SAÚDE

Covid-19: crescem infecções por subvariantes da ômicron

Aumento dos casos de covid-19 provocados por subvariantes está relacionado à baixa vacinação e ao relaxamento das medidas de segurança
Por Gilson Camargo / Publicado em 21 de dezembro de 2022

Foto: Igor Sperotto

Um dos mais de 130 locais de testagem e vacinação contra covid-19 na capital, a Unidade de Saúde Modelo registrou movimentação atípica nesta semana devido ao avanço das infecções por subvariantes

Foto: Igor Sperotto

Depois de um pico de febre e dores no corpo, V. S., 24 anos, resolveu procurar a Unidade de Saúde Modelo, no bairro Santana, em Porto Alegre, na manhã desta quarta-feira, 21, para fazer o teste para covid-19.

Enquanto espera pela testagem, o jovem conta que que já tomou as duas doses iniciais e o primeiro reforço contra a doença, mas foi adiando a quarta dose, ou segundo reforço, por causa do trabalho.

Agora, devido à suspeita de ter sido infectado, afirma que pretende reavaliar sua conduta em relação à vacina. No Rio Grande do Sul, mais de 3 milhões de pessoas ainda não receberam a terceira dose da vacina contra covid-19 e 2,1 milhões estão com o segundo reforço (quarta dose) em atraso.

“Se der negativo, vou tomar a quarta dose. A vacina pode não evitar a covid, mas diminui os efeitos do vírus por que garante mais imunidade. Já tive covid e foi horrível. Achei que não ia sobreviver”, relata.

Na semana em que o país atingiu 148 mortes diárias por covid-19, a maior média desde 25 de agosto, e manteve uma média superior a 40 novos casos por dia por quatro dias consecutivos, ocorreu um aumento atípico da procura por testes e vacinas nas unidades de saúde.

No Rio Grande do Sul, o movimento coincide com o alerta da vigilância sanitária sobre os cuidados que a população deve adotar diante do avanço das variantes BQ.1 e BQ.1.1.

A epidemiologista Tani Ranieri, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) confirmou que o estado registra um “aumento significativo de casos” e que a circulação das subvariantes do vírus “está bem ampliada”, próxima à positividade registrada no período de prevalência da variante ômicron.

“Estamos praticamente atingindo o período da ômicron que foi um período como maior número de testes positivos. Hoje, de todos os testes que são realizados no estado, a positividade está próxima a 50%”, revela Tani.

A Vigilância Sanitária também constatou que uma grande parcela de pessoas infectadas não procuraram os serviços de saúde.

NESTA REPORTAGEM
“Temos percebido um número muito maior de pessoas que não foram se testar e que são positivas. A gente tem certamente uma subnotificação nesse momento, o que nos coloca numa situação possível de ser um número maior ou semelhante ao que a gente viveu com a ômicron no final de 2021 e início de 2022”, aponta.

Uso de máscaras

O uso de máscaras em áreas assistenciais de hospitais, pronto atendimentos, unidades da Atenção Primária em Saúde e instituições de longa permanência de idosos (ILPIs) voltou a ser obrigatório em Porto Alegre, devido ao aumento dos casos de covid-19.

O estado vem registrando em média mais de mil casos de contágio por dia pela subvariantes BQ.1, BQ.1.1 e BE9 do vírus SarsCov2.

A determinação consta no decreto nº 21.790, publicado no Diário Oficial de Porto Alegre (Dopa) e vale para instituições públicas e privadas. A medida está baseada em parecer da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e busca preservar os profissionais que atuam nas pontas dos serviços de saúde.

A decisão do Executivo Municipal foi tomada em consenso com representantes de hospitais, após reunião virtual. A prefeitura informou que está “atenta ao cenário epidemiológico e observa as variações de indicadores para as tomadas de decisões”.

Foto: Cristine Rochol/PMPA

Em Porto Alegre, apenas 61,3% da população tomou todas as doses da vacina contra covid-19

Foto: Cristine Rochol/PMPA

Segunda maior taxa de contágio

O RS é o segundo estado da federação em contágio por covid-19, considerando a densidade populacional. Com uma população de quase 11,4 milhões, o estado apresenta 24.937 casos por 100 mil habitantes e um acumulado de 282,79 casos em sete dias.

