MOVIMENTO

Carreatas de motoristas de aplicativo contra PLP 12/2024 viraram comícios eleitorais

De olho nas eleições municipais, partidos de direita exploram desinformação para projetar seus candidatos nas eleições municipais deste ano  
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 26 de março de 2024

Carreatas de motoristas de aplicativo contra PLC viram comícios eleitorais

Foto: Redes Sociais/Reprodução

Foto: Redes Sociais/Reprodução

Com chamadas explorando desinformações a respeito do Projeto de Lei Complementar (PLP) 12/2024 que estabelece regulamentação mínima ao criar a categoria profissional dos motoristas em aplicativos, parlamentares e pré-candidatos a vereador para as eleições municipais prometeram grande mobilização nacional para esta terça-feira, 26.

Se a ideia vendida era uma paralisação nacional contra a PLP, no entanto, o que se viu foram atividades mais ou menos esvaziadas e restritas a algumas capitais, onde parlamentares de oposição ao governo Lula (PT) fizeram palanque para seus candidatos a vereador.

A tônica de muitos discursos foi contra a representação dos motoristas na Comissão Tripartite (Governo, Trabalhadores e Empresários) responsável pelo acordo que tramita em caráter de urgência na Câmara dos Deputados para regulação do transporte por aplicativo.

De forma paradoxal, entidades que chamaram os atos alegaram que os participantes do grupo tripartite são “sindicais” e não representam os motoristas. Por outro lado, alguns dos que questionam a organização dos trabalhadores formam associações paralelas para representa-los.

Verdadeiros comícios

Carreatas de motoristas de aplicativo contra PLC viram comícios eleitorais

Foto: Redes Sociais/Reprodução

Foto de palanque em Minas Gerais que circula nos grupos de WhatsApp de motoristas

Foto: Redes Sociais/Reprodução

“O que tivemos aqui foi um verdadeiro comício. Um vereador, um deputado estadual. Só se falava em imposto. Ninguém falou da PLP, o que é bom ou ruim para o motorista”, ilustra Carlos Alexandre do Nascimento, presidente do Sindicato dos Condutores de Transporte Remunerado Privado Individual de Passageiros, Por Meio de Aplicativos do Estado de Alagoas.

Em um estado com 20 mil motoristas, “foi um fiasco”, diz ele sobre os 50 carros que fizeram uma carreata rumo a Assembleia Legislativa de Alagoas, em Maceió.

Situações idênticas foram verificadas pelo Extra Classe em outros estados e denunciadas por lideranças sindicais que representam motoristas de aplicativos como Uber e 99.

Do Rio Grande do Sul, Carina Trindade, alerta que a chamada para a paralização foi feita por uma federação de associações contrárias ao PLP sob liderança da direita e por muitos candidatos a vereador que buscam base entre os motoristas de aplicativos.

Ela que é presidente do Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul (Simtrapali) registra que 40 carros rumaram até a Assembleia Legislativa Gaúcha sob liderança de um pré-candidato a vereador pelo Podemos e pelo deputado federal Zucco (PL) um dos principais detratores do governo federal no estado.

“Nacionalmente, a maioria é de pré-candidatos também”, afirma Carina que tem interlocução com lideranças de motoristas Brasil afora sobre as pessoas a frente da mobilização.

A favor das plataformas

“Adesão muito baixa, aqui no Rio de Janeiro. No universo de 300 mil motoristas, não foram nem 1%, declara o presidente do Sindicato de Motoristas e Entregadores por Aplicativos do Rio de Janeiro (Sindimobi), Luiz Corrêa.

Para ele, a maioria dos motoristas entendeu que o movimento foi uma ação política para promover candidatos a vereador e levantar bandeiras contra o governo federal.

“Não querem melhorar a regulamentação e sim derrubar o PL, fazendo um favor para as empresas”, denuncia.

Corrêa entende que a regulamentação garante a criação da categoria, um ganho mínimo, previdência, acesso ao que chama caixa preta das empresas e acordos coletivos anuais para melhorar os ganhos dos trabalhadores.

“Com a regulamentação vamos conseguir inúmeros direitos que os taxistas têm hoje”, declara o dirigente.

O referido favor às plataformas chegou a ser escancarado em Belo Horizonte, segundo a presidente do Sindicato dos condutores de veículos que utilizam aplicativos do estado de Minas Gerais (Sicovapp), Simone Almeida.

“Aqui em Belo Horizonte vários candidatos a vereador subiram em um carro de som patrocinado por um aplicativo local para falar somente sobre briga partidária.

