OPINIÃO

As eleições municipais e a tempestade no horizonte de Bolsonaro

Por Marco Aurélio Weissheimer / Publicado em 11 de novembro de 2020

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O aumento do desemprego é uma ameaça que bate à porta. O próprio secretário de Política Econômica do governo, Adolfo Sachsida, em um encontro virtual com representantes do Banco Safra, admitiu que o índice de desemprego deverá sofrer alta histórica no próximo ano

Pesquisas de opinião divulgadas ao longo do mês de outubro mostraram a recuperação dos níveis de aprovação (bom/ótimo) do governo do presidente Jair Bolsonaro e do modo como enfrentou a pandemia do novo coronavírus nos últimos meses.

Em parte, os números são meio inacreditáveis, pois a principal política, se é que pode assim ser chamada, de Bolsonaro diante da covid-19 foi negar a gravidade da pandemia, difundir fake news sistematicamente, como a propaganda da cloroquina, e boicotar os esforços de governadores opositores em suas políticas estaduais para enfrentar o problema. A maioria dos analistas afirma que essa recuperação de popularidade deve-se fundamentalmente ao auxílio emergencial de R$ 600,00 pago durante os meses  de pandemia, o que também alimenta a galeria do surrealismo que marca a política brasileira, uma vez que Bolsonaro era contra esse valor no início da pandemia, que só foi aprovado graças à intervenção da oposição no Congresso Nacional.

Fake news e surrealismos à parte, essa recuperação de aprovação, porém, parece ter os pés de barro. No final de outubro, uma nova pesquisa do Instituto PoderData mostrou uma queda de quatro pontos percentuais na aprovação de Bolsonaro, que caiu de 52% para 48%. Já o nível de desaprovação passou de 41% para 42%. Na avaliação dos pesquisadores, entre as causas dessa queda, estariam as declarações de Bolsonaro contra a compra da vacina chinesa pelo governo brasileiro por, supostamente, “não ser confiável”.  Mas o que mais ameaça os níveis de aprovação do governo Bolsonaro é uma combinação explosiva de fatores externos e internos, na economia e na política.

Na economia, analistas do próprio mercado financeiro vem alertando para uma tempestade perfeita se formando no horizonte, com o agravamento das agendas econômicas e sociais para o país. Uma nota publicada dia 28 de outubro pela agência Bloomberg advertia: “à medida que o pior da crise da saúde diminui, a ansiedade aumenta nos círculos financeiros sobre como ele vai pagar por isso. Os investidores têm se livrado da moeda e de ações, gerando rotas quase sem paralelo no mundo este ano, e estão cada vez mais se recusando a comprar qualquer coisa, exceto os títulos do governo de curto prazo”.

Um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a inflação está atingindo os setores mais pobres da população três vezes mais do que os mais ricos. Segundo essa pesquisa, a disparada no preço dos alimentos está se refletindo diretamente na inflação percebida pelas famílias mais pobres, que mais do que triplicou em relação à das mais ricas em 2020. De janeiro a outubro, ela foi de 3,68%, enquanto a das famílias de alta renda ficou em 1,07%.

O aumento do desemprego é outra ameaça que bate à porta. O próprio secretário de Política Econômica do governo, Adolfo Sachsida, em um encontro virtual com representantes do Banco Safra, admitiu que o índice de desemprego deverá sofrer alta histórica no próximo ano. Segundo ele, isso ainda não ocorreu porque boa parte dos desempregados ainda não está buscando trabalho, o que faz com que ainda não apareçam nas estatísticas oficiais.

Além disso, a abertura desenfreada de atividades em todo o Brasil nas últimas semanas pode prolongar a primeira onda de contágio e mesmo acelerar a chegada da segunda onda, que já está atingindo Europa e Estados Unidos. Especialistas da área da saúde vêm alertando que o governo reduziu a aplicação de testes em momento crucial da pandemia e país segue no escuro em relação à escalada da pandemia. O Brasil fechou outubro com mais de 5,4 milhões de casos de covid-19 registrados e cerca de 160 mil mortos pela doença. No final de outubro, a média móvel de mortes ainda continuava no elevado patamar de 430 óbitos diários.

No cenário externo, o isolamento político do Brasil vem aumentando. As vitórias obtidas pela esquerda na Bolívia, com a eleição por uma ampla vantagem do candidato Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales, e no plebiscito que derrotou a Constituição da era Pinochet no Chile sinalizam que novos ventos estão circulando pela América Latina. A confirmação da derrota de Trump, na eleição nos Estados Unidos, só aumenta esse isolamento, empurrando o Brasil cada vez mais para a posição de pária internacional, com um presidente que despreza a ciência, o conhecimento, a diplomacia e a democracia.

 

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