POLÍTICA

Eleições na Bolívia, na Argentina e no Uruguai em fase de definição

Pleitos para presidente nos países vizinhos apresentam três situações distintas: continuidade, mudança e incerteza
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 18 de outubro de 2019

Imagem: Reprodução

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A Bolívia realiza nesse próximo domingo, 20, eleições gerais para a presidência da República e a renovação do seu legislativo. Uma semana depois, dia 27, Argentina e Uruguai também realizarão pleitos similares. Se, no entanto, o mandatário Evo Morales nada de braçadas para o seu quarto mandato consecutivo, o que é permitido na Constituição do país andino, o mesmo não ocorre na Argentina, onde Maurício Macri perdeu a confiança de seus hermanos por promessas feitas e não cumpridas quando assumiu a presidência em dezembro de 2015. No Uruguai, apesar do candidato da Frente Ampla, que governa o país há 15 anos, liderar as pesquisas, o cenário continua incerto.

Se na Bolívia, há seis anos consecutivos o socialista Morales tem entregado o maior crescimento econômico da América Latina, 12 anos de estabilidade econômica e expandindo sua economia, o liberal Macri falhou feio.

Em sua posse, o presidente argentino disse que iria frear a inflação, mas viu os índices dispararem. Prometeu com firmeza que iria atrair ao país investimentos externos, mas, segundo especialistas, só conseguiu em setores específicos, não de maneira geral.

Foto: Divulgação

Alberto Fernández (esq) fez  Macri (dir.) amargar uma ampla derrota nas primárias, em agosto

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O resultado, além da Argentina buscar socorro no Fundo Monetário Internacional (FMI), o que remonta momentos trágicos na lembrança de sua população, foi que outra promessa de Macri – pobreza zero – também não saísse das palavras e agravasse a situação do país. De fato, em um ano o índice de pobreza na Argentina subiu cerca de 30%, batendo recorde no governo do liberal que tem o apoio explícito do presidente do Brasil Jair Bolsonaro. Em setembro, a pobreza no país do Prata foi a 35%.

Com mais de 15 milhões em situação de pobreza, destas 7,7% (3,3 milhões) consideradas indigentes segundo dados do Instituto Nacional de Estatística do país (Indec), Macri vê seu plano de reeleição naufragar e tenta culpar a possibilidade de retorno dos peronistas ao poder como o responsável por sua derrocada, mesmo após quase quatro anos no poder.

Concretamente, o cenário construído por Macri (desvalorização das aposentadorias, queda dos salários reais, desemprego e crescimento da informalidade), o fez amargar uma ampla derrota para o presidenciável Alberto Fernández, cuja candidata a vice é Cristina Kirchner, nas primárias argentinas que ocorreram em 11 de agosto passado.

Evo segue em lua de mel com a população

Foto: Presidência da Bolívia/Reprodução

Foto: Presidência da Bolívia/Reprodução

Apesar de estar há 13 anos no poder, Evo Morales aparentemente continua em uma espécie de lua de mel com o povo boliviano. Pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Ipsos prevê uma possível vitória em primeiro turno, com cerca de 40% dos votos, para aquele que foi o primeiro indígena a chegar à presidência da República em um país majoritariamente de origem indígena. Mesmo em um caso de um eventual segundo turno, Morales ficaria com 47% dos votos, contra 39% do ex-presidente Carlos Mesa, do partido Comunidad Ciudadana.

Na disputa pela presidência boliviana ainda concorrem um pastor evangélico coreano-boliviano, Chi Hyun Chung, e o ex-senador Óscar Ortiz.

Foto: Reprodução/Twitter

Eleitores bolivianos associam Mesa a Macri

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Mesmo perdendo um pouco de sua base por causa de disputas internas no movimento indígena, Morales é considerado um ótimo gestor não só pela população de seu país, mas até mesmo por adversários internacionais ideológicos.

O próprio FMI, conhecido pela implementação de medidas de austeridade neoliberais, como no caso atual argentino, fala que o crescimento da Bolívia é “uma das taxas mais altas da região” e projetou um crescimento de 4,5 pontos nesse ano, um ponto a mais do registrado em dezembro de 2018, 4,4% em 2018.

O FMI ainda registra que o produto interno bruto (PIB) nacional boliviano aumentou 2,9% em 2018 e a inflação caiu para 1,3%, enquanto o desemprego ficou em torno de 4,1%.
Em 2018, a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) informou que a Bolívia passa por 12 anos consecutivos de estabilidade econômica e mantêm sua expansão. Segundo o organismo da ONU, o crescimento boliviano é um recorde para o país andino.
Para a ONU, a economia liderada por Morales está bem à frente da média da América Latina e do Caribe, que é de 1,2%. Para se ter uma comparação, o PIB brasileiro cresceu 1,1% em 2018.
Bolívia segue contramão
Em uma decisão na contramão da tendência mundial, a Bolívia de Evo Morales em 2010 reduziu a idade de aposentadoria, possibilitando aposentadorias integrais para seu povo a partir dos 58 anos de idade. Os mineiros do país, que somam 70 mil trabalhadores, podem se aposentar dois anos antes. Além disso, Morales nacionalizou os fundos de pensões, que atuavam em seu país seguindo o exemplo do sistema de capitalização chileno.

Segundo turno incerto no Uruguai

O ex-prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez é o representante do governista Frente Ampla

Foto: Reprodução

O ex-prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez é o representante  governista da Frente Ampla

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Quando encerrar o mandato de Tabaré Vázquez na presidência uruguaia, a Frente Ampla, de esquerda, completará 15 anos no poder, iniciados com o carismático Pepe Mujica. Apesar de liderar as pesquisas, o candidato da situação, Daniel Martínez, ex-prefeito de Montevideo, nenhuma pesquisa lhe dá previsão de vitória em primeiro turno e apontam para um novo enfrentamento em novembro com a centro-direita.

 

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