OPINIÃO

O homem avulso

Por Moisés Mendes / Publicado em 17 de maio de 2022

O homem avulso

Foto: José Dias/PR

Foto: José Dias/PR

O que poderia ser o maior negócio de Bolsonaro e da família não deu certo. Não é a parceria com contrabandistas, grileiros e garimpeiros da Amazônia, até porque essa vem tendo êxito.

Também não é a sociedade com Queiroz para exploração das rachadinhas. Não é nem o esquema de fabricação e distribuição de cloroquina. Tampouco é a formação de quadrilhas para vender vacinas que nem existiam ao governo.

O maior negócio para os Bolsonaros, aquele que poderia comprovar e quem sabe perenizar a força política da família, não é nem a sociedade com o centrão, porque todos os negócios com o centrão são temporários.

O maior negócio seria a criação do Aliança pelo Brasil. Mas não deu certo. Qualquer um com meia dúzia de parceiros forma partido no Brasil. Tanto que formaram 33, a maioria no mercado da locação.

Mas Bolsonaro não conseguiu formar o seu, para ter um caixa que a família cuidaria sem a ameaça de predadores. Sem os problemas que teve com Gustavo Bebianno no PSL e que ele terá no PL.

O sujeito não conseguiu formar um partido só dele, e essa frustração vai para a conta do seu maior fracasso. Porque denuncia o quanto ele funciona como gambiarra. O bolsonarismo não tem lastro orgânico e institucional, não tem nem sede própria.

O bolsonarista fora da base dos 10% de seguidores fiéis e incondicionais é parte de um contingente gasoso. Se não fosse, Bolsonaro seria dono de um grande partido de direita e extrema direita.

O apoiador da base ampliada de Bolsonaro, que aparece como um terço do eleitorado nas pesquisas, topa seguir com o sujeito no esforço por um segundo mandato para evitar Lula. Mas se nega a dar um partido à família.

Bolsonaro é um improviso precário que desmoraliza o erro na política brasileira. Nunca antes um político em alto cargo errou tanto.

Nunca alguém foi tão cruel, tão repulsivo, tão raso e cometeu tantas barbeiragens e se manteve com uma base razoável. Pois esse é o Bolsonaro que ficou sem um partido só dele.

Bolsonaro é um homem avulso, com o respaldo precário e inconfiável desse um terço antissistema e antitudo.

Foi o líder da sabotagem da vacina contra a covid (enquanto permitia a formação das quadrilhas faz vacinas), e o povo sempre quis se imunizar.

Tentou empurrar a cloroquina como milagre, mas a maioria da população se negou a engolir o remédio que, usado sem critério, podia matar.

Apostava nas tais bancadas transversais no Congresso e acabou caindo nos braços do centrão. Tenta sabotar a urna eletrônica, e mais de 80% dos brasileiros confiam nas urnas.

Foi a Rússia, como farsante que pretendia se vender ao mundo como o líder da paz mundial e dias depois a guerra foi deflagrada. Blefa com o golpe, mas a maioria quer eleição e democracia.

Bolsonaro não sabe o que fazer com questões elementares da administração pública. Briga com governadores e prefeitos. Passeia de moto no horário do expediente. Bate recordes de gastos no cartão corporativo. Mas mantém os 30%.

É o líder do armamentismo, mas nem tiro sabe dar, por desconhecer que uma pistola só dispara depois de destravada. Mas está aí, atacando o Supremo e o TSE, recuando no dia seguinte, agredindo de novo.

Numa situação de normalidade, Bolsonaro seria um vacilão, que grita, depois se acovarda e manda cartinha ao ministro por ele agredido dias antes.

Bolsonaro não transmite certezas, não manda em ninguém no governo e só se mantém porque deu emprego aos militares e pagou ao centrão para ter apoio.

Seu governo detém o feito de ter fixado o pior salário mínimo dos últimos 20 anos e agora quer saquear o FGTS dos trabalhadores. Mas tem 30% do eleitorado.

Nunca antes um sujeito tão desprezível representou um terço da sociedade brasileira. Nunca um governante errou tanto. Nunca o Brasil teve alguém tão raso em cargo de comando, nem em funções bem abaixo da presidência da República.

Mas Bolsonaro resiste. O sujeito desmoralizou o erro na política. O conjunto dos seus erros, maldades, bobagens e agressões é insuficiente para torná-lo inviável.

Se fosse uma pessoa comum, em atividade operacional básica, em qualquer área, estaria entre os piores do grupo, seria aquele que, na hora de demitir alguém, apareceria entre os primeiros da fila de dispensáveis.

Mas o tenente Bolsonaro, que o Exército empurrou para a reserva para não condená-lo e mandá-lo embora, é o homem avulso, sem partido, sem base sólida, sem ideias e sem escrúpulos na presidência da República.

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