SAÚDE

Covid-19 e doenças respiratórias aumentam no Rio Grande do Sul

Frio, baixa vacinação e relaxamento de medidas sanitárias provocam superlotação dos serviços de saúde. Avanço da covid-19 já aponta para quarta onda da pandemia
Por Gilson Camargo / Publicado em 7 de junho de 2022

Envios diários

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Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

Rio Grande do Sul começa a aplicar quarta dose da vacina contra covid-19 nesta quarta-feira, 7. A imunização começa com as vacinas da Janssen e da Astrazeneca em estoque nos municípios

Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

O rápido crescimento do contágio pelas variantes da covid-19, a proliferação do vírus da influenza e outras doenças respiratórias que a partir de maio lotaram hospitais e setores de emergência das unidades de saúde, mantêm em alerta a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SESRS).

Os casos graves que exigem internação não param de crescer desde o dia 9 de maio, quando havia 134 pacientes em UTI por covid-19 no estado. Nesta terça-feira, 7, a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva atingiu 73,3%.

Das 2.495 vagas de UTI disponíveis em toda a rede hospitalar, 239 estão ocupadas com pacientes com diagnóstico positivo (171) ou com suspeita (68) de contágio por variantes do novo coronavírus. Quase 1,6 mil pacientes estão hospitalizados por outras doenças respiratórias de acordo com a SESRS.

Além das outras síndromes respiratórias, comuns à época mais fria no estado, e aos casos de dengue, também ocorreu um aumento na busca por atendimentos eletivos, represados durante a pandemia.

Os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) registraram um aumento de 15,46% entre a segunda semana de maio e a última segunda-feira.

Quarta onda

Foto: Caroline Souza/ Universidade Feevale

“Pessoas não vacinadas ou com ciclo vacinal incompleto ficam mais expostas e estão sujeitas a internação e até óbitos por covid”, alerta Spilki

Foto: Caroline Souza/ Universidade Feevale

Para o virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-Ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) ainda não é possível medir a magnitude dessa reincidência da pandemia.

Mas ele afirma que o aumento de casos é visível a ponto de caracterizar uma onda e que cuidados deveriam ser tomados para evitar um agravamento da situação.

“Estamos observando esse processo desde metade de abril, mas com um ritmo maior agora. É o início de uma quarta onda, mas felizmente ainda não se compara ao que o Brasil já passou”, explica.

O aumento das infecções por covid-19 se deve à proliferação de variantes derivadas de Ômicron e, no RS, especialmente a linhagem BA.2 e a recombinante XQ.

“A questão da gravidade merece sempre a ressalva de estar mais ligada à vacinação do que às próprias variantes: especialmente pessoas não vacinadas ou com ciclo vacinal incompleto ficam mais expostas e estão sujeitas a internação e até óbitos”, alerta.

De acordo com o pesquisador e pró-reitor da Universidade Feevale, a proliferação das Srag, incluída a covid-19, com aumento das internações e saturação das emergências, se deve a uma soma de fatores múltiplos.

“No caso da covid-19, variantes do vírus com elevada capacidade de transmissão, pouca adesão para fechar o ciclo completo de vacinação em adultos e crianças; a baixa adesão à vacinação de gripe; o baixíssimo uso de máscaras em ambientes onde há aglomeração”, enumera Spilki.

Foto: HNSG/ Divulgação

Das 2.495 vagas de UTI disponíveis em toda a rede hospitalar, 239 estão ocupadas com pacientes com diagnóstico positivo ou suspeita de contágio por covid-19

Foto: HNSG/ Divulgação

Alguns estados já reconsideraram e estão reorientando a população para o uso de máscaras e distanciamento com a proliferação das variantes.

No RS, permanece apenas a recomendação do uso de máscara para pessoas com sintomas de doenças respiratórias e obrigatoriedade da proteção no transporte coletivo e em hospitais.

