POLÍTICA

Deputados de sete partidos são contra venda de ações do Banrisul

Eduardo Leite (PSDB) sofre derrota econômica e política após desvalorização das ações do banco. Deputados de sete partidos assinaram manifesto contra a venda
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 19 de setembro de 2019
Manifesto assinato por deputados de sete partidos foi lido no salão Júlio de Castilhos, da Assembleia

Foto: Marcelo Menna Barreto

Manifesto assinado por deputados de sete partidos foi lido no salão Júlio de Castilhos, da Assembleia

Foto: Marcelo Menna Barreto

Apesar de enfatizar, na entrevista coletiva em que informou seus motivos para o cancelamento da venda das ações do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), que não tratava-se de uma derrota,  o governador Eduardo Leite (PSDB) amargou no início dessa tarde, 19, outro revés. Se do ponto de vista econômico, o mandatário viu-se obrigado a recuar para que as ações do que os gaúchos consideram o “principal ativo” de seu estado fossem vendidas muito abaixo do que esperava, Leite ainda foi fortemente criticado em outra coletiva de imprensa, desta vez chamada por deputados de seis partidos, “da esquerda à direita; da situação à oposição”, conforme ressaltou um dos membros de sua própria base, o deputado Vilmar Lourenço, do PSL. Uma nota conjunta foi divulgada pelos parlamentares, também com a assinatura do Solidariedade.

Em coletiva, governador anunciou desistência da venda de ações do banco

Foto: Felipe Dalla Valle

Em coletiva, governador anunciou desistência da venda de ações do banco

Foto: Felipe Dalla Valle

Assumindo a condição informal de “mestres de cerimônias”, o deputado Sebastião Melo (MDB) disse ser contrário à judicialização do que pode ser resolvido na política e entende que o manifesto segue no sentido de chamar o governo para um verdadeiro diálogo. Melo lembrou que a Comissão de Economia da Assembleia Legislativa gaúcha realizou uma audiência pública para discutir o tema e o governo do estado não se fez presente.

Presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul, o deputado Zé Nunes (PT) ressaltou que o ato no salão Júlio de Castilhos, da ALRS, foi uma relevante demonstração da união de forças que, mesmo antagônicas, estão se unindo pelo bem do Rio Grande do Sul. “É uma reflexão sobre o processo de vendas das ações do Banrisul. Todos sabemos da importância dessa ‘ferramenta’ em cada canto do estado, para o seu desenvolvimento”, disse.

O documento lido pelo deputado Fábio Ostermann (Novo), segundo a deputada Luciana Genro (PSol) é uma prova de maturidade. “Embora um abismo nos separa, essa é uma ação pontual para deixar claro que a proposta (do governo) não é um bom negócio para o Rio Grande do Sul”, declara.

Juliana Brizola, na ocasião, lembrou a “luta histórica do PDT” em defesa do Banrisul. Para a deputada, a nota divulgada reflete que “mesmo aqueles que querem privatizar o Banrisul, querem fazer uma boa privatização”, deixando claro que essa não é a posição do PDT.

Vende, não vende; privatiza, não privatiza

Melo (MDB) reclamou da ausência de Leite na audiência pública sobre o banco

Marcelo Menna Barreto

Melo (MDB) reclamou da ausência de Leite na audiência pública sobre o banco

Marcelo Menna Barreto

Concretamente, três visões hoje disputam o futuro do banco estatal. À esquerda, uma postura em defesa de uma instituição bancaria pública, totalmente contrária à venda de ações e a privatização. À direita, trabalhando para impedir a venda das ações, com o objetivo de vender o banco por inteiro. A posição do governo, de vender parte das ações ordinárias, ficando com 51% delas para manter o controle acionário do estado, acabou provando ser ineficaz, pois, conforme se verificou, os movimentos especulativos do mercado derrubaram as ações do Banrisul.

Vilmar Lopurenço (PSL): críticas da esquerda à direita, da situação à oposição

Foto: Marcelo Menna Barreto

Vilmar Lopurenço (PSL): críticas da esquerda à direita, da situação à oposição

Foto: Marcelo Menna Barreto

Na semana passada, o banco anunciou venda de 96.323.426 de suas ações ordinárias somente para investidores profissionais. Na quinta-feira, 12, a cotação de fechamento era de R$ 23,18 por ação, em uma a oferta de R$ 2,232 bilhões. Ontem, esses valores chegaram a cair para R$ 18,50.

