MOVIMENTO

Marcha das Margaridas espera reunir mais de 100 mil mulheres em Brasília

Mobilização de mulheres que acontece desde 2021 entregou pauta de reivindicações ao governo federal: "pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver"
Da Redação / Publicado em 15 de agosto de 2023
Marcha das Margaridas espera reunir mais de 100 mil mulheres em Brasília

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Coordenação da Marcha das Margaridas entregou ao governo Lula a pauta de reivindicações dividida em 13 eixos políticos que serão debatidos no evento

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Mais de 100 mil mulheres brasileiras do campo, da floresta, das águas e das cidades, além de representantes de 33 países, são esperadas nesta terça-feira, 15, e quarta, 16, em Brasília, na 7ª Marcha das Margaridas.

Coordenado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), federações e sindicatos filiados e 16 organizações parceiras, o movimento ocorre a cada quatro anos.

A edição de 2023 tem como lema “Pela Reconstrução do Brasil e pelo bem viver”.

A Marcha das Margaridas mobiliza trabalhadoras rurais, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, sem-terra, extrativistas, da comunidade LGBTQIA+ e moradoras de centros urbanos.

Para a Contag, a marcha é a maior ação política de mulheres da América Latina.

Pautas

As principais demandas reivindicadas este ano pelas “margaridas” estão divididas em 13 eixos políticos que serão debatidos nos dois dias do evento:

Democracia participativa e soberania popular;

Poder e participação política das mulheres;

Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo;

Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade;

Proteção da natureza com justiça ambiental e climática;

Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética;

Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios (criação de reservas extrativistas, manejo da pesca pesca, etc.);

Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns;

Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional;

Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda;

Saúde, Previdência e Assistência Social pública, universal e solidária;

Educação Pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo;

Universalização do acesso à internet e inclusão digital.

A coordenadora-geral da Marcha e secretária de Mulheres da Contag, a piauiense Mazé Morais, afirma que são esperadas do governo federal resoluções ao final da mobilização em relação à pauta construída em diversas reuniões realizadas desde 2021 pelo país.

“Construímos uma pauta e a entregamos ao governo em 21 de junho. Um governo do campo popular democrático. A nossa expectativa é que as autoridades, no ato de encerramento da marcha, possam, de fato, fazer anúncios relevantes em relação às políticas públicas, a programas, espaços importantes, que realmente causem impacto na vida das mulheres em todos os territórios do Brasil”, disse.

Conquistas e esperança

“Essa é a marcha da esperança, porque estamos muito confiantes quanto à retomada dos programas, das políticas, conquistas, que ao longo do caminhar de muita luta, nós, as margaridas, conquistamos. Infelizmente, muitas delas foram retiradas, extintas. Então, há uma expectativa muito grande de que vai ser uma grandiosa marcha, com a representatividade linda da diversidade que somos todas nós”, completou Mazé.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, disse que nos últimos meses a pasta trabalhou em parceria com outros ministérios para garantir respostas às diversas reivindicações das margaridas.

“Desde ações de enfrentamento à violência contra as mulheres e garantia da autonomia econômica, à proteção dos biomas e justiça climática, por exemplo”, explicou Cida.

A ministra enfatizou que integra “um governo que respeita as mulheres do campo, da floresta e das águas” e que tem a participação social como eixo fundamental na construção e implementação de políticas públicas.

“Então, a Marcha das Margaridas é essa força que move estruturas e que impulsiona o Brasil rumo ao desenvolvimento sustentável, ao bem viver”, apontou.

Assassinato de Margarida segue impune

Desde 2000, o nome da marcha é uma homenagem a Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.

A dirigente foi assassinada em 12 de agosto de 1983 por lutar pelos direitos da categoria. Desde então, a liderança se tornou símbolo da resistência de milhares de homens e mulheres que buscam justiça e dignidade.

Latifundiários da região são suspeitos do homicídio. Mas, até hoje, o crime segue sem solução e os mandantes não foram condenados.

O caso de Margarida Maria Alves chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde, de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, se tornou um marco na denúncia das violações sistemáticas dos direitos fundamentais.

Em abril de 2020, a comissão publicou o Relatório de Mérito 31/20 sobre o caso. O documento concluiu que o Estado brasileiro é responsável pela violação dos direitos à vida, integridade pessoal, proteção e garantias judiciais de Margarida Alves e as pessoas indicadas no relatório internacional.

O documento ainda faz recomendações ao Estado brasileiro sobre como reparar integralmente os familiares da vítima, tornar a investigação efetiva para esclarecer os fatos e fortalecer o Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, concentrando-se na prevenção de atos de violência.

Quatro décadas após o assassinato da paraibana, a secretária Mazé Morais defende a memória da sindicalista que lutou pelos trabalhadores do campo. “Margarida será sempre a nossa inspiradora e é por isso que a gente segue em marcha”.

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