O virologista avalia que não houve o cuidado de “uma liberação mais paulatina de barreiras que evitasse a sobrecarga de transmissão de patógenos respiratórios, um erro cometido em muitos locais do mundo que repetimos aqui no estado”.

Máscaras

“Seria uma decisão acertada evoluir novamente para um uso mais amplo de máscaras, especialmente em locais onde permanecemos por mais tempo e sujeitos a aglomerações, locais de trabalho, escolas, transporte público, atividades culturais”, alerta.

Spilki recomenda também definição de uma política mais clara e baseada em ciência para afastamento e retorno ao trabalho. Independente das medidas, as pessoas devem se proteger de forma individual. A máscara é uma parceira importante para evitar a transmissão”, lembra.

Infecções respiratórias e covid-19

Foto: SESRS/ Divulgação

Emergência fez Estado e municípios liberar a vacina contra a gripe (influenza) a toda a população acima dos 6 meses de idade

Foto: SESRS/ Divulgação

No país, a covid-19 está associada à maioria das internações por Srag. De acordo com o Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), a doença responde por 59,6% das hospitalizações por infecções nas vias aéreas desde que a covid-19 refluiu no país, em meados de maio.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde alertou que os casos de covid-19 voltaram a subir no país. Em menos de um mês, a média móvel de infecções saltou de 12 mil para 31 mil novos casos.

No RS, o aumento de casos de covid-19 ocasionou elevação também no número de internados em leitos clínicos (não UTI), entre suspeitos e confirmados – de 341 em 9 de maio para 737 em 31 de maio.

Ou seja, as hospitalizações mais que duplicaram em três semanas. A variação de confirmados e suspeitos em UTI, no mesmo período, de 9 a 31 de maio, passou de 134 para 215 – aumento de 60%.

A SESRS ainda não atualizou os dados para a primeira semana de junho.

O contágio acelerado também já traz reflexos ao número de óbitos causados pela doença. No início de maio, a média móvel de óbitos diários no RS era quatro. Na última semana de maio, a média móvel diária subiu para oito.

Vacinação incompleta

Tabela: SESRS

Tabela: SESRS

No final de maio, pela terceira semana consecutiva, o governo do estado emitiu novos avisos a todas as 21 regiões de saúde.

No sistema de gerenciamento da pandemia, isso significa que a população de todos os 497 municípios gaúchos, ou seja, mais de 12 milhões de pessoas, está vulnerável a essas doenças – em especial ao contágio pelas variantes do coronavírus.

“Estamos diante de um momento em que várias doenças, não só a covid-19, estão circulando, contaminando e causando superlotação de emergências e urgências, e um número alto de casos envolvendo crianças e de idosos”, admitiu a secretária da Saúde, Arita Bergmann.

Nesta terça-feira, 7, a secretária anunciou o início da aplicação do segundo reforço, ou quarta dose, da vacina contra a covid-19 para pessoas a partir de 50 anos e profissionais de saúde de todas as idades.

A vacinação para esses grupos deve começar na quarta-feira, 8.

Até agora, 80% da população residente no estado completou o esquema vacina primário de duas doses e apenas 53,9% tomaram a primeira dose de reforço.

Quarta dose

Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini / Arquivo

Segundo reforço (quarta dose) deve ser feito quatro meses após o primeiro (terceira dose)

Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini / Arquivo

No total, são 772.162 adultos entre 50 e 59 anos e 283.117 trabalhadores da saúde aptos a receber o reforço. A imunização será iniciada com as 191 mil doses da vacina da Astrazeneca e da Janssen distribuídas aos municípios nesta terça-feira.

Com a chegada de 1,2 milhão de doses da vacina da Pfizer, a partir da próxima semana, o imunizante passará a ser prioritariamente aplicado no Estado.

“São indivíduos que já estão apresentando diminuição na imunidade, se infectando pela primeira vez ou se reinfectando”, disse a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, explicando a necessidade de vacinar os dois grupos.

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