Vendido aos poucos

Na realidade, o governo do Rio Grande do Sul em 2018 já vendeu ações do seu banco e o mesmo ocorreu no governo tucano de Yeda Crusius (2007-2011). Em um estudo, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que os governos anteriores fizeram um mau negócio, transparecendo que o resultado obtido com as vendas empatou ou foi menor do que o lucro que o estado deixou de receber ao longo desses anos.

 

Nunes (PT): defesa do Banrisul uniu forças antagônicas

Foto: Marcelo Menna Barreto

Nunes (PT): defesa do Banrisul uniu forças antagônicas

Foto: Marcelo Menna Barreto

Em reunião realizada em fevereiro passado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, o governador Eduardo Leite disse estar disposto a vender parte das ações do Banrisul e também da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) para assinar o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) com a União. Ele afirma desde a campanha eleitoral que não venderá o banco estatal. Na entrevista de hoje, voltou a dizer que “não há qualquer disposição” neste sentido.

BANCÁRIOS – Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), Everton Gimenis, “mesmo com as contradições, é importante o movimento” verificado na Assembleia Legislativa. Gimenis ressalva, no entanto: “Sabemos que parte dos deputados que assinaram o documento são aliados circunstanciais e com interesses distintos dos nossos”. O dirigente registra que muitos acham que esse é o melhor momento para vender o banco” e, por isso, são contrários à venda das ações agora.

Para o presidente do SindBancários, a posição do governo está equivocada e a dos deputados privatistas também. “Defendemos o Banrisul Público. Mas nesse momento, se a unidade desses deputados ajudar a impedir o desmonte e o sucateamento do banco através da venda das ações, ela é importante”, conclui. Em nota pública, SindBancários e Fetrafi-RS criticaram o ímpeto privatista do governo e defenderam o Banrisul e Badesul públicos.

 

Confira a íntegra da nota dos deputados:

MANIFESTO

Deputados são contra venda das ações do Banrisul

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul anunciou, no dia 12 de junho, o interesse de vender ações do Banrisul. Para debater o assunto, a Comissão de Economia da Assembleia Legislativa realizou audiência pública, mas nenhum representante do Executivo compareceu ao encontro. Em 10 de setembro, o Banrisul formalizou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) oferta de 96.323.426 ações ordinárias – até o limite do controle acionário. Na manhã desta quinta-feira, 19, um comunicado oficial do Banco informou sobre o cancelamento da operação.

Diante do grave prejuízo ao patrimônio do povo gaúcho e considerando que:

1)            Com a venda de pelo menos 71,4 milhões de ações ordinárias do Banco (inicialmente fora anunciado 96,3 milhões) por um preço muito baixo o governo do Estado estaria dilapidando patrimônio público, com perdas que, ao que tudo indica seriam bilionárias; 

2)            Ao vender patrimônio para pagar despesas correntes, o governo do Estado abriria mão de uma fonte de renda permanente que, em 2018, foi de cerca de R$ 300 milhões – valor que poderá se repetir em 2019;

3)            O Executivo não deu transparência ao processo, o que não se justifica, uma vez que, após anunciado o negócio, não havia necessidade de manter em sigilo a operação financeira da venda das ações;

4)            O Executivo não mandou representantes na Audiência Pública da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e Turismo, no dia 4 de setembro, que buscava tirar dúvidas sobre a questão, ignorando a preocupação do Parlamento com relação à venda.

Ciente dos prejuízos e da irreversibilidade do dano aos cofres públicos, os deputados estaduais que abaixo subscrevem este documento, reconhecendo a decisão correta do Executivo pelo cancelamento da operação, apelam para que seja revista a estratégia da venda de ações do Banrisul.

O documento é subscrito por parlamentares do PT, MDB, Novo, PSL, PSol, PDT e SD.

Participaram da apresentação do manifesto: Sebastião Mello (MDB), Luciana Genro (PSol), Giuseppe Riesgo (Novo), Fábio Ostermann (Novo), Neri Carteiro (SD), Tenente Coronel Zucco (PSL), Vilmar Lourenço (PSL), Juliana Brizola (PDT), Zé Nunes (PT), Pepe Vargas (PT), Edegar Pretto (PT), Sofia Cavedon (PT), Valdeci Oliveira (PT) e Fernando Marroni (PT). Além destes, subscrevem o documento os deputados Luiz Fernando Mainardi (PT) e Jeferson Fernandes (PT).

Comentários