POLÍTICA

Baixo prestígio marca posse de Bolsonaro

Cerimônia registrou metade da participação de autoridades internacionais e boicote de governadores
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 1 de janeiro de 2019

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Presidente Jair Bolsonaro saúda o povo depois de receber a faixa presidencial de Michel Temer

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É notório que a data estipulada pela Constituição de 1988 para a posse presidencial não é propícia para a presença de autoridades internacionais, devido as festividades da passagem de ano. Mesmo assim, o Brasil já foi mais prestigiado, verificada as presenças na posse de Jair Bolsonaro (PSL) nessa última terça-feira, 1º de janeiro de 2019. A presença tradicional do presidente de Portugal se manteve. Já o presidente da Argentina, país estrategicamente importante para o Brasil, não compareceu. A França, que sempre se fez representar por ministros de Estado, dessa vez diante da recente mal-estar entre Bolsonaro e integrantes do seu corpo diplomático, compareceu apenas com seu embaixador por determinação da equipe de Emmanuel Macron.

Concretamente, a posse de Bolsonaro, com 12 chefes de Estado ou de governo confirmados, manteve a média de cerimônias anteriores que costumaram reunir entre 10 a 14 autoridades estrangeiras desse nível, com exceção da primeira posse de Dilma Rousseff que, após o internacionalmente prestigiado governo Lula, reuniu 21. Mas, dentro da média, se Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva respectivamente trouxeram ao país o ex-primeiro-ministro da França Michel Rocard e o na época premiê da Suécia Hans Göran Persson, Jair Bolsonaro contou com duas personalidades no mínimo controversas: os primeiro-ministros da Hungria, Viktor Orbán e Binyamin Netanyahu, de Israel.

Orbán, ultranacionalista no poder desde 2010, sofre forte pressão da União Europeia por sua política anti-migração e enfrenta protestos nas ruas. Acusado de medidas que ameaçam a democracia, o premiê húngaro fez com que seu país recebesse em setembro de 2018 uma moção de censura do Parlamento Europeu, que abriu também um processo disciplinar por violações ao Estado de Direito. É a primeira vez que o artigo 7 dos tratados da União Europeia é utilizado e em última instância pode levar à suspensão do poder de voto da Hungria no Conselho Europeu, que reúne os chefes de governo e de Estado do bloco.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acompanha no Congresso Nacional a posse do presidente Jair Bolsonaro.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Já Netanyahu, líder de maior peso político presente, decidiu pela antecipação das eleições em Israel para evitar ser denunciado por corrupção, conforme desejo da polícia e promotoria pública de seu país. Denunciado pela terceira vez em sua gestão, o premiê de acordo com a polícia israelense deveria ser processado por recebimento de propina, fraude e quebra de decoro e tem um histórico familiar interessante: sua esposa, Sara, está sendo julgada por fraude e quebra de confiança por usar dinheiro público para contratar cozinheiros de luxo e seu filho mais velho, Yair, foi banido do Facebook por propagar discurso de ódio contra palestinos e muçulmanos.

Governadores boicotam

Com as posses estaduais geralmente programadas para a manhã do 1º de janeiro para não coincidir com a transmissão da faixa presidencial, Bolsonaro também viu uma diminuta comitiva de governadores em sua cerimônia. Somente oito governadores foram registrados no evento, ao contrário dos 15 que estiveram presentes na posse de Dilma Rousseff.

Conforme o jornal O Globo, os governadores do Nordeste boicotaram a posse presidencial. “Todos os nove governadores eleitos na região programaram as cerimônias de transmissão de governo para o período da tarde, competindo com a posse presidencial – iniciada às 15h”, registrou O Globo.

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