SAÚDE

Crianças não estão sendo cobaias, afirma cientista

O infectologista Fernando Spilki adverte que a desinformação sobre vacinas vem de antes da pandemia e está abrindo caminho para novas e antigas doenças, algumas já controladas, como sarampo
Por César Fraga / Publicado em 17 de dezembro de 2021
Fernando Rosado Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica.BR, do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovações – responsável pelo sequenciamento do vírus SARS-CoV-2 em universidades e centros de pesquisa brasileiros – e professor titular da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo

Foto: Feevale/Divulgação

Fernando Rosado Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica.BR, do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovações – responsável pelo sequenciamento do vírus SARS-CoV-2 em universidades e centros de pesquisa brasileiros – e professor titular da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo

Foto: Feevale/Divulgação

A aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na última quinta-feira, 16, para uso da vacina da Pfizer-BioNTech (Comirnaty) contra a covid-19 em crianças com idade de 5 a 11 anos tem gerado debates familiares acirrados e debates na internet. Apesar da aprovação ter sido divulgada após rigorosa avaliação técnica da agência, muitos pais e mães ainda apresentam resistência em vacinar seus filhos. A principal alegação é que as crianças estariam sendo “cobaias”.

Neste contexto, o pesquisador e infectologista Fernando Spilki, da Feevale, publicou em suas redes sociais “minha única dúvida sobre vacinar meu filho mais novo é se vai ser no braço esquerdo ou direito”.

Ouvido pelo Extra Classe sobre o tema, ele foi categórico: “as crianças não estão sendo cobaias. Primeiro porque houve testes até para definição do tamanho da dose. E não só para esta vacina que foi autorizada agora, mas também com outras vacinas, inclusive para faixas etárias mais baixas, com até 3 anos de idade”.

Antivacina

Segundo ele, as pessoas precisam lembrar que esta vacina já está sendo amplamente distribuída e usada em diversos países. Alguns desses países possuem critérios de aprovação em suas agências, muito altos, com o é o caso do Estados Unidos. “Na Europa o uso é cada vez mais amplo. Na Dinamarca já está iniciando a vacinação. Então esta ideia de que é experimental não se confirma. É falsa! E, essas vacinas com uma formulação e uma carga um pouco mais baixa, temos de lembrar, que estamos falando de um grupo de vacinas com mais de 8 bilhões de doses aplicadas, se contabilizarmos toda a população já vacinada”.

O filho mais novo do cientista tem 10 anos e a mais velha tem 14. A menina foi vacinada aos 13 anos, tão logo a vacina foi liberada para a idade. “Ela teve os mesmos sintomas que todas as pessoas sentiram. Dor no braço e um pouco de indisposição, nada que um adulto já não tenha reportado há tempos. Estamos vacinados e felizes, só esperando para a vacinar o menor”, conta.

“Se as pessoas devido à desinformação promovida sobre vacinas para adultos, ao longo deste tempo de pandemia, tiveram medo de se vacinar, como pensar que esta mesma sociedade não ficaria ainda mais temerosa em relação à vacinação de crianças?”, questiona Spilki.

Ele adverte que a vacinação de crianças para outras doenças também está decaindo muito ao longo dos anos por conta da desinformação e de uma cultura antivacina. “Isso é muito preocupante porque está abrindo espaço para novas doenças e para o ressurgimento de surtos doenças que há muito já estavam controladas, como por exemplo o sarampo”, alerta.

Ômicron

“O que sabemos sobre a Ômicron, por enquanto é que a partir de ensaios de laboratório houve uma perda em relação a capacidade neutralização de anticorpos, que é até maior para outras variantes. Mas é importante ressaltar, primeiro que assim com nas demais variantes, nestes ensaios há uma variação muito grande entre indivíduos. E esses não medem todo espectro da imunidade e que, com os protocolos vacinais atuais, mesmo com outras variantes, a gente conseguiu obter sucesso com a imunização, principalmente no que se refere a imunização em casos graves. Por enquanto, e ainda são dados preliminares, a nossa aposta ainda é sim  nós teremos sucesso, principalmente com as política  de doses de reforço vacinal, mas isso teremos mais certeza nas próximas semanas.

Anvisa

“Com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, a vacina Pfizer-BioNTech, quando administrada no esquema de duas doses em crianças de 5 a 11 anos de idade, pode ser eficaz na prevenção de doenças graves, potencialmente fatais ou condições que podem ser causadas pelo SARS-CoV-2”, disse o gerente geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes.

Ele lembrou que as análises contaram com a participação de diversos especialistas tanto da Anvisa como de outras entidades. “Verificamos segurança e tolerabilidade, em uma primeira fase. Nela foram aplicadas doses diferentes. Com base no resultado, chegamos à conclusão de que deveriam ser aplicadas 10 microgramas, quantidade inferior à aplicada em adultos”, disse.

O gerente acrescentou que, na comparação entre crianças de 5 a 11 com pessoas de 16 a 25 anos  (considerando as doses correspondentes a cada grupo), foi identificada a presença de anticorpos nas crianças. “Observamos desempenho satisfatório da vacina também contra a variante Delta”, ressaltou.

Perfil de segurança

“E não há relato de nenhum evento adverso sério, de preocupação ou relato relacionado a casos muito graves ou mortalidade por conta da vacinação. Esse perfil de segurança é muito importante”, completou.

De acordo com a gerente geral de Monitoramento, Suzie Marie Gomes, as doses de vacinas para crianças é de um terço em relação à dose e à formulação aprovada anteriormente. Além disso a formulação pediátrica é diferente. Ou seja, não se pode fazer diluição da dose de adulto para a dose de criança.

Suzie Marie acrescenta que as crianças que completarem 12 anos entre a primeira e a segunda dose devem manter a dose pediátrica. A vacina da Pfizer-BioNTech já havia sido autorizada para aplicação em adolescentes com idade a partir de 12 anos.

Por fim, a gerente de Monitoramento ressalta que não há estudos sobre coadministração com outras vacinas e que, portanto, o uso de diferentes vacina não é indicado.

Segundo a Anvisa, a dose da vacina para crianças será diferente daquela utilizada para pessoas a partir de 12 anos. Os frascos também terão cores distintas para evitar erros na aplicação.

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