POLÍTICA

Papa Francisco alerta para a importância dos movimentos sociais

Publicação da Igreja Católica tem prefácio do pontífice: "são o antídoto ao populismo e caminho para a participação cidadã"
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 21 de agosto de 2019

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Foto: Vatican News/ Divulgação

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O mais recente documento da Pontifícia Comissão para a América Latina, organismo da Cúria Romana que estuda os problemas doutrinais e pastorais relativos à vida e ao desenvolvimento da Igreja no continente, traz uma mensagem do argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que é um alerta sobre a violência, a intolerância, a desorientação e apatia das massas.

A opinião do Papa Francisco no livro soa forte nesse momento em que o país ainda está sob o impacto do sequestro de um ônibus com 37 passageiros e o “abate” de um jovem por policiais na ponte Rio-Niterói – execução que apesar de ser considerada pelas autoridades de acordo com padrões vigentes de resgate, causou perplexidade devido à comemoração por parte do governador do Rio, Wilson Witzel. “Nesse estado de paralisia e desorientação, a participação política dos movimentos populares pode derrotar a política dos falsos profetas, que exploram o medo e o desespero e pregam o bem-estar egoísta e a segurança ilusória”, escreve o Papa no prefácio da obra.

Imagem: Reprodução

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Publicado pela Livraria e Editora Vaticana, o La irrupción de los Movimientos Populares: Rerum Novarum de nuestro tiempo é uma obra que inclui cinco anos de reflexão sobre o trabalho de milhares de associações que lutam por um estilo de desenvolvimento justo e inclusivo.  A obra será apresentada em setembro e ainda não está traduzida para o português. A referência a Rerum Novarum (Das Coisas Novas) é evidenciada porque o documento publicado por Leão XIII, em maio de 1891, é considerado a primeira encíclica social da Igreja Católica.

Francisco enfatiza em seu texto que tudo o que diz e que também está contido no trabalho realizado por várias pessoas que contribuíram para a elaboração do La irrupción de los Movimientos Populares: Rerum Novarum de nuestro tiempo “está em plena sintonia com a Doutrina social da Igreja e com o Magistério de meus predecessores”. O Papa manifesta ainda o seu desejo de que a publicação do livro seja uma maneira de continuar e reforçar “experiências, que antecipam com seus sonhos e com suas lutas, a urgência de um novo humanismo, para acabar com analfabetismo compassivo e eclipse progressivo da cultura e da noção de bem comum”.

 

Francisco reafirma a sua convicção de que a humanidade está enfrentando uma mudança de época caracterizada pela xenofobia, medo e o racismo: “movimentos populares podem representar uma fonte de energia moral, revitalizar nossas democracias”

Incluindo as principais discussões dos Encontros Mundiais que desde 2014 reuniram “sob as bênçãos” de Francisco milhares de representantes de Movimentos Populares em diferentes partes do continente americano, o trabalho da Pontifícia Comissão para a América Latina congrega análises de importantes acadêmicos, jornalistas, religiosos e, obviamente, de representantes dos mais variados movimentos sociais, entre eles Juan Grabois, assessor especial papal para os movimentos sociais e fundador do Encontro Mundial de Movimentos Populares.

A energia moral dos movimentos sociais

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Foto: Vatican News/ Divulgação

Foto: Vatican News/ Divulgação

Nessa obra, Francisco reafirma a sua convicção de que a humanidade está enfrentando uma mudança de época caracterizada pela xenofobia, medo e o racismo e diz que os “movimentos populares podem representar uma fonte de energia moral, revitalizar nossas democracias”.

Concretamente, na opinião do líder máximo da Igreja Católica,  em meio a uma sociedade ferida por uma economia cada vez mais distante da ética, esses movimentos sociais podem e devem atuar como um antídoto contra o populismo e mostrar políticas que busquem um senso de participação cidadã: uma consciência mais positiva do outro, que é a consequência da promoção de uma “força de nós” que se opõe à “cultura do eu”.

No encerramento de seu texto, Francisco valoriza a questão do trabalho humano como um direito sagrado que deve ser guardado em cada pessoa. O Papa, diante das consequências das teses neoliberais e neoestatais que sufocam e oprimem as pessoas em suas experiências de trabalho, clama por um “novo humanismo, que ponha fim ao analfabetismo da compaixão e ao progressivo eclipse da cultura e à noção de bem comum”.

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