O maior volume de infectados foi registrado no Espírito Santo, com 32.268 casos e um acumulado de 465,21 casos por 100 mil habitantes – porém a população capixaba é cerca de 2,5 vezes menor que a gaúcha, pouco mais de 4 milhões de habitantes.

Os dados constam do Boletim Diário Coronavírus RS, divulgado pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (Seplag).

O que são subvariantes

A ômicron é uma variante do Sars-CoV-2, vírus que causa a covid-19.

A BQ.1 e BQ.1.1 são subvariantes da ômicron e apresentam mutações na proteína spike, localizada na superfície do Sars-CoV-2, que permite que o vírus se ligue à célula e a infecte.

Quanto mais completo o esquema vacinal de uma pessoa infectada com as novas variantes, menores serão as chances de agravamento da infecção, o sistema de defesa do organismo impede que o vírus chegue aos pulmões.

Arte: SES/RS

População gaúcha que ainda não tomou todas as doses da vacina está exposta às novas variantes

Arte: SES/RS

A mais transmissível e uma das mais agressivas variantes do SarsCov.2 desde o início da pandemia, a ômicron, ou B.1.1.529, chegou a apresentar 99,7% das amostras positivas sequenciadas em São Paulo e no RS em janeiro deste ano.

Embora menos agressiva, a variante com maior circulação no estado, a BQ.1.1, já supera a capacidade de contágio da ômicron.

“Estamos certos de que há uma grande circulação do vírus e, embora sem a mesma proporção de casos graves e óbitos, estamos reforçando as condutas de prevenção e controle como o uso de máscara em locais fechados, obrigatoriedade da proteção em hospitais, unidades de saúde, clínicas e farmácias”, completa Tani.

Máscaras, distanciamento, vacina

Uma nota técnica da Secretaria Estadual de Saúde foi divulgada pelo gabinete de crise com uma recomendação técnica para que as pessoas voltem a usar máscaras e mantenham o distanciamento diante do avanço das variantes.

“Temos 6 milhões de pessoas com esquema vacinal atrasado”, alerta a epidemiologista.

No início de dezembro, a CEVS apresentou um balanço da situação vacinal das vítimas fatais do coronavírus e demonstrou que quanto mais avançado o esquema de doses menor o risco de morte, chegando a reduzir a probabilidade de morte em até 16 vezes.

No estado, 3,5 milhões de pessoas não fizeram o primeiro reforço, 2,4 milhões não receberam o segundo reforço e 600 mil sequer não completaram o esquema primário de vacinas.

“Como diminuiu o número de hospitalizações e óbitos na comparação com a fase mais aguda da pandemia, há uma sensação de que o risco é menor, mas nós reforçamos que as pessoas devem repensar a sua conduta e seu esquema vacinal”, alerta a diretora da Vigilância Sanitária.

Ela reitera que a vacina é uma medida segura e eficaz contra a circulação do vírus, uma proteção coletiva da saúde pública.

“É importante lembrar que à medida que o tempo passa vai diminuindo a resposta imunológica e enquanto isso vírus está se transmutando. Por isso é fundamental completar o esquema vacinal”, destaca Tani.

Nova onda de covid-19

Arte: Seplag

Quase 6 milhões de pessoas estão sem a proteção completa das vacinas no estado

Arte: Seplag

Foto: Feevale/ Divulgação

“O cenário não seria de medidas extremas, mas de empreender mais esforço no diagnóstico, na vacinação e na conscientização de hábitos de prevenção”, defende Spilki, coordenador da Rede Corona-Ômica

Foto: Feevale/ Divulgação

O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, também avalia que nas últimas semanas e de acordo com os dados e projeções do Departamento de Economia e Estatística da Seplag, houve um aumento de casos no estado.

“O avanço mais notável e consistente está em casos. Há um aumento em óbitos, mas em proporção muito mais baixa do que em ondas anteriores, que pode ser atribuído ao avanço da vacinação”, explica.

No dia 19 de dezembro, a SES/RS registrou 1.354 novos casos em um dia e 81,4% de ocupação de leitos em UTI. Para o especialista, embora os índices de hospitalização e óbitos estejam em queda, o quadro é preocupante.

“Estamos agora vendo os efeitos em internação e óbitos do quadro de elevação de casos das últimas semanas. Por enquanto, observando o que vem ocorrendo em outros locais, não se prevê de fato um aumento tão consistente nestes índices e internação e mortes, mas fica claro que a doença não deve ser negligenciada”, recomenda.