Não houve muita adesão. Hoje somos 120.000 motorista só na região metropolitana e não aderiu nem 1% dos trabalhadores”, contabiliza ela.

Não colou  com a maioria dos motoristas

No Rio Grande do Norte, a avaliação dos diretores do Sindicato dos Motoristas por Aplicativos do estado (Sintat/RN) é que a baixa adesão à paralisação contrária ao PLC se deu por ela ter sido convocada por précandidatos a vereador.

“Surfar em cima dos problemas da categoria, é algo que não dá pra aceitar”, assevera  o Carlos Cavalcanti, presidente do Sintat/RN.

No meio de toda a situação, o dirigente chegou até avaliar como positiva a manifestação.

“Mostrou o que realmente importa para a categoria, visto que o PL 12/2024 cria de fato a profissão, dando direitos e garantias aos trabalhadores. A baixa adesão, para Cavalcanti, reflete justamente que a má intenção da desinformação acabou não colando.

Vários candidatos a vereador também marcaram presença no ato em São Paulo, estado que reúne o maior número de motoristas de aplicativos.

De acordo com Leandro Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transportes Terrestres Intermunicipal do Estado (Stattesp), foram só para subir no carro de som, “criticar o movimento sindical e não apresentar soluções ao PL”.

Conforme Cruz, são 600 mil motoristas no estado e a atividade não chegou a reunir 300 pessoas.

“Ou seja, a categoria rejeitou o chamado das associações e youtubers, o PL 12/2024 é a solução da categoria, início de uma grande jornada. Quem é contra a PL 12/2024 é a favor das plataformas”, reflete o dirigente sindical.

Pouca gente, muita politicagem

“Aqui na capital, Belém, deu um pouco mais que 30 motorista. A informação que eu tive é que eles (manifestantes contra a PLC 12/2024) saíram da frente da assembleia legislativo do Estado para se unir ao grupo de manifestante da educação municipal que estão no início da entrada da cidade. Isso pra mostrar quantidade, como se fosse motoristas”, diverte-se Euclides Magno, presidente do Sindicato de Motoristas de Transportes por Aplicativo do Estado do Pará (Sindtapp).

No Piauí, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes de Passageiros e Entregas por Aplicativo no Piauí (Sinttapp/PI), Maria do Carmo Rodrigues da Silva (Carminha), também registra baixa adesão ao movimento contrário ao PLC.

Ela faz questão de registrar que a entidade que dirige, ao contrário do que alega a federação nacional das associações contrárias ao projeto construído pela comissão tripartite, discutiu bastante o assunto com sua base.

“Fizemos reuniões,  assembleias e, em nossa sede, em alguns períodos estivemos falando e ouvindo a categoria sobre a PL. Infelizmente o ato de hoje prova ser um palco político ou politicagem”, dispara.

O movimento promovido por setores ideologicamente próximos ao bolsonarismo não chegou a emplacar nem mesmo em estados onde o ex-presidente fez a sua maior votação proporcional na campanha derrotada para reeleição.

“Aqui em Curitiba teve uma adesão mínima de motoristas. Em média, 2% da categoria”, informa Valdir Sulivan, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Aplicativos do Paraná (Sitapp).

“Infelizmente usaram a manifestação mais como cunho político do que propriamente pra falar dos direitos dos trabalhadores. Isso mostra que a maioria que encabeçou a manifestação não está preocupada com a categoria e sim no seus próprios interesses”, lamenta Sulivan.

Na opinião do dirigente, “se esse pessoal realmente estivesse preocupado com os motoristas, eles nos procurariam para melhorar o que já está sendo feito, não para destruir o que  foi começado aqui no Paraná”.

Sulivan deixa convite a todos que realmente queiram ajudar a categoria. “Estamos abertos para uma conversa de melhoria, mas para quem está pensando em si próprio e querendo fazer de uma manifestação um palanque político, o Sitapp repudia a pratica. O sindicato é de todos e pra todos os trabalhadores em aplicativos”, completa.

A presidente do Sindicato dos Motoristas por Aplicativos de Santa Catarina (Simasc), Branka Dutra, também declara a baixa adesão e, para desmentir as alegações de que os sindicatos não representam os motoristas, declara: “O

Simasc vem desde a assinatura do PLC ouvindo os motoristas através dos canais abertos pelo sindicato. Na noite de ontem (25/03), realizamos uma Plenária onde também foi conversado com os motoristas e o deputado federal Pedro Uczai”, conclui.

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