ECONOMIA

Preço da cesta básica exige salário cinco vezes maior

De acordo com a estimativa do Dieese, o salário mínimo necessário em Porto Alegre deveria ser de R$ 6.535,40 ou seja, mais de cinco vezes o mínimo atual
Por César Fraga / Publicado em 8 de junho de 2022

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Foto: Tânia Rego / Ag. Brasil

Diante do preço da cesta básica de R$ 768,76 (em Porto Alegre), um trabalhador precisa de 139 horas e 32 minutos de sua jornada para comprar a cesta básica e compromete 68,57% do salário mínimo líquido (R$ 1.212)

Foto: Tânia Rego / Ag. Brasil

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou nesta quinta-feira, 8, os resultados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos de Maio 2022 em que publica mensalmente o preço da cesta básica e a relação desta com os salários dos trabalhadores.

Porto Alegre fica em terceiro lugar entre as cestas básicas mais caras do país, atrás apenas de São Paulo e Florianópolis.

De acordo com o levantamento, o valor do conjunto de bens alimentícios básicos registrou queda de 1,55%. Porto Alegre seguiu a tendência.

O valor do conjunto de itens básicos, na capital gaúcha é R$ 768,76. A variação mensal segue a média nacional (-1,55%). Porém, a variação no ano segue alta (12,57%). Nos últimos doze meses já atinge 20,69%.

Preços em alta, salários em baixa

Com isso, um trabalhador precisa de 139 horas e 32 minutos de sua jornada para comprar a cesta básica e compromete 68,57% do salário mínimo líquido (R$ 1.212,00).

De acordo com a estimativa do Dieese, o salário mínimo necessário em Porto Alegre deveria ser de R$ 6.535,40 ou seja, mais de 5 vezes o mínimo atual.

O cálculo leva em conta a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

Trabalhador gasta 70% do salário no básico

“Hoje o salário mínimo está muito aquém das necessidades de uma família da classe trabalhadora. Para entender o cálculo considera-se ainda uma família de dois adultos e duas crianças, multiplica-se o valor da cesta básica por três e chegaremos ao valor de R$ 2.333,79. Pelo índice de custo de vida do Dieese sabe-se que o gasto para o extrato mais baixo de renda por mês é de 35%. Isso significa que se 35% equivale a R$ 2,33 mil, o salário mínimo necessário para fazer frente às demandas das despesas do orçamento é de R$ 6.535,40, em São Paulo, por exemplo”, explica a economista chefe do Dieese, Daniela Sandi.

Na opinião da economista, é preciso retomar urgentemente a política de valorização do salário mínimo, porque o país segue profundamente desigual e a fome e a miséria aumentam.

“Nos últimos quatro anos os alimentos subiram bem acima da média de inflação, retirando poder de compra justamente da população que sente mais o peso proporcional dos alimentos e do gás de cozinha”, contextualiza.

Menor poder de compra de alimentos em 17 anos

Segundo Daniela Sandi, a queda do custo da cesta básica em maio não significa necessariamente um alívio, pois ela foi muito influenciada pelo preço do tomate. Esse item frequentemente tem uma oscilação maior por conta do clima e por ter ciclos de produção mais curtos.

“Se olharmos mais atentamente a maior parte dos produtos da cesta básica continuaram subindo, como foi o caso do pão, farinha, óleo de soja, leite, café. Além disso, mesmo com a queda, se considerarmos os níveis salariais hoje no Brasil, o custo de vida ficou muito elevado para os salários vigentes”, destaca.

A técnica do Dieese sublinha que em 2022 os brasileiros possuem o menor poder de compra do salário frente aos alimentos dos últimos 17 anos. Hoje, um trabalhador gasta 70% da sua renda somente com a compra da cesta básica, sobrando muito pouco para os demais itens do orçamento.

Trabalhador ganha em real e paga em dólar

“Sabemos que o problema não é a falta de produção e sim ao abandono dos principais instrumentos e das políticas que mitigam os efeitos das altas como: estoques reguladores, políticas de preço de energia e combustíveis, valorização do salário mínimo. O que estamos vivendo hoje é resultado das escolhas políticas do governo”, defende Daniela.

A economista argumenta que o poder de compra está corroído e a alta inflacionária se concentra nos itens essenciais, como alimentação, gás, energia elétrica, água.

“Estamos pagando o preço em dólar, cotado no mercado internacional sendo que somos um dos maiores produtores de alimentos e petróleo do mundo. A maior parte dos produtos e tarifas está dolarizada e o trabalhador não tem como se defender e enfrentar essas altas sozinho. O governo deveria estar atuando para tomar medidas específicas para amenizar os efeitos econômicos”, conclui.

Baixou

Dos 13 produtos que compõem o conjunto de gêneros alimentícios essenciais 5 ficaram mais baratos: o tomate (-19,96%), o arroz (-0,88%), o feijão (-0,82%), a carne (- 0,62%) e o açúcar (-0,44%). Por outro lado, oito itens ficaram mais caros: a batata (8,51%), a banana (5,49%), a farinha de trigo (5,41%), o óleo de soja (3,89%), o leite (3,52%), o café (2,35%), o pão (1,05%) e a manteiga (0,56%). Nos primeiros cinco meses do ano, a cesta acumula alta de 12,57%.