Coordenador da Rede Corona-Ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Spilki mantém a avaliação de que as novas variantes estão promovendo uma nova onda de covid-19.

“Acho que está bem claro que estamos já em uma onda. No caso do RS, por enquanto, chama a atenção da ascensão das variantes B.Q1, B.Q1.1. Esse processo de evolução não para. É possível mitigar seus efeitos utilizando a vacinação em massa e associando cuidados individuais para evitar novas infecções”, aponta.

Ele concorda que o tema covid-19 sumiu do noticiário e da agenda das autoridades de saúde, ao menos no que se refere ao distanciamento social e medidas de proteção. Spilki chama a atenção para o prolongamento dos efeitos da doença.

Negligência

“De fato, não parece estar na prioridade das agendas, o que é um risco, basicamente por dois motivos: ainda temos um contingente importante de adultos com vacinação incompleta, suscetíveis a complicações; em segundo, cada vez estão mais claros os efeitos de longo prazo, da chamada covid longa, que deveríamos evitar, pois podem ser um ônus pessoal e ao sistema de saúde”, destaca.

“O cenário não seria de medidas extremas, mas de empreender mais esforço no diagnóstico, na vacinação e na conscientização de hábitos de prevenção, do bom senso individual no uso da máscara por exemplo, em situações de maior exposição”, pondera.

Sequelas

Na última semana, a Secretaria de Saúde anunciou a elaboração de políticas públicas de saúde para amparar vítimas de covid-19 que sofrem com sequelas físicas e emocionais causadas pela doença e pela perda de familiares.

O estado tem 2,8 milhões de infectados desde o início da pandemia e 41,3 mil óbitos.

Para Spilki, esse tipo de esforço é necessário. “As sequelas coletivas, psíquicas e na saúde de uma pandemia, e particularmente desta pandemia, são algo que necessita de atenção no longo prazo”.

O virologista acrescenta que as novas variantes são menos letais, mas nem por isso menos agressivas, considerando a gravidade dos sintomas e que é um erro subestimar a covid nesse momento.

“Definitivamente, pensando que muitos ainda estão suscetíveis, que podem haver efeitos de longo prazo e que nem sempre a evolução do vírus continua indefinidamente caminhando no sentido de uma perda de virulência, que exceções podem ocorrer, deveríamos ter mais cuidado”, alerta.

Burlando o sistema imunológico

Foto: Youtube/ Reprodução

“A vacina diminui imensamente as probabilidades das variantes atingirem os pulmões da pessoa infectada, por isso ela causa menos hospitalizações e óbitos”, explica Sprinz, do HCPA

Foto: Youtube/ Reprodução

Eduardo Sprinz, chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, instituição referência em tratamento de pacientes de covid-19, é taxativo: “Estamos sob uma nova onda de covid-19 que é causada por uma neta da ômicron, as variantes BQ.1, BQ.1.1”.

O infectologista explica que “a vantagem” dessas variantes em relação às derivações anteriores do vírus é que as BQ se disfarçam a ponto de enganar o sistema imunológico e, aliada a esse poder de enganar as defesas do organismo, ela aumenta o seu poder de transmissibilidade.

“Felizmente, há uma grande dissociação entre o número de novos casos e o número de casos graves, o que se deve à vacinação”, compara Sprinz.

De acordo com o infectologista, apesar do alto poder de transmissibilidade, a variante é menos agressiva e isso se deve justamente ao avanço da vacinação.

“A vacina diminui imensamente as probabilidades das variantes atingirem os pulmões da pessoa infectada, por isso ela causa menos hospitalizações e óbitos”, conclui.

Vacinação no país:

Pouco mais de 107 milhões de pessoas, ou 49,88% da população e 59,6% da população vacinável, receberam a dose de reforço.

172,4 milhões receberam as duas doses ou dose única, ou seja, 80,26% da população 86,15% da população vacinável.

Parcialmente imunizados 182.4 milhões ou 84,9% da população e 91,13% da população vacinável.

Crianças

Foram imunizadas 9,9 milhões ou 37,47 dos 3 aos 11 anos e 14,3 milhões (54,14%) tiveram somente a primeira dose. infecções, infecções, infecções, infecções, infecções, infecções, infecções

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