CULTURA

A sofisticada arte de Adriana Deffenti

Por César Fraga / Publicado em 23 de setembro de 2006

Já faz algum tempo que lançamentos de CDs de cantoras deixaram de ser notícia. No máximo rendem tijolinhos, notas curtas. Não porque não haja qualidade na média das produções, longe disso, mas porque muitas vezes se tratam de novas elises, calcanhottos, marisas e gals. Até mesmo Maria Rita sente ainda hoje este fardo por ter estampa e registro vocal muito próximos de sua mãe.

ilustra_extratoMas esse não é o caso deste segundo álbum da cantora Adriana Deffenti, que carrega na capa apenas seu nome. Apesar de segundo, o CD tem pinta de début, além de carregar no seu interior a marca de uma artista madura, embora jovem. Deffenti conquistou em diferentes anos os prêmios Açorianos de artista revelação (2002) e de melhor intérprete (2003), à época de seu primeiro CD “Peças das pessoas”. Cada vez mais fica evidente, nas gravações e nos shows, que ela possui um registro vocal próprio, presença plástica marcante, enquanto intérprete, e um repertório focado nas suas convicções musicais, sem medo de cantar difícil coisas que resultam fáceis de ouvir, mesmo para ouvidos médios. E isso está no disco. A concepção do CD passa longe da pseudomodernidade em que predominam bossas a eletrônicas e sambas drum’n bass, até porque isso já soa meio ultrapassado. Com predominância de instrumentos acústicos, as músicas mostram-se bastante orgânicas e por vezes viscerais.

Adriana escolheu para este novo trabalho canções de Herbert Vianna (a belíssima Luca); Maria João e Mário Laginha; Nei Lisboa e Hique Gomez; Luis Tatit; Raul Elwanger; Vitor Ramil; entre outros. Um dos muitos pontos altos do disco é a faixa de abertura, uma regravação da canção O recado delas, anteriormente registrada no disco “Chorinho feliz” (Verve Records, EUA), em 2000, pelos seus autores, a cantora Maria João e o pianista Mário Laginha, ambos portugueses. Aliás, um outro aspecto do CD é que ele soa internacional. Adriana arrisca-se aqui e ali de forma muito acertada ao cantar à sua brasilidade sulista os sotaques de Espanha e Portugal ao longo do disco, às vezes em uma mesma canção.

Outra opção que salta aos ouvidos é a sutileza rítmica, insinuada quando muito pela percussão tocada por Caíto Marcondes. A predominância é dos violões concebidos pela própria Adriana ao lado de Ângelo Primon e Marcelo Corsetti, este último também produtor do álbum. O CD é lançamento da gravadora Orbeat, ligada ao grupo RBS, o que pode ajudar a dar impulso na carreira da artista se o disco for tratado como merece pelos executivos, principalmente em um momento em que trabalhos de artistas novos encontram cada vez mais dificuldade de entrar no mercado.

DILEMAS CONTEMPORÂNEOS

DILEMAS CONTEMPORÂNEOS
Metamorfoses da cultura contemporânea (Sulina, 176 p.). Organizada por Fernando Schuler e Juremir Machado da Silva, a obra é o resultado do Seminário Internacional Metamorfoses da Cultura Contemporânea, realizado em outubro de 2005. Iniciativa do Projeto Copesul Cultural, que foca o debate sobre a cultura, o Seminário contou com as participações de Jean Baudrillard, Gianni Vattimo, Michel Maffesoli, Renato Janine Ribeiro, Muniz Sodré, Sérgio Paulo Rouanet, Carlos Roberto Cirne Lima, Donaldo Schüler e Arnaldo Jabor. Os teóricos abordaram questões e dilemas típicos da época em que vivemos: catástrofes naturais, xenofobia, guerras, entre outros.

ANÔNIMOS
A jornalista Eliane Brum, ganhadora do prêmio Açorianos de Literatura como autora revelação, em 1994, reúne crônicas-reportagens publicadas no jornal Zero Hora nos anos 90 em A vida que ninguém vê (lançamento da Arquipélago Editorial, 208 p.). Um mergulho no cotidiano de tragédias e comédias dos personagens sem nome (e sem voz) das grandes cidades para contar histórias que não aparecem nos jornais.

 

DISCURSO
O professor e jornalista Álvaro Larangeira analisa o discurso do Partido dos Trabalhadores e da RBS, levanta os pontos opostos e convergentes, mostrando o universo de cada uma das instituições em Comunicação monoteísta – A fonte dos discursos do Partido dos Trabalhadores e da Rede Brasil Sul (Sulina, 239 p.).

 

EDUCAÇÃO BÁSICA
A legislação educacional vigente, questões relacionadas à autonomia e elaboração de projeto educacional próprio e sua prática são retratados na obra Escola de Educação Básica – Institutos legais, organização e funcionamento, de Ires Parisotto Caleieraro (Editora Salles, 142 p.). O livro pretende ser um auxiliar no processo administrativo das escolas. Ires Parisotto Caldieraro é pedagoga e especialista em Educação. Foi diretora de escola e inspetora de ensino na Secretaria Estadual de Educação do RS.

ESPAÇOS SOCIAIS
Saberes e práticas na construção de sujeitos e espaços sociais – Educação, geografia, interdisciplinaridade (Ufrgs, 341 p.), organizado por Nelson Rego, Jaqueline Moll e Carlos Aigner, apresenta reflexões e propostas para o ensino nos níveis Fundamental e Médio. Terceiro volume da coleção Geração de ambiências, a obra reúne textos de diversos autores locais (entre os quais Clarinha Glock e Rosina Duarte), tendo como fio condutor o ensino, a Geografia e áreas afins, sob a perspectiva da educação popular e das experiências práticas.

Colaborou Daniela Santos

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