Subiu

Os 13 produtos pesquisados registraram alta: a batata (62,50%), o leite (31,05%), a farinha de trigo (26,88%), o óleo de soja (21,74%), a banana (20,44%), o café (18,27%), o pão (15,88%), o tomate (9,42%), a carne (6,82%), a manteiga (6,05%), o arroz (5,85%), o feijão (5,27%), e o açúcar (0,67%). Em doze meses, a cesta básica registrou alta de 20,69%, 11 itens ficaram mais caros: o café (64,58%), o tomate (40,57%), a batata (37,84%), o açúcar (34,23%), o leite (33,87%), banana (28,34%), o óleo de soja (26,63%), a farinha de trigo (25,27%), o pão (20,79%), a carne (15,38%) e a manteiga (14,85%). O arroz (-15,20%) e o feijão (-3,39%) ficaram mais baratos.

O preço do tomate contribui para queda no custo da cesta na maioria das cidades pesquisadas.

Conjunto de alimentos

Em maio, o valor do conjunto dos alimentos básicos diminuiu em 14 das 17 capitais onde o Diesee realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. Entre abril e maio, as quedas expressivas ocorreram em Campo Grande (-7,30%), Brasília (-6,10%), Rio de Janeiro (-5,84%) e Belo Horizonte (-5,81%). As elevações foram registradas em Belém (2,99%), Recife (2,26%) e Salvador (0,53%).

São Paulo foi a capital onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo (R$ 777,93), seguida por Florianópolis (R$ 772,07), Porto Alegre (R$ 768,76) e Rio de Janeiro (R$ 723,55). Nas cidades do Norte e Nordeste, onde a composição da cesta é diferente das demais capitais, os menores valores médios foram registrados em Aracaju (R$ 548,38) e João Pessoa (R$ 567,67).

Alta do preço da cesta básica em todas as capitais

A comparação do valor da cesta entre maio de 2022 e maio de 2021 mostrou que todas as capitais tiveram alta de preço, com variações que oscilaram entre 13,17%, em Vitória, e 23,94%, em Recife.

Com base na cesta mais cara, que, em maio, foi a de São Paulo. Em maio de 2022, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.535,40, ou 5,39 vezes o mínimo de R$ 1.212,00. Em abril, o valor necessário era de R$ 6.754,33, ou 5,57 vezes o piso mínimo. Em maio de 2021, o valor do mínimo necessário deveria ter sido de R$ 5.351,11, ou 4,86 vezes o valor vigente na época, de R$ 1.100,00.

Salário mínimo versus preço da cesta 

Em maio de 2022, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 120 horas e 52 minutos, menor do que o registrado em abril, de 124 horas e 08 minutos. Em maio de 2021, a jornada necessária ficou em 111 horas e 37 minutos.

Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, em maio de 2022, 59,39% do rendimento para adquirir os produtos da cesta, menos do que em abril, quando o percentual foi de 61,00%. Em maio de 2021, quando o salário mínimo era de R$ 1.100,00, o percentual ficou em 54,84%.

Comportamento do preço da cesta básica

PÃO – Pelo segundo mês consecutivo, o preço do quilo do pão francês subiu em todas as cidades. Entre abril e maio, as altas mais expressivas foram observadas no Rio de

FARINHA – Janeiro (3,82%), em Salvador (3,79%) e Belém (3,66%). Também a farinha de trigo, pesquisada no Centro-Sul, apresentou elevações significativas em todas as capitais, com destaque para as taxas de Vitória (8,33%), Goiânia (7,74%) e São Paulo (5,58%).

A baixa disponibilidade interna do grão, a menor produção de trigo na Argentina e na Ucrânia e a preocupação com a menor oferta mundial resultaram em aumento dos preços, com repasse para a farinha e o pão francês.

LEITE – O leite integral registrou aumento de preços em 17 cidades, entre abril e maio. As maiores elevações ocorreram em Natal (7,63%), Recife (7,42%) e Vitória (6,80%). O crescimento da exportação, a queda nas importações e a entressafra reduziram a quantidade de leite disponível e influenciaram a valorização dos derivados lácteos, como o queijo muçarela e o leite UHT.

FARINHA DE MANDIOCA – A farinha de mandioca, pesquisada no Norte e Nordeste, apresentou aumento de preço em todas as cidades, com destaque para as variações de João Pessoa (8,33%) e Salvador (3,26%). A baixa oferta de mandioca e a forte demanda industrial fizeram com que cotação da farinha subisse no varejo.

CAFÉ – O preço do quilo do café em pó teve alta em 13 capitais. As principais ocorreram em Natal (4,84%), Belém (4,48%) e Aracaju (3,06%). As diminuições foram registradas em Campo Grande (-4,91%), Brasília (-3,86%), Vitória (-2,34%) e no Rio de Janeiro (-1,67%). Os movimentos do preço internacional explicaram as elevações no varejo. Já o avanço da colheita no Espírito Santo foi o principal responsável pelas quedas nas cotações.

FEIJÃO – O feijão teve alta em 12 capitais. O tipo carioquinha aumentou em todas as capitais onde é pesquisado: no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo. As taxas variaram entre 0,10%, em Brasília, e 14,35%, em Goiânia. Já o preço do feijão preto, pesquisado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, diminuiu nessas cidades, exceto em Florianópolis, onde o valor médio não variou. A     queda     mais     expressiva     ocorreu     no     Rio     de     Janeiro (-4,20%). A menor oferta do grão carioquinha e o clima frio foram os responsáveis pela alta do grão desse tipo.

TOMATE – O tomate teve o preço reduzido em quase todas as capitais, exceto em Belém (5,42%). As quedas mais importantes foram anotadas em Campo Grande (-40,04%), Rio de Janeiro (-37,77%), Brasília (-31,48%) e Belo Horizonte (-31,16%). A maior oferta do fruto deve-se ao avanço da safra de inverno e à rápida maturação.

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