, performance), você já ouviu falar sobre isso? Cartazes Área Indígena de Xadalu?

Assim tenho olhado para isso nesses dias virais certo de que novos dias virão carregados de poesia e investigação da língua amefricana.

*Poeta, cancionista e professor de Literatura Brasileira (doutor em Estudos Literários/Ufrgs). Fundador da Bataclã FC e Alabê Ôni, vem trabalhando em live, podcast e oficinas on-line abordando os termos abaixo citados em negrito. Contato: serraria@gmail.com , Instagram @richardserraria

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